Raul Chequer é um dos nomes mais icônicos do humor brasileiro contemporâneo. Conhecido por dar vida ao inesquecível Maurílio dos Anjos no Choque de Cultura, Raul conquistou o público com seu humor ácido e comentários afiados sobre a cultura pop e o cotidiano. Neste programa que virou fenômeno na internet, ele e seus colegas motoristas de van criaram um formato único, mesclando humor crítico e análise cultural.

Nesta entrevista exclusiva, vamos explorar os bastidores da carreira de Raul Chequer, suas inspirações e os desafios por trás de seu trabalho no Choque de Cultura e além. Prepare-se para conhecer mais sobre esse talento que redefiniu o humor nacional.

Raul Chequer, você é compositor, dublador, ator. Como você começou nessa sua vida de artista? Você teve alguma influência ou você sempre esteve à disposição para trabalhar com a arte?

Há muitas… Tenho muitas influências, né. Igual todo mundo. Porque a gente vai desenvolvendo nosso estilo. Roubando as pessoas que a gente gosta. Vai pegando um pedacinho de cada artista, cada comediante, cada cartunista, cada escritor. A ponto de ter catado tantos pedacinhos que as pessoas não conseguem mais identificar o que você catou, não. Aí você forma o seu estilo. Tipo, acredito que todo mundo tem a sua certa originalidade, mas tem inspirações de outros grandes artistas.

Mas você perguntou quando começou isso? É. Ah, cara, começou lá no Espírito Santo. De lá a gente tinha uma revista de humor e quadrinhos. Acho que ali foi a primeira experiência. Escrevendo comédia. Então foi ali que tudo começou. Foi lá também que a gente começou a fazer os primeiros vídeos para a internet. E começou a fazer tudo. Que a gente escrevia, fazia fotografia, editava, produzia, divulgava. Acho que foi ali que a gente começou a aprender a usar as ferramentas que a gente usa até hoje nos programas que a gente faz.

Entrevista com Raul Chequer, o Maurílio do Anjos do Choque de Cultura
Imagem: TV Quase

E o pessoal do Choque de Cultura, você conheceu nessa época mesmo ou foi depois?

É, algumas pessoas sim. O Daniel, por exemplo. Daniel Furlan, que faz o Renan. Foi nessa época, assim. Acho que eu conheço o Daniel desde 2002, 2003, por aí. Então a gente estava há um tempão já trabalhando junto. Leandro Ramos e Caito Mainier eu conheci depois. Quando a gente foi gravar uma série no Rio chamada Overdose. Série do Arnaldo Branco. Ah, sim. Os protagonistas. E aí a gente conheceu o Caito e o Leandro lá.

Sobre o podcast que você faz com o Daniel e com o Leandro, o Ambiente de Música. Essa ideia surgiu como?

Cara, o Ambiente de Música é um desdobramento do Choque de Cultura. Sem o Rogerinho, só com Julinho, Maurílio e Renan. Era uma possibilidade que a gente tinha de também debater, com muita seriedade, música. E cultura pop de uma forma geral, mas mais música. Porque é uma das coisas que a gente gosta muito, né? De música. E acho que eu sou de uma geração em que a gente consumia música de um jeito que está ficcionado, né, cara.

Tem revista de música. Então era uma coisa… eu tenho muitas informações sobre música que eu não sei o que fazer com ela. Eu li muita coisa quando era adolescente sobre as bandas que eu gostava, os músicos que eu gostava. E acho que ali no Ambiente de Música a possibilidade de fazer piada com isso também. É que também é uma piada do próprio Choque de Cultura, que o Rogerinho não gosta de música. É porque o Ambiente de Música é um ambiente de droga, não sei se vocês sabem disso aí. E é uma chance de a gente falar sobre música longe dele. Porque ele jamais permitiria isso.

Aí a ideia de colocar ele (Rogerinho), às vezes, como um personagem, o tal de Bernardo, e até mesmo como ele mesmo, surgiu por conta que o programa estava dando uma estagnada? Ou ele que pediu para participar?

Não, eu acho que isso aconteceu muito no início do programa. Acho que foi meio que natural que isso acontecesse. Se ele fizesse umas participações ali, dá para gente estabelecer aquele universo sem ele, né? A presença dele foi uma boa forma de estabelecer aquele universo sem ele. Não tava nem dando uma estagnada porque era o início da coisa toda. A gente fez o quê? A quarta temporada do Ambiente de Música, agora, a gente terminou recentemente. Acho que terminou umas duas semanas. E foi aí, mais uma temporada de três episódios. É maneiro, eu adoro fazer no Ambiente de Música.

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Entrevista com Raul Chequer, o Maurílio do Anjos do Choque de Cultura
Foto: Marcus Vinicius

E seus trabalhos como dublagem no Irmão do Jorel? Você começou porque foi chamado ou você fez algum teste pra estar lá?

Cara, a primeira coisa que fiz de voz, que a gente chama de voz original. Essa é a dublagem. Quando chega a animação gringa para gente, a gente tem que dublar em cima da imagem que já vem prontinha. Aí é a dublagem. No caso do Irmão do Jorel, é voz original. Por quê? Porque a gente grava a voz ali e a animação é feita em cima da nossa voz. O processo é o contrário, sacou? Chega lá no Copa Estúdio, que é a nossa voz, a galera anima. O lip-sync é em cima do que a gente já gravou.

Mas a primeira vez que fiz foi no Irmão do Jorel. E acho que fiz teste, sim. Fiz teste com o Mendigo dos Mares, no primeiro episódio. “Olá, eu sou o Mendigo dos Mares e estou atrás de garrafas pets para alimentar meus animais marinhos.”. Só que esse personagem, ele surgiu, aconteceu porque uma vez eu fui com um amigo meu, que também era da TV Quase, o Gabriel Labanca, ele me chamou para nadar num lugar lá em Vitória.

E a gente era para atravessar de uma ilha para outra. Entendi. E aí, eu tabagista há muito tempo, desde aquela época, eu falei, cara, não vou não, não vou me ferrar atravessando. Ele, não, vai sim, que vai dar. Eu atravessei, cheguei até a ilha e me cheguei quase morrendo do outro lado. Falei, cara, eu não vou voltar, você vai arrumar um barco para me tirar daqui.

Só que não tinha quase ninguém ali por perto, mas tinha umas garrafas pets e uns arames. Aí eu fiz uma boia com garrafa pet e arame e voltei. E quando eu voltei, cara, ele ficou… Ele quase afogou na volta porque ele… Ele ria muito e ficava me zoando, assim, falando, ele é o Mendigo dos Mares. E aí, cara, durante um tempo, meu apelido foi esse, de Mendigo dos Mares, Mendigo e todos os desdobramentos de apelido. Aí o Juliano, uma época, foi o Juliano e o Daniel criaram esse personagem, o Mendigo dos Mares, e o Juliano me chamou para fazer a voz, que foi o primeiro.

Mas aí eu faço outros também, faço o Mendigo das Selvas, o pai do Mendigo dos Mares. Faço legumes e frutos do Jardim da Vovó Juju. Cara, é muito divertido fazer isso. É um dos trabalhos mais divertidos que existem para mim. Fazer voz para desenho animado. Cara, eu acho divertido. Mas enfim, né. Isso abriu portas no meu trabalho. Quem imaginava que quase morrer afogado me daria um papel tão legal.

Sobre uma nova temporada do Choque de Cultura, já tem plano para estrear? Ou ainda não tem nada à vista?

A gente não tem uma… Não tá previsto uma nova temporada do Choque tradicional, como a gente conhece, aquele choque no estúdio, analisando filmes. Mas para o próximo ano, eu acho que provavelmente para o meio do ano que vem, vai estrear uma série do Choque, que é um live-action ali. É fora do estúdio, é sobre a vida desses caras, depois que o programa acabou.

A gente acabou de gravar agora no Rio. Eu passei novembro lá gravando, tipo um mês lá gravando. E é isso, é o dia-a-dia dos caras. É uma série de comédia, mas é uma série com bastante ação também. Com muitas participações especiais. Vocês vão conhecer Fabiola e Renanzinho, Simone, Flavinho Terreninho. Vocês vão conhecer uma série de personagens que sempre orbitaram ali o universo do Choque, mas ninguém nunca viu, vocês vão ver agora. Muito tiro, muita van capotando. Provavelmente algumas mortes também.

A irmã do Maurílio também aparece agora?

Não. A irmã não? A lendária irmã do Maurílio. O Maurílio é um abandonado. A única pessoa que segue ao lado de Maurílio é a Kombi dele e o cinema brasileiro. Acho que ele foi abandonado pela família. O bolo de pote também foi abandonado. Ele ainda corre atrás, precisa trabalhar. O profissional do entretenimento do audiovisual tem que jogar em várias posições.

Fazer meio de campo em tudo. Sim, mas é isso. A gente tem essa série que vai estrear ano que vem. Produzida pela Bionica Filmes. O roteiro do Daniel, a gente, os quatro do Choque e esse universo maravilhoso. Acho que tem que dar certo tudo que está chegando.

Vai ser para o YouTube mesmo ou streaming?

É uma parceria com o Canal Brasil. Ah, sim. Provavelmente eu não tenho certeza. Vai sair pelo Globoplay, tudo sai pelo Globoplay. Ainda não sei quando, a gente também não sabe. Está no processo de editar.

Agradecimentos especiais para Raul Chequer, pelo seu tempo e pela entrevista.