A primeira obra póstuma da jornalista e escritora Joan Didion já tem nome e data de lançamento. O livro “Dear John” será publicado no mercado de língua inglesa em 22 de abril pela editora Knopf. No Brasil, as obras de Didion são publicadas pela editora HarperCollins, que ainda não divulgou informações sobre o lançamento nacional.

Este é o primeiro título com textos inéditos da autora desde 2011, quando publicou “Noites Azuis”. As escritas que deram origem a “Dear John” vêm de um diário secreto de Didion, achado em na casa da jornalista pelos curadores literários que cuidam de sua obra. Nele, ela divagava e relatava sobre as sessões que tinha com seu psiquiatra, incluindo discussões sobre sua infância, problemas com álcool, depressão e sua relação com a filha adotiva, Quintana.

O nome da obra vem por conta das anotações de Joan no diário, que eram todas endereçadas ao marido, John Gregory Dunne, falecido em 2003. Seus relatos começam em 1999, organizados por ela mesma em ordem cronológica, conforme os encontros que tinha com o psiquiatra.

De acordo com a editora britânica 4th Estate, as conversas que Didion tinha com o médico naquela época foram essenciais para o entendimento da jornalista sobre temas que se traduziriam em suas obras futuras, como “De Onde Eu Vim”, “O Ano do Pensamento Mágico” e “Noites Azuis”.

“Dear John” está disponível para pré-venda na Amazon internacional. Este livro já é o número 1 na categoria Author Biographies, mesmo antes de seu lançamento.

A primeira obra póstuma da jornalista e escritora Joan Didion será lançada em abril.
Créditos: Reprodução

A voz de uma geração

“Contamos histórias para poder viver”. A frase que dá início ao ensaio “O Álbum Branco” é um dos trechos mais populares da escrita de Didion. E foi exatamente isso que a escritora fez ao longo de sua trajetória: contou histórias para compreender e dar sentido à vida – dela mesma e de terceiros.

Joan Didion iniciou sua atuação como jornalista na década de 1950. Seu primeiro texto foi publicado na revista Vogue, após ela vencer um concurso de escrita promovido pela própria publicação. Logo, sua carreira ganhou fôlego. Ao longo dos anos, ela escreveu ensaios para importantes veículos de comunicação. Entre eles, destacam-se os jornais The Saturday Evening Post e The New Yorker, além das revistas Life, National Review, Esquire e The New York Review of Books.

Em suas produções, Didion se destacou por valorizar a descrição minuciosa de espaços, contextos e sentimentos. Em vez de abrir margem para interpretações subjetivas, ela optava por retratar os acontecimentos tal como os observava. Assim, ao longo de sua obra, ela capturou a essência dos Estados Unidos e da contracultura das décadas de 1960 e 1970, oferecendo uma voz única e crítica diante de temas políticos, culturais e sociais da época.

Ela marcou uma nova forma de fazer jornalismo ao quebrar o mito da imparcialidade e adotar um estilo de escrita literária em suas matérias. Assim como os escritores Tom Wolfe, Gay Talese e Truman Capote, Joan é considerada uma das precursoras do New Journalism, embora nunca tenha demonstrado laços com o movimento.

Sua escrita é descrita como a voz de sua geração. Em uma das últimas entrevistas que Didion deu em vida, a revista Time indagou o que esta definição significava para ela. Sua resposta foi breve. “Não tenho a menor ideia”, disse a autora.

A primeira obra póstuma da jornalista e escritora Joan Didion será lançada em abril.
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Livros para ter na cabeceira

Ao longo de sua carreira literária, Didion escreveu cinco romances e doze livros de não-ficção. Dentre essas obras, algumas são coletâneas de ensaios que ela havia produzido anteriormente para veículos de comunicação, enquanto outras reúnem textos inéditos, escritos especialmente para publicação em livro.

Em especial, suas coleções “Rastejando Até Belém” e “O Álbum Branco” foram fundamentais para consolidar sua reputação. Por meio dessas obras, ela se tornou amplamente reconhecida não apenas por suas incisivas observações políticas, mas também por sua técnica de reportagem singular, que habilmente mescla reflexões pessoais com análises sociais profundas.

Em seus trabalhos, um tema muito recorrente é sobre a vida na Califórnia. Afinal, a escritora nasceu e cresceu no estado, no município de Sacramento. Joan discute, com afinco, mitos da costa oeste americana, debatendo sobre a “capital paranoica do mundo”, a vida e hábitos em Hollywood e sua relação com o local onde teve sua criação em vários de seus textos, mas principalmente no livro de memórias “De Onde Eu Vim”.

“O Ano do Pensamento Mágico” é sua obra mais conhecida. Nela, ela detalha o período de um ano que seguiu a morte de seu marido, durante o qual sua filha, Quintana, passou por um estado grave de saúde. Ao tratar de um momento tão pessoal de sua vida, Joan conversa sobre temas universais: luto, perda e amor. A obra recebeu o prêmio National Book Award na categoria de não-ficção wm 2005.

Enquanto ainda estava na divulgação de “O Ano do Pensamento Mágico”, Didion perdeu sua filha, que faleceu por complicações de pancreatite aguda. A próxima obra da autora também trata de temas de luto e perda, mas agora sob uma perspectiva completamente diferente. O livro “Noites Azuis”, lançado em 2011, foi sua última publicação de textos originais.

Sobre Joan Didion

Joan Didion nasceu em Sacramento, Califórnia, em 1934. Filha de um pai que trabalhava no Corpo Aéreo do Exército Americano, ela não teve uma educação tradicional em seus anos primários por conta das contantes mudanças da família para acompanhar o emprego do patriarca.

Joan se recorda de escrever e fazer anotações em seus cadernos desde que tinha cinco anos. Porém, só começou a se enxergar como uma escritora bem após ter seus textos publicados. A escrita sempre esteve presente em sua vida e ela se formou em Inglês pela Universidade da Califórina em Berkeley em 1956.

Após sua graduação, Didion iniciou sua carreira como jornalista trabalhando na revista Vogue. Ela viveu sua vida entre a Califórnia e Nova York. Se casou com o também escritor John Gregory Dunne em 1964 e em 1966 o casal adotou a filha Quintana.

Em sua carreira, ela Joan Didion recebeu vários prêmios, incluindo o National Book Award, a Medalha Nacional de Artes e Humanidades e a Medalha de Belles Lettres.

Joan faleceu em 13 de dezembro de 2021, aos 87 anos, em Manhattan, Nova York. Sua escrita segue impactando e conquistando leitores até hoje.