Uma aventura para recuperar tudo aquilo que perdemos ou esquecemos durante a vida

Dirigido por Cris D’Amato e com roteiro de Renata Klein, “Viva a Vida!” se consolida como um road movie brasileiro que equilibra humor leve e reflexões profundas sobre família, pertencimento e reinvenção.

A trama acompanha Jéssica (Thati Lopes), uma jovem órfã criada na solidão do Rio de Janeiro, que descobre um medalhão ligado ao passado de sua mãe. Assim, esse objeto a leva a Gabriel (Rodrigo Simas), um primo distante, com quem parte para Israel em busca de respostas sobre suas raízes. Lá, encontram Ben (Jonas Bloch), avô de Jéssica, e mergulham em uma jornada caótica para encontrar Hava (Regina Braga), esposa de Ben, que desapareceu após confrontá-lo sobre a perda da essência em seu casamento de 50 anos. 

Crítica | Viva a Vida!
Imagem: Elo Studios

A narrativa alterna entre a aventura dos jovens e os conflitos do casal idoso, explorando temas como culpa, perdão e a busca por autoconhecimento. Jéssica, inicialmente motivada por interesse financeiro, revela camadas de vulnerabilidade à medida que reconstrói laços familiares. Já Gabriel, um fotógrafo em crise conjugal, evolui de oportunista a aliado leal, flertando com a protagonista em meio a descobertas e humor ácido. A química entre Thati Lopes e Rodrigo Simas sustenta a trama, enquanto Regina Braga e Jonas Bloch roubam a cena como Hava e Ben, entregando performances que misturam ternura e tensão. Braga, em especial, brilha como uma mulher que recusa a estagnação, exigindo que o marido reencontre o espírito aventureiro que os uniu no passado. 

O filme não esconde suas raízes brasileiras, mesmo ao migrar para cenários israelenses, mantém piadas contextualizadas, sátiras do cotidiano e uma crítica sutil ao imperialismo cultural. O humor funciona como catarse, aliviando temas densos como abandono e luto, enquanto diálogos afiados revelam as contradições das classes sociais. Entretanto, a obra peca em ritmo irregular. Os primeiros 20 minutos, acelerados no Rio, contrastam com sequências em Israel que, embora visualmente ricas, subutilizam o cenário como pano de fundo. Além disso, flashbacks mal posicionados sobre o passado de Hava e Ben geram confusão, diluindo o impacto emocional de revelações-chave

Crítica | Viva a Vida!
Imagem: Elo Studios

Tecnicamente, a direção de D’Amato mantém o tom leve mesmo em cenas dramáticas, reforçando sua marca autoral. A fotografia aproveita os contrastes entre tradição e modernidade em Israel, enquanto a trilha sonora complementa a atmosfera sem roubar atenção. O grande mérito, porém, está na mensagem, “Viva a Vida!” celebra a maturidade como fase de reinvenção, critica a obsessão por heranças materiais e enaltece o cinema como espaço de resistência cultural. 

O filme “Viva a Vida!” não busca grandes pretensões narrativas, apostando em uma história simples. Em alguns momentos, a construção emocional parece ser deixada de lado, mas o humor se torna o grande diferencial. A comédia é tão bem executada que transforma essa simplicidade em um ponto admirável. O longa entrega uma comédia extremamente nacional, repleta de piadas e gags que ressoam especialmente com o público brasileiro.

Crítica | Viva a Vida!
Imagem: Elo Studios

A comédia permite que o brasileiro se veja na tela de forma espontânea. Seja por meio de figuras caricatas, retratos das classes sociais ou sátiras do cotidiano. “Viva a Vida!” explora esses elementos com habilidade, transformando o riso em uma catarse coletiva. Porém, o filme cria um espaço de identificação genuína, onde o público reconhece seus sotaques, costumes e vivências.

Mesmo ao se deslocar para um novo cenário cultural, o de Israel, “Viva a Vida!” mantém sua essência brasileira. Enquanto o imperialismo cultural norte-americano tenta padronizar narrativas globais, a comédia nacional continua sendo uma forma de resistência e reafirmação identitária. O longa prova que o humor pode ser uma poderosa ferramenta para conectar o público à sua própria cultura, reafirmando a singularidade do cinema brasileiro.