Uma entrevista bem descontraída e completa com o autor Igor Girão que tem muito bom humor e boas histórias na gaveta e no coração para serem espalhadas por aí. Confira abaixo a entrevista completa ao portal GeekPop News, em que Girão nos conta mais detalhes sobre a própria trajetória as principais inspirações e motivações da escrita do livro “Além do Véu”.
Primeiramente fale um pouco sobre você. Formação, idade, gostos, etc. Tudo aquilo que achar relevante.
“Coisas que eu ache relevante” deve ter um monte, mas eu tenho que ficar imaginando o que é legal não só pra mim. Eu não sou uma ilha e nem quero ser! Mas vamos lá! Eu sou cadeirante e deficiente visual. Não, eu não sou uma planta e nem o Josef Kimber (meme bem antigo que denuncia minha idade). Por falar em poeira, tenho 35 anos e sou cearense. Cresci na década de 90, assombrado pelo fim do mundo vindouro do ano 2000 e deliciado com a televisão aberta e sem noção dessa época maravilhosamente linda. Sou formado em biblioteconomia e sou mestre em Ciência da Informação. Por sinal, sou a primeira pessoa com deficiência múltipla a conseguir um mestrado na minha área aqui no Brasil.
Jogo RPG desde o ano 2000 e essa é a principal fonte de método de narrativa literária, meio que comecei a escrever por causa do RPG, mas daí pra frente nem sei como meu jeito de escrever se assentou, como se diz, mas não tem como escapar dessas referências, que vão dos animes, até o cangaço, embora nunca tenha escrito algo realmente direto das minhas referências, mas é inegável que elas espreitam nas entrelinhas.
Como surgiu essa vontade e desejo pela escrita?
Penso que foi pra ser um escape de ver histórias que alcançavam seu ápice de acordo com minhas vontades, mas não era um desejo egoísta, calma. Era mais pra poder apresentar minhas versões das histórias que eu via em filmes, animes, HQs e seriados.
Mas no geral, pelo menos olhando com os olhos de hoje, eu sei que foi mais para materializar sonhos, vontades e dar vida a alguns personagens que gritavam na minha cabeça. É legal porque posso continuar sendo o Igor, mas nem por isso deixo de visitar mundos onde sou vilão; anjo; mocinha e uma sedutora, personas dentro de nós que precisam vir à tona, se não a gente explode de dentro pra fora.
Sobre o livro “Além do Véu”, o que você pode introduzir sobre ele? O que as pessoas poderão encontrar ao ter essa leitura?
“Além do véu” é um livro massa e nem é por que fui eu quem escrevi, mas é um aglomerado de caos organizado. Tem seres normais que se descobrem místicos, que são em essência mais normais do que pensavam. Tem seres folclóricos e tem mitologia brazuca, cenários fantásticos e prosaicos. Mas, principalmente, tem coração. Mas não apenas pelo romance, mas principalmente porque me disseram que eu não iria conseguir.
Tem muita ação e alguma porradaria, porém o que deixa qualquer coisa melhor é não o soco do protagonista, mas o que está em jogo ao redor do golpe. Efeito borboleta, destino, livre arbítrio: Ilusão ou etapas de autoconhecimento?
E sobre a história, o que te inspirou a desenvolver essa narrativa? Conta um pouco sobre o que você pretendia durante esse processo de desenvolver a história.
O que eu pretendia nem sempre se mantém imutável do começo ao fim do processo de escrita. No começo eu queria apenas colocar no papel coisas que estavam na minha cabeça e que davam uma história clichê de aventura e luta entre anjos e demônios. Mas ao longo da escrita eu fui me apaixonando pelos personagens e pensando como eles pensariam para resolverem suas questões. Tive que escrever algumas páginas sangrando por dentro e outras quase explodindo de felicidade. Era como se eu estivesse sendo totalmente parcial e imparcial ao mesmo tempo. Talvez de fato eu estivesse. Mas o que eu queria com o livro era fome. Sim, eu tinha a faca e o queijo nas mãos, precisava de fome e fui conseguindo ter esse impulso. Mas o melhor foi que quando meu estômago estava mais vazio, consegui preparar um banquete. Mas festa boa é aquela que a gente festeja junto, por isso publiquei. Sem contar que os formatos acessíveis fazem a diferença para muita gente. Eu sei o que é querer ler e não ter formatos adequados, por isso pensei no áudio e no formato digital também.
Você acredita que de alguma forma, a sua história de vida e tudo aquilo que te motiva atualmente tem uma relação com a construção da mensagem no livro? Pensando sobre essa luta sobre a acessibilidade cultural e tudo mais.
Certamente. Minha vida foi cheia de altos e baixos, minhas referências e meus pontos de vista foram determinantes para essa história ser contada da forma que foi. Eu sou um homem de meia idade, cearense, com deficiência visual e cadeirante. Todas essas deficiências aconteceram quando eu tinha 17 anos e fizeram meus pontos de vista mudarem totalmente. Voltei a estudar, me formei e me pós graduei. Continuei jogando RPG e continuei consumindo cultura pop de todos os jeitos que era possível. Meus medos, objetivos, sonhos, angústias e, principalmente, minha resiliência, se juntaram e fizeram a massaroca do caos controlado que é minha escrita.
Você tem mais planos futuros dentro da carreira como escritor? Pode compartilhar um pouco desses planos conosco?
Eu tenho alguns escritos engavetados, mas não ficarão escondidos por muito mais tempo. Publicar é tipo tatuagem: a gente sempre pensa nas próximas vezes. Eu escrevo contos também e provavelmente meu próximo livro será de contos ou crônicas. Flerto muito com Dark fantasy medievalesco, tenho coisas escritas nesse sentido também. Talvez seja uma possibilidade enveredar por esse caminho. Criatividade eu tenho de sobra, não penso em nada muito cotidiano, prefiro que meus personagens fantásticos, no entanto, que tenham angústias e medos bem humanos.
Tem mais alguma coisa sobre você e/ou sobre seu trabalho que você gostaria de acrescentar?
Eu não estou parado no “Além do Véu”, quero explorar todas as possibilidades que ele tem, mas o próprio livro entrega caminhos para a história seguir. Ela tem arcos narrativos fechadinhos, mas ao mesmo tempo novas possibilidades podem (e vão) ser exploradas. O universo é rico e cheio de rincões não explorados, como o horizonte nos mapas dos navegadores do séc. XVII.
O que você diria para quem quer começar a escrever, mas ainda não se sentiu motivado para começar?
“Todo caminho, por mais longo que seja, começa com o primeiro passo” é um provérbio chinês, mas eu gosto mesmo é do que o Stephen King disse: “Uma palavra depois da outra e por último um ponto final”. O que ele falou foi mais ou menos isso. Mas ele vai me perdoar (será que ele vai ler isso? Tomara que sim. Ou não. Sei lá, fiquei nervoso), mas enfim. Escrever é a maneira mais fácil de viver outras vidas. A leitura supre nossa necessidade de ser voier, mas a escrita permite que a gente pegue a mão de que ler e guie ao nosso bel prazer, dizendo o que queremos mostrar e escondendo as inconstâncias duras demais, mas não por má fé. Está mais perto do jogo de prestidigitação dos mágicos. Então, escrever também é cura. O papel aceita qualquer coisa e seu melhor amigo não é o lápis, é a borracha.
E se quiserem saber mais sobre o seu trabalho, quais as plataformas e meios de te encontrar?
É muito simples me encontrar hoje em dia. Não é como se eu me esquivasse! (Risos)
Estou no instagram @giraoigor
Meu e-mail é igor.peixoto310@gmail.com
Tenho um perfil no Spotify Igor Girão e no mais, eu trabalho no setor de leitura acessível da biblioteca estadual do Ceará. Presencialmente pode chegar por lá que a gente troca uma ideia de boas.
Quero deixar claro que foi um grande prazer falar com você e falar um pouco mais de mim e dos meus projetos… agradeço demais e espero que não tenha dito bobagem… brincadeira, adorei demais!