Segundo o editor e criador, em entrevista ao Fora de Plástico, o objetivo do anúncio é chamar a atenção da editora japonesa
A editora brasileira Ao Leitor, com Carinho, fundada em fevereiro deste ano, se tornou centro de uma polêmica no mercado editorial. Ao anunciar a publicação do mangá Urusei Yatsura sem o devido licenciamento legal. A obra, criada por Rumiko Takahashi, renomada autora de sucessos como InuYasha e Ranma ½, era inédita no Brasil até então.
O lançamento aconteceu diretamente no site da editora, com volumes em formato BIG, com mais de 400 páginas, vendidos por R$ 69,70. Apesar da empolgação de fãs pela chegada de um título clássico ao mercado nacional, a ausência de licenciamento oficial logo chamou a atenção.
As dúvidas surgiram nas redes sociais quando leitores começaram a questionar como uma editora recém-lançada teria conseguido os direitos de publicação de uma obra da Shogakukan, uma das maiores editoras do Japão e reconhecida pela rigidez em negociações internacionais.
Erik Yoshitaki, fundador da Ao Leitor, com Carinho, afirmou que o projeto surgiu como um esforço de fã para fã. Colecionador de mangás desde os anos 1980, ele revelou que decidiu abrir a editora após sucessivas tentativas frustradas de convencer grandes editoras brasileiras a lançarem clássicos do gênero.

Segundo Yoshitaki, ele tentou entrar em contato diversas vezes com a Shogakukan, mas não obteve retorno. Em determinado momento, chegou a negociar com um suposto agente de licenciamento, que apresentou uma proposta considerada inviável. O agente teria informado, ainda, que a editora japonesa não demonstrava interesse em liberar a obra para publicação no Brasil.
De acordo com a Lei nº 9.610/1998, que regula os direitos autorais no Brasil, qualquer reprodução, adaptação ou tradução de uma obra sem autorização do titular dos direitos é considerada ilegal. Isso inclui publicações de mangás estrangeiros, independentemente da intenção envolvida.
Portanto, a edição de Urusei Yatsura lançada pela Ao Leitor, com Carinho configura, juridicamente, uma infração. Ainda que o objetivo seja homenagear a obra ou suprir uma demanda dos leitores. A falta de licenciamento adequado representa um risco legal para a editora e compromete a legitimidade do projeto.
O caso reacende um debate importante sobre os obstáculos enfrentados por editoras independentes no Brasil. A dificuldade de acesso a títulos clássicos, especialmente aqueles cujos direitos são protegidos por grandes conglomerados estrangeiros. Muitas vezes leva fãs e empreendedores a recorrerem a caminhos informais.

Contudo, mesmo com boa intenção, a publicação de obras sem respaldo legal pode prejudicar futuras negociações e a credibilidade do mercado editorial nacional. O entusiasmo dos leitores por títulos como Urusei Yatsura reforça a demanda por obras clássicas. Mas, também, evidencia a necessidade de transparência e regularização nas publicações.
A estreia da editora Ao Leitor, com Carinho demonstra o desejo legítimo de ampliar o acesso a mangás no Brasil, em especial àqueles que permanecem inéditos. No entanto, a ausência de uma licença oficial para a publicação de Urusei Yatsura levanta sérias questões sobre ética, legalidade e os limites da atuação editorial independente.
Com a repercussão crescente nas redes sociais, o caso agora se desenrola sob o olhar atento de leitores, profissionais do setor e, possivelmente, da própria Shogakukan. Resta saber como o mercado editorial e os detentores dos direitos internacionais irão reagir a essa iniciativa, que mistura paixão por mangás com um desafio jurídico evidente.
Para mais textos e notícias do universo geek sigam o GeekPop News no Instagram e Facebook.