Nesta segunda-feira (16), foi realizada a coletiva de imprensa de “Encarcerados”, um documentário inspirado no livro de Drauzio Varella que deu origem ao filme e à série “Carcereiros”. O evento ocorreu por meio de uma conferência online, e contou com a presença dos diretores Pedro Bial, Fernando Grostein e Claudia Calabi, dos produtores Fabiano Gullane e Andrea Giusti, e do médico e autor Drauzio Varella. Os participantes promoveram uma conversa interessante sobre os desafios e bastidores da produção, mas principalmente sobre a mensagem que o documentário quer passar.
Sinopse: Filmado em oito penitenciárias de São Paulo, “Encarcerados” revela a vida dos carcereiros. Elos entre o Estado e o crime, entre o exterior e o interior dos presídios, permitem uma reflexão sobre o sistema penitenciário brasileiro, através dos olhos de (anti)heróis anônimos que guardam os portões do inferno que a sociedade escolhe ignorar.
O jornalista Pedro Bial, que atuou como diretor na produção do documentário, iniciou a coletiva explicando que “Encarcerados” não tem como função apenas informar, mas também propiciar uma experiência aos telespectadores para que eles possam enxergar o mundo através dos olhos de outras pessoas. O diretor se mostrou impactado pelas histórias contadas pelos carcereiros que, segundo ele, são profissionais ignorados e invisíveis para a nossa sociedade, julgados de maneira preconceituosa, apressada e desprovida de base. O documentário é o terceiro produto audiovisual originado das obras de Dráuzio Varella, e o médico não poupou elogios à equipe de produção e ao resultado final:
“Já tive livros adaptados para o cinema e para o teatro, mas esse documentário tem uma força especial, que é a força da realidade.”
“Encarcerados” conta com depoimentos de diversos agentes penitenciários – aposentados e que ainda atuam na profissão. Os produtores explicaram que a relação de confiança com os entrevistados foi construída através de muito respeito e transparência, seguindo todos os códigos de ética necessários no dia-a-dia de filmagens para que as pessoas se sentissem confortáveis para compartilhar o que quisessem. Além disso, nas cenas captadas dentro dos presídios, os detentos e detentas tinham a opção de se retirar para outras áreas caso não desejassem aparecer, enquanto os que participaram tiveram seus rostos borrados. Todas as etapas eram anunciadas de maneira clara aos envolvidos, desenvolvendo uma relação mútua de respeito e confiança.
As filmagens aconteceram antes da pandemia de COVID-19, e mostram a realidade dos presídios masculinos e femininos da perspectiva interna. As diferenças entre os dois ambientes foram comentadas por Claudia Calabi, que contou que os dias de gravações nas penitenciárias femininas eram mais tensos e difíceis, pois além de possuírem uma organização mais precária por receberem menos investimentos, a diretora ainda se sentia pessoalmente desestruturada ao ver a situação de mães e grávidas detentas.
Outro ponto amplamente discutido em “Encarcerados” são as chamadas Facções. Dráuzio Varella, que possui vasta experiência na área prisional brasileira por meio de diversos projetos sociais e pesquisas, explicou que o Estado e a sociedade criaram uma estrutura que favoreceu o estabelecimento do crime organizado, principalmente após o Massacre do Carandiru. Na perspectiva do doutor, as facções possuem pontos negativos, mas conseguiram estabelecer regras internas que o Estado não conseguiu, como a diminuição de fugas e violência interna nas cadeias.
Ao ser perguntado quanto às intenções e mensagens por trás do projeto, Fernando Grostein explicou que o sistema penitenciário brasileiro precisa ser rediscutido desde o ponto de vista da legislação até a sua organização, e o documentário busca gerar essa reflexão:
“Eu acredito na tese de que jogar luz nos cantos mais escuros da sociedade é importante. Informação e conhecimento libertam. […] O sistema penitenciário prende mais do que sua capacidade de manter preso. É um sistema que tem dificuldade na reabilitação porque é desumano com todos: com detentos e funcionários. Isso é fruto da guerra às drogas, que busca erradicar as drogas pela oferta em vez de reduzir a demanda. É necessário mudar o eixo e a visão de guerra para uma visão humanista e inclusiva.”
Dráuzio Varella acredita que o grande mérito de um projeto como esse é trazer a realidade para conhecimento público, para que as pessoas saibam que esse mundo existe e que é importante que exista a consciência a respeito dele.
“Encarcerados” estreia dia 26 de agosto nos cinemas do Brasil.
Que massa! Tenho certeza que vai ser um documentário muito tocante e necessário para uma reflexão sobre a sociedade. Quero muito assistir.