Quero começar essa crítica com uma parte da letra da música “A Grande Família” interpretada por Dudu Nobre: “Esta família é muito unida, e também muito ouriçada, brigam por qualquer razão, mas acabam pedindo perdão”. A família de Gilberto Gil é o retrato da família brasileira, com tantas pluralidades, tantas histórias, tantas lutas, que é impossível não pensar nela como uma Grande Família.
“Em Casa com os Gil”, nova série documental Original Amazon, vai acompanhar os bastidores da preparação da família Gil para uma turnê na Europa em celebração aos 80 anos de Gilberto Gil. A série dirigida por Andrucha Waddington, foi grava na casa da família, no interior do Rio de Janeiro.
Série ou Documentário?
Na casa, Gil, Flora, Bela, Preta, Flor, Nara, João, Francisco, Bem, José, Marília, Maria, Bento, JP Demasi, Mariá Pinkusfeld, Mãeana e outros integrantes da família. Eles se reuniram em uma espécie de retiro cultural, se utilizando dos momentos em comum para decidir quais músicas irão para o repertorio da turnê.
Andrucha escolheu gravar a série em formato documentário para poder acolher todas as percepções sem muita interferência. Apesar de haver um roteiro prévio, como ele mesmo disse em coletiva, é impossível roteirizar as emoções que a família viria a sentir e expressar durante as gravações. Ainda mais se tratando da família de Gilberto Gil, com todas suas emoções e todas suas pluralidades.
Um ponto muito interessante sobre “Em Casa com os Gil” é a participação de membros que não são tão conhecidos da mídia. Os filhos que não são famosos, os netos, as noras e genros, e amigos. Uma mistura importante, fazendo com que o espectador pudesse se familiarizar com todas as pluralidades de ideias e pensamentos ali presentes.
A gravação também ocorreu à época do aniversário de Gilberto, e parte dessa comemoração também foi abordada na série. Uma festa Junina aconteceu, com direito a comes e bebes típicos. As músicas de Gilberto deram o tom da quadrilha e das brincadeiras.
Como surgiu a ideia?
A ideia inicial dessa turnê europeia surgiu de Preta Gil, que disse que nunca foi para a Europa com seu pai e seus irmãos. Além disso, ela disse que foi muito fácil gravar esse documentário, e que tudo que pode ser visto na tela é muito verdadeiro. Todas as emoções são reais, todas as situações são reais, tudo foi muito natural. Mesmo tendo mais de 34 microfones espalhados pela casa, e uma equipe inteira por trás das câmeras.
De acordo com Bem Gil, a questão da emoção não estava ligada a nenhum tema que pudesse gerar uma tensão emocional. Que o roteiro contemplava possíveis momentos emocionantes que tivesse a ver com a história e assuntos mais sensíveis da família, mas que todos estavam preparados para isso.
Ele levanta ainda a questão da pandemia, que a turnê já havia sido adiada duas vezes e que isso teve muito impacto na maneira como a história foi contada. Além disso, ele diz o que acontecia externamente também teve muito impacto nas situações vivenciadas e sentidas. Um pouco antes do começo das gravações o Brasil perdia Paulo Gustavo, muito amigo de Preta Gil e da família. Essas perdas, e toda a tensão da incerteza do que aconteceria com as pessoas, com o país e com a turnê, foi um dos pontos que fez com que emoções se aflorassem durante as gravações.
Músicas
O ponto forte de toda a produção com certeza foram as músicas, afinal de contas, é uma família musical. Ou seja, que nasceu, viveu e vive a música e a cultura. A escolha das músicas se deu em uma espécie de amigo oculto. Cada uma “presenteava” com a sua música escolhida e indicava o próximo a escolher. Com isso, a série passeia por grandes clássicos da MPB como “Não Tenho Medo da Morte”, “Drão”, “Tempo Rei”, “Aquele Abraço”.
A fase política de Gilberto, a luta contra a censura na ditadura, o exilio, a saudade de casa e das filhas pequenas. Falou também dos casamentos anteriores e a relação com a atual esposa, Flora Gil, com quem é casado desde 1981. Fruto desse casamento, nasceram Bela Gil, Bem Gil e José Gil. A filha mais velha de Gil, Nara Gil, nasceu em 1966, seguida de Marilia Gil em 1967. Gil perdeu um filho ainda na década de 90, Pedro Gadelha, que faleceu em um acidente de carro em 1990 no Rio de Janeiro. Preta Gil nasceu em 1974 e Maria Gadelha em 1976.
Nascido no Estado da Bahia em 1942, Gilberto Passos Gil Moreira, é um marco na cultura musical do Brasil. É emocionante ver Gilberto Gil, aos 80, com toda a disposição e alegria, ao lado de sua família, mostrando que são gente como a gente.
Por fim, “Em Casa Com os Gil”, será lançado em 24 de junho no Prime Vídeo, streaming da Amazon.
