Carol Zara é uma quadrinista brasileira que reside atualmente no Canadá, co-criadora de Alien Toilet Monster®, série de terror e ficção científica que, logo em sua primeira edição, ultrapassou o número de vendas de quadrinhos renomados como “Batman”, “The Walking Dead” e “Superman” nos EUA.

Ao nos conceder a entrevista, Carol Zara compartilha com o Portal GeekPop News suas vivências como quadrinista, opiniões a respeito de debates atuais que englobam o universo das hqs e um pequeno spoiler sobre projetos futuros. Confira a seguir:

Fonte: Reprodução/Instagram

GPN: Primeiramente, eu gostaria que você falasse um pouco sobre si mesma, se apresentando através do seu próprio olhar ao nosso público e narrando um pouco a sua trajetória enquanto quadrinista. De onde surgiu seu interesse pelo trabalho e como foi a caminhada para chegar onde você se encontra hoje?

Carol Zara: Sou co-criadora da série Alien Toilet Monsters®, que é o meu primeiro trabalho no ramo. Eu já me socializava com a indústria de HQs dos EUA e Canadá há algum tempo, então quando eu e o Eric Barnett tivemos a ideia do ATM, achei que o melhor formato para testarmos o conceito era quadrinhos, e foi aí que surgiu o meu interesse de trabalhar no ramo. Eu já tinha sido sondada pela DC Comics anteriormente, no começo da década de 2010, mas não levei a oportunidade muito à sério já que na época eu estava estudando para ser atriz.

Fonte: Reprodução/Instagram

GPN: Sabemos que, infelizmente, no cenário das HQs, assim como em tantos outros, ainda há muito machismo – tanto por parte dos leitores quanto no contexto de trabalho em si. Existem casos onde mulheres quadrinistas se mostraram incomodadas pelo pouco lugar de fala na criação de personagens femininas nas histórias, o que acaba levando ao desenvolvimento de personagens estereotipadas em muitos sentidos. Como você, enquanto mulher que trabalha na indústria, enxerga essa questão? E qual é a sua perspectiva quanto a representatividade feminina nos quadrinhos?

Carol Zara: Os homens que trabalham na indústria de HQs, tanto lojistas como artistas ou escritores, sempre foram muito acolhedores e respeitosos comigo, então eu realmente não tenho do que reclamar.

Como leitora, eu também nunca presenciei machismo. Tem gente que acha que personagem atraente é machismo… eu não sou uma dessas pessoas. Eu amo ser feminina e sensual, isso é um direito meu, e uma escolha minha, então eu admiro quadrinistas que dão esse ângulo para as personagens de HQ.

Eu também nunca quis me masculinizar ou me vitimizar para me sentir mais confiante, ou bem-sucedida, num ramo dominado por homens. Não existem mais mulheres na indústria de HQs porque quadrinhos não é algo em que a grande maioria das mulheres demonstraram estar interessadas em fazer; isso é que nem quando você vai numa aula de yoga e vê muitas mais mulheres do que homens… vai ter sempre uma atividade que vai apelar para um grupo de pessoas mais do que o outro.

GPN:  É indiscutível que a pandemia de Covid-19 afetou o mundo inteiro nos mais diversos aspectos e setores da sociedade. Como isso chegou ao universo dos quadrinistas e como você vem lidando e se adaptando ao que está acontecendo? 

Carol Zara:  Eu não tive contato com muitos colegas durante essa época, então o que sei é somente o que foi noticiado. Pra mim, nada no processo de criação mudou. A única coisa que eu não estou com pressa para fazer de novo são eventos presenciais. 

GPN: Hoje, cada vez mais, os grandes nomes no universo das HQs buscam a inclusão e representatividade de povos e culturas em suas histórias e personagens. Na sua visão, atualmente isso é feito de maneira correta e suficiente ou ainda há espaço para melhora? Em quais aspectos isso poderia ser feito? 

Carol Zara: Eu não concordo com o tipo de representação que se faz hoje em dia que só serve como falsa homenagem, feita para preencher uma cota de diversidade que atrai um determinado grupo demográfico. Em ATM, por exemplo, nós temos personagens de tudo quanto é tipo pois queríamos ser representativos da raça humana, não de um chamariz de marketing.

GPN: Por último, conta pra gente um pouco mais sobre os seus futuros planos para a sua carreira. Existem ideias e projetos novos a caminho?

Carol Zara: Sim, temos um projeto de aventura e fantasia, voltado mais pro sub gênero “sword-and-sandal”, que iremos publicar em breve. Estou bem empolgada com esse projeto pois é bem diferente de ATM, mas ainda terá o sabor “Carol Zara” pois será outro comentário sobre a atual sociedade.

O Portal GeekPop News agradece a disponibilidade de Carol Zara ao nos conceder a entrevista e compartilhar seus pensamentos em relação às problemáticas atuais que englobam o ramo e espera que suas criações cheguem ao Brasil.

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Matéria colaborativa entre: Anne Caroline, Lara Aguiar e Mário Guedes.