Para falar sobre as mulheres e os ambientes em que vivem, Raquel Marinho busca colocar na própria escrita aquilo que acredita e coloca na própria formação. Em entrevista ao GeekPop News, a autora ressalta a importância de falar sobre as mulheres que inspiram e traz um pouco sobre o empoderamento feminino.

Nos conte um pouco sobre você.

Sou neta de alfaiata e filha de costureira, venho tradicionalmente de uma família que atua com moda, o que me influenciou no estilismo. Assim, me graduei em moda atuando há 32 anos no segmento de lingeries, fiz especializações na área buscando a qualificação continuada tão exigida pelo mercado de trabalho e tão necessária para a nossa evolução; o mestrado em Antropologia me expandiu o olhar para as pessoas em suas múltiplas vertentes e suas culturas, segui para o doutorado em Ciências Sociais, onde estudo as representações da mulher na sociedade contemporânea e os reflexos sociais que nos rodeiam. Apaixonada por leitura, música, teatro, filmes e viagens, especialmente viagens exploratórias que faço com meus filhos e marido para conhecer cidades diferentes, nem sempre turísticas, mas repleta de cultura e de pessoas simples, acolhedoras e de sorriso largo (o que também inspira minha escrita). Acredito que é por isso que também me apaixonei pela sala de aula. Gosto de gente!

Como surgiu essa vontade e desejo pela escrita?

Capitães da areia foi o primeiro livro que me marcou profundamente, ainda era uma pré-adolescente, considerei a literatura o instrumento mais fantástico do mundo, capaz de externar emoções como alegria, tristeza e compaixão por histórias que não são nossas, ou propriamente reais. Sendo neta de alfaiata e filha de costureira via constantemente muitas mulheres e ouvia muitas histórias também (o que me inspirou e influenciou muito). O desejo nasceu aí, mas só comecei escrever e de mansinho durante minha trajetória acadêmica, guardava o que escrevia. Foi no início e durante a pandemia do Covid-19, principalmente no isolamento social mais rígido que a leitura com meus filhos se intensificou e a escrita mais ainda. Escrevi “Com que sonhos essas camisolas dormem?” em 2019 e “Com que realidades essas camisolas acordam?” em 2020; na sequência escrevi “Moda íntima da prática a teoria” que é parte da minha pesquisa de doutorado, esse traz o rigor acadêmico e tem um processo diferente, tinha muitas anotações e pesquisas prévias, porém, só comecei no final de 2020 e finalizei em 2022, compartilhar aprendizados também me inspira.

Sobre o livro “Com que realidades essas camisolas acordam?”, o que você pode introduzir sobre ele? O que as pessoas poderão encontrar ao ter essa leitura?

Uma personagem que acredita ser empoderada, sobrecarregada de trabalho e obrigações. A frequente confusão entre independência financeira e autonomia e o tal empoderamento. Ambientes tóxicos comuns entre tantas mulheres, seja no trabalho, ou no próprio lar. É a vida se esvaindo por entre os dedos.

E sobre a escrita, o que te inspirou a desenvolver essa obra? Conta um pouco sobre o que você pretendia durante esse processo de desenvolver a história.

Mulheres reais, sobrecarregadas, exauridas, extremamente cobradas. Convivo com inúmeras e as observo. Cada história, cada capítulo, tem um pouco de cada mulher, evidentemente, com as paisagens ficcionais.

Imagem: Divulgação da autora Raquel Marinho
Imagem: Divulgação da autora Raquel Marinho

Falar sobre a mulher multitarefas, também é falar sobre o impacto que isso causa na vida delas, especialmente quando se fala sobre ser mãe. O assunto tem um papel social relevante. Como você acredita que as pessoas poderão ser impactadas através da sua história? Como essa narrativa pode induzir essas mulheres a se perceberem mais?

Sempre. Ser multitarefas não é positivo como falaciosamente é pregado. Ser multitarefas é viver a obrigação dos compromissos com os outros, é uma espécie escravidão, onde a mulher sempre está abrindo mão de si. É exaustivo ter que qualificar-se para o mercado de trabalho, atender as exigências micro e macro sociais. Ninguém pergunta se a pessoa está verdadeiramente bem, ou se está feliz. Amanda é a prova literária e talvez viva, que saúde mental é fundamental. O alerta é das consequências que ser multitarefas pode causar.

Você tem mais planos futuros dentro da carreira como escritora?

Sempre. Escrever é uma alegria indescritível. Tenho mais dois materiais escritos, VOLÚPIA em que questiono o amor romântico e MORTE E VIDA DE MACAMBIRA que é um livro de memória, que se debruça sobre as relações familiares e seus conflitos.

Tem mais alguma coisa sobre você ou sobre seu trabalho que você gostaria de compartilhar?

Meu objetivo com a literatura, para muito além da alegria de escrever é destacar temas sociais atuais, histórias que nos façam questionar, o meio em que vivemos e a nós mesmos, de forma positiva. Sem culpas e sem cansaços, mas com reflexão.

O que você diria para quem quer começar a escrever, mas ainda não se sentiu motivado para começar?

Comece. Acredite. Leia muito. Se qualifique e principalmente, supere as rejeições para seguir em frente. Não é fácil, mas é lindo. E principalmente, não existe motivação externa, tenha um propósito e não desista.

Assim, para saberem mais sobre o seu trabalho:

Através do meu site: raquelmarinho.com.br

Instagram e linkedin: @raquelmarinhoeumesma

Estou retornando com o podcast em breve.

Muito obrigada pela oportunidade.

Super abraço

Raquel

Além disso, Confira também a resenha do livro “Com Que Realidades Essas Camisolas Acordam?”