Em 2024, Bárbara Mançanares lançou o livro “A voz incauta das feras”, pela editora Patuá. A poeta e bordadeira do sul de Minas Gerais fala sobre palavras e linguagem em coletânea de Poemas. Em uma entrevista exclusiva para o GeekPop News, Bárbara Mançanares falou sobre a obra, assim como seu trabalho como escritora.
Leia a entrevista com Bárbara Mançanares
Você pode se apresentar para os nossos leitores?
Sou poeta.
Engraçado, a apresentação é sempre algo que me assusta em certa medida. Isso de nos definirmos e nos colocarmos diante de nós mesmos e do outro. Sou a Bárbara Mançanares, crescida no mato no interior de Minas Gerais. Ter vivido tantos anos na roça, distante de uma cidade, mas, ao mesmo tempo, povoada de outros mistérios, criou uma marca nesse “quem eu sou”. Gosto de andar descalça e fazer da casa uma floresta, cercada de plantas e das minhas três gatas — Maria Joaquina, Laranjinha e Manjubinha.
Como escritora e bordadeira, busco inscrever com as linhas e as palavras o que suspeito no mundo. Tenho três livros publicados: “Maio” (Quintal Edições, 2018), “Cartografias do corpo que canta” (Patuá, 2021) e “A voz incauta das feras” (Patuá, 2024). Meu segundo livro foi vencedor do Prêmio Mozart Pereira Soares de Literatura.
Como foi o processo de escrita de “A Voz Incauta das Feras”?
A voz incauta veio me mostrar que quanto mais a gente se nutre daquilo que nos ancora na vida, mais se escreve. O processo de escrita dele está intimamente ligado a uma mudança de comportamento que tive (e que temos) de tempos em tempos, quando me vi vivendo de maneira mecânica. Indo na contramão desse engessamento, a escrita do livro se deu através da exploração de um território mais onírico, de uma abertura às palavras sem um pacto estrito com a razão. Utilizei, por exemplo, o método da escrita automática, através do fluxo do inconsciente e da livre associação de palavras e imagens.
O título é muito marcante, de onde veio a ideia desse título?
Durante a escrita, sempre algum verso me soa como uma verdade profunda que se entrelaça às demais imagens dos poemas. Assim nascem os meus títulos: durante o processo de escrita, um verso me atravessa, ampliando a minha compreensão sobre o próprio livro, sem me deixar escapar da sua sonoridade.
Qual foi seu principal objetivo com o livro? Quais questões você quer abordar?
Meu objetivo com a escrita é sempre a própria escrita. Nem sei se isso pode se chamar de objetivo (risos). É que normalmente não escrevo meus livros como um projeto literário estruturado, mas vou conduzindo e me deixando conduzir pelas palavras. Durante e após o processo de escrita vem a edição, o que cabe ou não dentro de um mesmo livro, criando para o leitor, talvez, uma sensação de coesão.
Essa é a minha relação com a poesia: a de não ter um objetivo, ou ao menos um objetivo claro, mas trabalhar as palavras, uma artesania. Uma abordagem que passa, sobretudo, pelos sentidos.
As imagens poéticas são uma parte importante da obra. Qual o papel delas exatamente?
“A voz incauta não é ilustrada”, mas as imagens poéticas, ou seja, as imagens construídas dentro dos poemas, têm um papel importante na obra (muito mais que um sentido fechado, que uma compreensão linear). Já em meu livro anterior, o “Cartografias do corpo que canta”, eu mesma criei as ilustrações com bordado e aquarela, partindo de uma premissa interna de que bordar é fazer poesia. As imagens, sejam elas poéticas ou não, ampliam a nossa compreensão do mundo e de nós mesmos.
Por que você decidiu fugir da mensagem linear no texto?
Sou uma pessoa sensível, mas, ao mesmo tempo, extremamente racional. Estou sempre em busca de estabelecer explicações para tudo, o que, de certa forma, me adoece. Por que viver ultrapassa isso, né? Então, na poesia, encontro esse lugar onde a ordenação do mundo se dá através da aceitação do enigma. Sempre haverá algo que nos escapa. A liberdade de também poder viver e experimentar artisticamente sem os pingos nos is.
Quais são seus planos a partir de agora? Pretende se aventurar em outros tipos de escrita?
No primeiro semestre de 2025, vou lançar meu quarto livro de poemas, A voz áspera das raízes (no prelo, Editora TAUP). Também estou no processo de escrita do meu primeiro romance com o apoio do Itaú Cultural (Edital Rumos). É um romance híbrido, escrito em prosa, verso e bordado, chamado “Depois de mim não haverá nada”.
Para finalizar, você poderia enviar uma mensagem para os nossos leitores.
Primeiramente, gostaria de agradecer o convite para a entrevista e também a todos que tiraram um tempo para realizar sua leitura. Particularmente, sou uma pessoa que ama saber sobre os processos de outros escritores! É algo que traz empolgação enquanto leitora e também inspiração enquanto escritora. Espero que, diante do que conversamos aqui, algo tenha sido mobilizado do outro lado da tela.
A poesia normalmente é um gênero temido. Gostaria de fazer um convite aos leitores: abracem vocês também o enigma. Se permitam a esse outro tipo de compreensão e experiência literária.
Leia também: Editora Alt publicará novo livro da autora de “Divinos Rivais”
Para mais publicações sobre livros, autores e sagas sigam nosso perfil GeekPopBooks no Instagram