Durante os anos 2000, Digimon era uma febre mundial e não demoraria para que alguns de seus filmes chegassem ao ocidente. Então, no dia 06 de outubro de 2000 chegava Digimon: O Filme, porém esse filme não é apenas um filme e tem muitos problemas. E é sobre isso, que falaremos aqui hoje.

O tão famoso Digimon: O Filme é uma péssima mistura de três filmes isolados, na tentativa de criar um longo filme e com uma única história. A mistura ocorre quando eles juntam Digimon Adventure Gekijouban, um filme que serve de episódio 0 para o anime; Digimon Adventure: O Nosso War Game!, um filme que acontece após o anime; e por fim Digimon Adventure 02: Digimon Hurricane Touchdown! Supreme Evolution! The Golden Digimentals, um filme de Digimon Adventure 02. Em algumas análises pela internet dizem que este filme é uma tristeza para os fãs da franquia e uma bagunça gigantesca para quem não conhece.

Imagem: Toei Animation

A tentativa de misturar um filme que serve como algo instigante para acompanhar o anime, com um para atiçar a nostalgia dos fãs, meio que não funciona e acaba saindo esse desastre. Vamos a um breve resumo de Digimon: O Filme, na primeira parte o Digimon da turma luta contra com um Digimon malvado, que surgiu do nada. Na segunda parte os Digimon da turma lutam contra outro Digimon malvado, que também surgiu do nada. Porém, na terceira parte eles falam que era o mesmo Digimon malvado, só que agora reencarnado e que voltou, mais uma vez, para enfrentar a nova turma. Mas, talvez se olharmos cada parte separadamente, as coisas fiquem melhor, mas só talvez.

Primeira parte: 08 anos atrás

Imagem: Toei Animation

Bom, vamos do começo, nessa primeira parte vemos o filme utilizar o episódio 0 de Digimon Adventure, Digimon Adventure Gekijouban. Este filme foi exibido na Feira de Anime Toei da Primavera de 1999, antes da estreia oficial do anime. Além disso, o objetivo do filme era instigar as pessoas irem assistir o anime, que estrearia no dia seguinte do evento. Aqui conhecemos todos os Digiescolhidos da série e o seu primeiro contato com Digimon.

Após um Digiovo sair do computador, ele racha e de dentro dele sai um Digimon, o Botamon, em seguida ele evolui para o Koromon. Ele fica responsável por explicar o que é ser um Digimon, porém, por alguma razão inexplicada, ele acaba evoluindo para um Agumon gigante e que fica agindo como um monstro pela cidade. Mas, toda essa ambientação acaba se perdendo na versão americana do filme. Onde, sem nenhuma razão lógica, inserem a Hikari do futuro/presente narrando as cenas sem diálogos.

Imagem: Toei Animation

Além das piadas e diálogos que fazem pouco sentido, Hikari explica que na mesma noite em que eles recebem o Digiovo deles, outra criança também recebeu. E aqui, entra as tentativas de amarrar as histórias dos três filmes, onde Wallace, um Digiescolhido do outro lado do planeta, recebeu dois Digimon gêmeos.

A parte mais legal e interessante da versão japonesa também estragada nesse filme. Na batalha entre o Greymon, um tanto mais monstruoso que o anime, e o Parrotmon, a versão americana coloca diálogos para os dois monstros. Novamente, o episódio 0 faz todo esse mistério sobre as crianças e o clima da série, igual as crianças não precisamos saber nada ainda sobre os Digimon. E eles são apenas monstros legais que destroem a cidade enquanto brigam, tal qual os kaijuu de tokusatsu.

E claro, não poderíamos esquecer das clássicas censuras ocidentais que ocorrem, mas a pior parte é que tiraram a trilha sonora da cena do apito, para colocar a abertura de Digimon. No fim, colocam o nome do Wallace no meio para manter a história. E aqui acaba o primeiro filme, de 20 minutos totais, a versão americana utiliza apenas 14 minutos.

Segunda parte: 04 anos atrás

Imagem: Toei Animation

Dos 40 minutos totais do filme, apenas uns 30 minutos são utilizados, o que não é ruim. Porém, cortam algumas coisas que daria para linkar com o filme anterior. O filme tem um início bem tranquilo, no qual Hikari vai a festa de aniversário de uma amiga, enquanto Taichi tenta mandar um e-mail de desculpas para Sora, por causa de um chapéu.

Kojiro é quem percebe que um novo Digiovo rachou na internet, nascendo um Digimon que está consumindo diversos dados de sites para poder crescer. E assim, ele vai até a casa de Taichi buscando ajuda para derrotar o Digimon e novamente, temos o filme colocando Wallace na história. Nessa parte do filme, ele é o garoto dos Estados Unidos que alertou sobre o Digiovo.

O visual que utilizam para a internet nesse filme é bastante interessante. Tanto que o diretor, Mamoru Hosoda, utilizaria esse mesmo visual em dois futuros filmes seus, mas Summer Wars é o que mais lembra o filme de Digimon. Aqui a versão americana ganha pontos, já que Infermon causa todo esse caos, por estar procurando o seu programador que é Wallace. Na versão japonesa, ele é apenas um vírus que se espalha nos aparelhos eletrônicos.

Perto do final do filme Yamato e Takeru aparecem para ajudar na luta, agora o Digimon alcançou sua forma final, Diablomon. E agora seu objetivo será lançar dois mísseis, um para impedir as crianças de atrapalhar seus planos e outro no Colorado, onde Wallace mora. Na versão japonesa é apenas um, pelo primeiro motivo, mas surge um segundo rastro do nada e decidiram utilizar para amarrar as histórias.

Imagem: Toei Animation

A parte mais icônica do filme surge nos minutos finais, onde os e-mails que Kojiro vem recebendo, está deixando WarGreymon e MetalGarurumon lentos. E não existe nenhuma explicação para isso, já que o computador que está recebendo os e-mails, não é o mesmo que acontece a luta. Quando os Digimon perdem, depois do computador do Taichi dar tela azul, vem aquela cena emocionante da formado Omegamon. Os comentários daqueles que acompanhavam a luta dera a força necessária para que os dois se fundissem, na sua mais poderosa forma. Depois das cenas de luta e o Diablomon derrotado, vem a última tentativa de união dos filmes, onde ele sussurra o nome do Wallace.

Os problemas do filme anterior permanecem neste filme, as narrações sem sentido de Hikari, troca de trilha sonora climáticas por músicas pop da época e o bullying com a mãe do Taichi. Sério, a dublagem do filme trata ela como se fosse uma incompetente. Mas, a cena principal é a que mais sofre com isso, colocar a música “Let’s Kick It Up” só estragou o clima da cena.

Parte Final: O presente

Imagem: Toei Animation

Bom, depois de tudo que passamos aqui seria a parte onde tudo faria sentido, teoricamente sim, porém as coisas só pioram. De 01h e 2 minutos totais de filme, apenas 28 minutos são utilizados, o que eram dois mini filmes japoneses viraram um pequeno final, para essa enorme bagunça. Todo o esforço gasto de ligar a história Wallace aos outros filmes chega agora e a maior parte dela é cortada do filme.

Na linha do tempo, que o filme nos força acreditar, esse é o presente e a Hikari, a narradora, estava contando tudo, para entendermos o que virá agora. Como eles optaram por não usar metade do filme, agora eles tinham que amarrar todas as pontas soltas que ficaram das primeiras partes. A história desse filme é bem diferente da versão japonesa.

Na história vemos Takeru e Hikari nos Estados Unidos, passeando ou indo num encontro, não explicam muito bem isso. Porém, essa cena no filme japonês já é uma cena de clímax, pois nesse momento Mimi foi sequestrada pelo mesmo vento que tirou Kokomon de Wallace, quando criança. E o filme não deixa a gente esquecer isso com o Wendigomon repetindo, para Wallace, retorna para o começo e variações dessa frase.

08 anos antes quando Wallace ganhou os Digimon gêmeos, ele tentou produzir um terceiro, mas ele acabou sendo corrompido por um vírus. E assim, acabou se tornando o Diablomon, do filme anterior, depois de ser derrotado, os restos do vírus sequestraram o Kokomon e infectaram, para que pudessem vir atrás do seu programador. Já na versão japonesa, o Kokomon some nesse vento que nunca é explicado e volta anos depois procurando Wallace.

Imagem: Toei Animation

Tentando retornar para a época em que eles eram amigos. Aqui a evolução malvada é explicada pelos sentimentos de abandono, que Kokomon sentiu quando se separou de Wallace. E que na realidade, não é muito melhor que a versão americana. Sendo assim, essa a primeira metade do filme no Japão.

A segunda metade consegue ser um pouco pior que a primeira, com um monte de cenas de lutas e uma solução extremamente anticlimática. Depois de atravessarem todo os Estados Unidos, para chegar no campo florido do início, que o Kokomon tanto falava, as crianças enfrentam as novas evoluções do vilão, Antylamon e Cherubimon. Quando eles estavam perto de perder surge Angemon e Angewomon, que dão os novos Digimentals dourados para eles. E como esse poder, mesmo depois de serem engolidos, eles conseguem destruir o vírus dentro do coração do Kokomon, ou próprio Kokomon em si, como na versão japonesa.

Agora o que o que a versão americana mudou, tirando a narração, quebra de clima, trilha sonora, é a atuação do vilão. Na versão japonesa, o Kokomon viaja pelo mundo sequestrando Digiescolhidos e fazendo com que voltem no tempo, na idade em que Wallace tinha na última vez que o viu. Como ele sequestra os personagens do primeiro anime, o pessoal do Adventure 02 tem que resolver o problema.

Fora o fato de terem cortado as cenas com os Digiescolhidos originais e de terem cortado 40 minutos de filme, faz a gente se deparar com coisas sem sentido. Por exemplo, a cena entre Daisuke e Wallace, como a história dos filmes são diferentes, não faz muito sentido as mudanças de humor que o Daisuke tem nesse momento.

Análise geral

Imagem: Toei Animation

Agora com todas as partes devidamente explicada, dá para voltar para uma análise geral da coisa toda. A maior reclamação que a versão americana recebe não vem das misturas das histórias e sim, a total mudança de clima que isso causou. O primeiro filme, era para ter todo aquele ar misterioso para que o público se interessasse em assistir o anime. E as inserções de músicas rock pop dos anos 90 e 2000, tiram todo o sentimento que as cenas japonesas tinham, sério, eles encerram o filme com Smash Mouth.

O segundo filme tem todo aquele ar de nostalgia, na qual pega os personagens que conhecemos e os colocam de frente com uma nova ameaça. Tudo isso, um ano depois de suas aventuras no Digimundo, agora eles têm suas vidas e seus problemas cotidianos para resolver. Mas, mesmo assim, quando precisam deles, estão dispostos a arriscar suas vidas para salvar o mundo.

E tem o terceiro filme, que bem, não é lá grandes coisas, porém tem seu charme e um história até que interessante. Tanto que anos mais tarde, usam a sua história como uma releitura para o enredo de Digimon Adventure Last Evolution Kizuna. Se analisarmos bem, o plot dos dois filmes é muito igual.

Imagem: Toei Animation

Um ano depois do lançamento de Digimon: O Filme, saia no Japão Digimon Adventure 02 – O Filme: O Contra-Ataque de Diablomon. Que é a perfeita continuação para a história que que os produtores americanos queriam, mas não souberam esperar um pouco mais. Para resumir, o Diablomon retorna e está enviando fotos constrangedoras do Taichi e do Yamato pela internert. Assim como, também está enviando Kuramon que conseguem se materializar no mundo real.

Buscando apenas vingança, o Diablomon evolui mais uma vez, na sua forma mega o Armageddmon. Até a maneira que ele chega no mundo real, daria para ligar com o primeiro filme. Essa forma é forte demais até mesmo para o Omegamon, sendo essa solução perfeita para ele unir seus poderes com o Imperialdramon: Fighter Mode, das crianças do Adventure 02. Sendo esse, um dos maiores clichês que existe nos animes. E caso isso não seja suficiente, temos mais cenas refeitas do primeiro filme, a batalha final do filme original é refeita quadro a quadro.

O que podemos concluir aqui é que se quiser assistir os filmes, procurem os originais japoneses. Lá as histórias estão completas e sem problemas de clima, narrações desnecessárias e aquela trilha sonora horrível americana. E também, porque a versão americana é praticamente impossível de achar.

Imagem: Toei Animation

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