“Muito além do Media Training: o porta-voz na era da hiperconexão” de autoria de Patrícia Marins e Miriam Moura, apresenta conceitos importantes de comunicação. Levando em conta o mundo conectado no qual vivemos hoje, assim como os diversos modos de se comunicar.

O livro chega então como um guia para líderes, porta-vozes e profissionais entenderem como trabalhar atualmente. Além disso, a disseminação de informações falsas vem se revelando um desafio.

Nas palavras de Paulo Nassar, “Muito além do Media Training” é o “livro mais importante na história da comunicação empresarial brasileira, assim como o livro dos negócios de 2023″. O livro pode ser encontrado no site da Editora Aberje.

As autoras concederam uma entrevista ao GeekPop News, onde falam sobre a obra e sobre o contexto comunicacional atual, nas grandes empresas e, em geral.

Confira a entrevista com Patrícia Marins e Miriam Moura

Capa do livro | Crédito: Divulgação

Nesse mundo cada vez mais imediatista e rápido, quais são os desafios de manter uma comunicação eficiente?

Patrícia Marins: De fato, nesse mundo hiper conectado em que vivemos, com a velocidade de propagação e disseminação de informações em tempo real nas mídias sociais, em multiplataformas, a comunicação se tornou o ativo de maior valor para líderes e porta-vozes.

A comunicação é uma espécie de Santo Graal e a principal fonte de poder da pós-contemporaneidade. Estamos na era da informação. Comunicar é poder, e saber comunicar é o passaporte para a manutenção do poder.

Todos podem transmitir informações, mas o verdadeiro desafio consiste em estabelecer vínculos. Comunicar envolve negociação, compartilhamento e exercer a escuta tanto quanto a fala.

Isso requer técnica, estratégia e preparo, pois qualquer deslize pode causar danos irreparáveis à reputação. Toda liderança deve saber que a comunicação é um atributo imprescindível para se adaptar a novos contextos, fazer leituras de cenário rápidas e ser capaz de transmitir determinadas mensagens de forma personalizada sempre que necessário.

Como lidar com a desinformação?

As informações falsas não são um desafio apenas para os veículos de informação, mas também para as empresas? Como lidar com esse fenômeno?

Miriam Moura: Sim. O que vemos hoje é que o acesso à informação não produz necessariamente as condições para uma sociedade mais informada. Lidamos, pelo contrário, com o surgimento de versões alternativas para fatos comprovados e com o desenvolvimento de táticas para manipular o debate.

É preciso pensar a pós-verdade na era da informação. A disseminação sem controle de mentiras ao nível global pode resultar no colapso da sociedade. Nesse contexto, o papel dos líderes é fundamental, pois eles devem promover uma comunicação clara e sólida, cultivando a confiança do público e respondendo às suas preocupações de forma aberta e responsável.

Equilibrar clareza, concisão e relevância é uma tarefa constante para garantir que as mensagens sejam compreendidas e que a credibilidade seja mantida. Vimos o efeito devastador das fake news no período das enchentes, no Rio Grande do Sul, em abril e maio deste ano.

Grandes líderes devem assumir um novo papel, o de catequizadores da ciência e dos efeitos das mudanças climáticas. A questão não é atribuição apenas dos governantes. Também bate à porta das empresas! O combate à desinformação passa por uma maior união dos veículos de comunicação, pelo engajamento de lideranças sociais e políticas, pela reeducação de toda a sociedade e, inevitavelmente, por avanços na regulamentação das grandes empresas de tecnologia.

Comunicação Organizacional

Como fazer as lideranças entenderem a importância de ter uma comunicação eficiente?

Patrícia Marins: A gente vive um cenário de “permacrise”, um conceito que explica uma era de instabilidade, de crises simultâneas e constantes. Mas em que momento uma crise crônica pode se transformar em aguda e provocar efeitos dramáticos na vida de uma instituição pública ou empresa privada?

Qualquer grupo empresarial, organização estatal ou personalidade pública está sujeito a uma crise extremada, com efeitos devastadores em sua reputação. Em ambientes tensos, é preciso ter respostas rápidas e certeiras. Mas muitas instituições só se preocupam com uma crise depois que ela eclode.

A gestão da crise começa bem antes de ela aparecer, com prevenção. É um dos maiores desafios para os especialistas em comunicação, que normalmente só são chamados a conter em níveis aceitáveis os estragos prestes a se materializar – ou que já se tornaram irremediáveis.

Uma equipe de comunicação bem estruturada vai atuar no gerenciamento de risco, evitando que a crise chegue ou trabalhando na mitigação dos seus efeitos, caso ela aconteça. Não dá mais para uma instituição, pública ou privada, lidar com uma crise sem a atuação da equipe de comunicação, sem que haja uma cultura de comunicação interna.

São esses especialistas que vão auxiliar na busca pelo equilíbrio em cenários complexos. Ao delegar a função a pessoas treinadas, é possível estabelecer, por exemplo, um plano de resposta à crise, uma providência fundamental na preparação para situações de risco, identificando as vulnerabilidades da instituição, preparando mensagens-chave e treinando porta-vozes.

Novas lideranças

Quais são as mensagens que as novas lideranças podem aprender com o livro?

Miriam Moura: Um dos principais pontos é que ser um bom porta-voz, em um mundo em constante transformação, não linear e ambíguo como o que se vive hoje, é uma questão de sobrevivência e uma necessidade vital.

Comunicação em uma organização é uma tarefa para todos os integrantes, e responsabilidade em particular de líderes e gestores. Em nosso livro, entrevistamos expoentes na comunicação empresarial, entre eles o teórico da comunicação francês Dominique Wolton, referência em estudos do setor; a desembargadora Andrea Pachá; o neurocientista Miguel Nicolelis e o consultor especializado em gestão de crises, João José Forni.

Também reunimos as principais dúvidas de mais de 12 mil gestores que passaram por nosso treinamento. É um letramento em comunicação do século XXI, preparando lideranças e porta-vozes para entender o contexto de hiper conexão em que vivemos hoje, com a disseminação da desinformação e da necessidade que todo mundo tem de enfrentar este cenário de crises múltiplas.

Mídias Sociais

Como as mídias sociais de grande alcance podem ser utilizadas no ambiente de comunicação organizacional?

Patrícia Marins: Vivemos um ambiente multifacetado, onde as instituições têm o desafio de garantir a coerência das mensagens em diferentes plataformas de relacionamento, que utilizam linguagens tecnológicas inovadoras.

Nos últimos anos, a presença de executivos de alto escalão nas redes sociais cresceu significativamente. Pesquisas recentes divulgadas no Financial Times apontam um crescimento de 23% entre gestores que utilizam o LinkedIn para interagir com seus públicos.

O LinkedIn é usado como uma extensão da marca corporativa, ajudando CEOs a construir conexões mais pessoais com seus seguidores. O que vemos é que, em muitos casos, estar ou não nesses espaços não é opcional.

Afinal, é onde vários públicos e veículos se encontram e constroem relações de confiança, gerando pontes capazes de influenciar pessoas unidas pelos mais diversos valores, interesses, familiaridades, em uma rede complexa e heterogênea.

Entretanto, antes de publicar posicionamentos, é preciso um planejamento cuidadoso, para evitar crises desnecessárias e com risco reputacional. Por isso, o melhor caminho é desenvolver uma estratégia de comunicação e monitorar sua repercussão.

Sobre as autoras

Patrícia Marins é jornalista top Voice no LinkedIn e gestora de crises de alto risco de reputação. Ela é jornalista, empreendedora e executiva do mercado de comunicação corporativa. Sócia-fundadora da Oficina Consultoria e sócia do Grupo In Press. Especialista em comunicação integrada, com ênfase em posicionamento de imagem, gerenciamento de crise, programas de relações-públicas e public affairs.

Além disso, é professora do curso de Relações Públicas e Diplomacia do Instituto Rio Branco (MRE), assim como da Fundação Dom Cabral. Também é co-fundadora do WOB (Women on Board) e Conselheira do MeToo Brasil. Conselheira do Movimento Expansão e Embaixadora do SheInc. É vencedora do Sabre Awards na categoria Imagem Corporativa e mais de 20 Prêmios Aberje. 

Miriam Moura é jornalista com grande experiência na cobertura política em Brasília. Sendo também associada da Oficina Consultoria de Reputação e Gestão de Relacionamento, onde desenvolve projetos especiais em curadoria de conteúdo e capacitações de comunicação.

Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. Além disso, foi assessora de comunicação em tribunais superiores e órgãos do Judiciário. É professora de Relações Públicas e Diplomacia no Instituto Rio Branco (MRE).