Neste dia 31 de outubro, comemora-se nacionalmente o Dia do Saci, uma data voltada a valorização do folclore, lendas e, principalmente, a própria cultura brasileira em suas mais diversas camadas. Contudo, o dia de comemoração pode trazer algumas dúvidas, tais como: por que justamente no dia 31 de outubro? Ou então, por que o Saci é a figura celebrada? Quais as importâncias desta lenda e como ela reflete em nossa cultura atual?

Por trás do dia 31 de Outubro

Dentre tantas lendas do folclore brasileiro, uma das principais é a do Saci-perere. Também conhecido apenas como Saci, a criatura da floresta que compartilha uma grande importância para a cultura nacional. Mas dentre tantos personagens, por que logo o Saci?

Bem, para responder a essa pergunta, deve-se ter em mente de onde se surgiu a ideia para o projeto de lei do Dia do Saci. Segundo o projeto de Lei n°2.479-A, de 2003 – a qual instituiu a data -, a ideia do projeto partiu do grupo SOSACI (Sociedade dos Observadores de Saci). O grupo compartilha da paixão pela figura lendária, ao mesmo tempo que promove a divulgação da lenda do guardião das matas e de outras figuras (como Curupira e Boitatá).

Desta forma, a ideia ganhou forma e ofereceu um data anual para resgatar a cultura nacional e as próprias lendas do folclore brasileiro que vinha a sendo cada vez mais esquecido ao longo do tempo ou então a origem de tais lendas. Assim, por exemplo, o Saci teve sua origem mesclada de várias histórias, e até mesmo de influência da cultura indígena e africana.

Saci-Pererê
Reprodução/Vitor T.

A origem da lenda

O nosso folclore é carregado por uma grande diversidade e muitas riquezas, e as lendas que fazem parte dele são um grande destaque. Uma das mais conhecidas é a do Saci-pererê, uma pessoa negra, pequena e com uma perna que habita as florestas e é conhecido por suas diversas travessuras. A lenda do Saci surgiu no Sul do Brasil, sendo influenciado por elementos da cultura africana e indígena, e ficou conhecido nacionalmente por influência de Monteiro Lobato.

A lenda existe desde o fim dos tempos coloniais e surgiu em tribos indígenas do sul do país. O termo Saci vem do tupi sa’si, que se relaciona com um pássaro, que é conhecido pelos nomes “Saci”, “Matimpererê” ou “Martim-pererê”, que em tupi ficaria matintape’re.

De maneira inicial, o Saci era retratado como um garoto negro e endiabrado, mas que possuía duas pernas. Sim, no começo o Saci tinha as duas pernas. Então com a influência africana, o personagem perdeu uma das pernas lutando capoeira e passou a ter o hábito de fumar cachimbo.

Já seu gorro vermelho veio do folclore português, mais precisamente do norte de Portugal. O gorro era utilizado pelo lendário Trasgo e a criatura possuía poderes sobrenaturais. Entretanto, a lenda do Saci-pererê é contada pelo Brasil inteiro e, assim, a lenda pode ter algumas alterações, dependendo do local. Do mesmo modo que ele tem nomes diferentes, em certos estados, por exemplo: Saci-Cererê, Matimpererê, Matita Perê, Saci-Saçurá e Saci-Trique.

As travessuras e o Guardião das Ervas e Plantas Medicinais

Então, o Saci é um personagem que se diverte fazendo brincadeiras com os animais e com as pessoas. De acordo com as diversas histórias sobre o menino, as suas principais travessuras são: fazer tranças no rabo dos animais durante a noite, esconder objetos dos humanos, assobiar para assustar os viajantes, trocar o recipiente de sal pelo de açúcar e distrair as cozinheiras para que elas queimem a comida (haha). 

Apesar de todas as travessuras que o menino faz, ele também tem uma função muito importante. O Saci-Pererê é o guardião das ervas e das plantas medicinais. Dessa forma, ele confunde as pessoas que tentam pegá-las sem autorização. Além disso, ele também conhece várias técnicas de preparação e como utilizar as plantas para fins medicinais. 

A lenda do Saci também explica como pode-se capturar o menino travesso. Basta apenas arremessar uma peneira nos redemoinhos de vento, portanto, após capturá-lo é necessário retirar o gorro do Saci e prendê-lo em uma garrafa.

Saci nas mídias

Para além da lenda e das histórias, o Saci também é uma figura carimbada nas produções nacionais. Personagem conhecido por grande parte do público brasileiro, já estrelou algumas produções audiovisuais, com suas características marcantes e que o fazem um dos principais personagens do folclore brasileiro.

Sítio do PicaPau Amarelo

Adaptação da trama de Monteiro Lobato, também foi retratado na produção da Rede Globo de 2001. Izak Dahora é quem interpreta o personagem levado e repleto de brincadeiras para com os protagonistas. O Sítio do Picapau Amarelo tornou-se um sucesso marcante na TV brasileira e, até hoje, atrai uma dezena de fãs nostálgicos com as manhãs da Globo.

Saci no Sítio do PicaPau Amarelo
Divulgação/Sítio do PicaPau Amarelo

Cidade Invisível

Um sucesso de público, a produção da Netflix que aborda uma variedade de lendas brasileiras também retratou a lenda no streaming. Na produção, é retratado como Isac, anagrama do nome da lenda, uma entidade com diferentes habilidades. Na trama, Wesley Guimarães interpreta o personagem que marca um dos mistérios da primeira temporada de Cidade Invisível.

Cidade Invisível
Reprodução/Netflix

O Saci

Indo além das produções em que completa uma gama de personagens, em 1953 Rodolfo Nanni dirigiu um longa que retrata o personagem e suas múltiplas facetas. Portanto, o filme também resgata alguns personagens do Sítio do Picapau Amarelo. O filme foi intitulado o primeiro filme infanto-juvenil brasileiro.

Sacis

Por fim, neste Dia do Saci, o Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo, preparou uma pré-estreia do filme Sacis, que, além de contar a historia do personagem, homenageia o cineasta, roteirista e produtor Rodolfo Nanni. A direção é de Bruno Bennec.

Em suma, o Dia do Saci tornou-se uma data de grande importância para a cultura brasileira, pois deixou de lado a “americanização” do Halloween e trouxe ao Brasil mais uma data para a valorização do folclore brasileiro.