Em entrevista exclusiva, Rodrigo de Oliveira, editor-chefe da revista eletrônica Almanaque 21, conversou com o ao Geekpop News e celebrou sua recente escolha como um dos 38 jornalistas brasileiros que integrarão o corpo de votantes da 83ª edição do Globo de Ouro. Ao todo, serão 388 profissionais de imprensa representando quase 100 países.

Logo, na edição de 2025 o número de votantes era de 334. Então, Rodrigo de Oliveira se junta aos demais brasileiros escolhidos como votantes na próxima edição que será realizada em 2026.

Assim, Rodrigo de Oliveira é jornalista, crítico de cinema, membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e da diretoria da Accirs (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul). Contudo, escreve sobre Cinema desde 2003, passou por diversos veículos como a Unisinos FM e o portal Papo de Cinema, até criar a Almanaque21 em 2016. Dessa maneira, foi júri de grandes eventos cinematográficos como o Festival de Cinema de Gramado, o Olhar de Cinema em Curitiba, o Fantaspoa em Porto Alegre e a Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Lançou seu primeiro livro em 2024, O Cinema de Jorge Furtado, na Feira do Livro de Porto Alegre e no Festival de Cinema de Canoas. Por fim, agora é votante internacional do Globo de Ouro.

Começando lá de trás, pensando no Rodrigo da faculdade. Quando que você escolheu trabalhar com cinema?

“Eu vou ter que voltar um pouquinho mais. O Rodrigo da faculdade já pensava nisso, mas o Rodrigo do colégio já pensava também. Eu curtia muito ver filmes em casa. Quando meu pai comprou o videocassete foi uma coisa maravilhosa! O pessoal que seja mais jovem talvez nem saiba como o videocassete era importante para quem é da minha geração. Poder assistir os filmes na hora que quisesse, podia ir na locadora alugar vários filmes para poder assistir. Então, eu sempre fui muito voraz na minha procura por filmes. Eu gostava de ver filmes na TV, no videocassete, no cinema depois também eu comecei a assistir mais.

Só que, quando adolescente, eu não tinha muito a ideia do que fazer, mas eu sabia que queria fazer alguma coisa envolvendo cinema. E aqui no Rio Grande do Sul na época que eu comecei a fazer faculdade, não tinha nenhuma universidade de cinema, mas tinha de jornalismo. E eu gostava de escrever, então pensei “bom, eu posso escrever sobre cinema” e foi uma paixão que acabou surgindo, junto a faculdade de jornalismo. Eu fiz um pequeno site para mim, na época. A Internet era 1.0 ainda, tudo manual, HTML, bem jurássica, mas eu fiz um site onde tinha meus textos.

Depois eu fiz um blog porque daí os blogs aumentaram, então eu comecei a ter um blog meu. E eu fui crescendo a partir do blog e com a faculdade também, aprendendo a escrever mais e foi assim. Eu digo que meu começo foi em 2003 porque meu blog é de 2003, mas antes mesmo disso que já escrevia. Em 2003, eu comecei a escrever. Em 2009, quando entrei na Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, ai sim eu me chamei de crítico. Eu tive aquela chancela da associação, mas antes eu já escrevia críticas também. Mas acho que eu precisava dessa chancela dos meus pares para poder me chamar de crítico.”

Como a crítica surgiu na sua vida? Sempre gostou disso?

“Uma coisa interessante, porque eu gostava muito de ver filmes. E na época que eu via em videocassete não tinha Internet, eu já vou dizendo para vocês. Parece que eu sou velhíssimo, mas não é tanto assim. Eu comecei a comprar revistas que tinham na banca. A Set, por exemplo, foi uma revista super importante para mim. Era a revista de cinema mais importante do Brasil.

A revista Herói também, que eu lia muito quando era criança/adolescente. Então, esses textos jornalísticos – também tinham críticas, a Set tinha crítica também – acabaram me empurrando para esse lado. Então, eu gostava muito de ler isso, gosta muito de saber da produção, dos bastidores.

Era muito legal quando passava na televisão o making of de um filme, por exemplo. Era raro até, mas passava. Eu lembro de ficar vidrado em televisão quando passou o making of do “Querida, Encolhi as Crianças”. A gente podia ver como a produção fez, como era aquele telefone enorme, aquela formiga como faziam, eu lembro de criança vendo isso e despertando aquela curiosidade de saber como se faz aquele filme. E lendo as revistas a gente tinha esse contato. Hoje em dia, eu tenho uma revista digital, a Almanaque 21, por conta dessas revistas que eu lia no passado.

Eu gosto muito do formato revista, formato de tu ter ali em tantas páginas um texto com começo, meio e fim sobre um filme, uma franquia, sobre um assunto. Eu acho legal isso. Então, até por isso, hoje eu tenho um site, claro, que é a Almanaque 21, mas que ele abriga as revistas que eu escrevo. É mais um site para abrigar as revistas do que um site como o Geekpop News, que é um site que tem ali realmente os textos no próprio portal. A nossa revista é um pouco diferente por conta disso.”

Como surgiu a ideia de ser votante do Globo de Ouro?

“O Globo de Ouro, eu já assisto há muito tempo. O Globo de Ouro e o Oscar, eu sempre fui muito fascinado com essas premiações. Porque é muito divertido de ver os filmes que foram mais votados, ver as campanhas, saber como funciona isso eu acho também bem legal. Sempre gostei. Só que, para mim, Globo de Ouro era sempre muito distante porque é uma premiação de Hollywood. Até pouco tempo atrás só quem trabalha em Hollywood, imprensa estrangeira, mas em Hollywood.

Então, para mim era uma coisa muito distante. E Oscar nem se fala, porque quem vota é o pessoal da indústria, quem faz os filmes, quem atua, trabalha nos bastidores. Mas com as mudanças que aconteceram no Globo de Ouro nos últimos tempos, eles abriram o leque. E a ideia é ter uma representatividade maior do mundo. Esse ano que eu entrei são 99 países representados e o Brasil está lá. E eu sou entre os 38 que foram escolhidos do Brasil.

Dá para ver que tem muita gente legal escrevendo e estando ali no Globo de Ouro. São 388 votantes agora, então é muita gente, vários olhares. Ano passado, fazendo os júris em Gramado e na Mostra, as minhas colegas de júri estavam no Globo de Ouro e eu perguntei como funcionava, me informei. Daí, a partir disso, eu acabei fazendo a inscrição esse ano.”

Você falou em outras entrevistas que traduziu edições do Almanaque 21 e enviou para a organização. Quanto tempo esse processo durou até a resposta deles?

“Foi longo, foi tão longo que eu até achei que não tinha rolado. Porque eu me inscrevi em fevereiro. Até o ano passado, se mandava três textos e todo um portfólio. Esse ano foi diferente, foram cinco textos. No ano passado, também podia escolher se você queria votar só no Cinema ou só na Televisão. Esse ano, eles pediram para que todo mundo votasse em tudo. Então, tinha que entrar já com a mente de que a gente vai ver bastante coisa, não só filmes, mas séries e podcasts também entram na votação.

Eu vi ali o formulário, peguei as revistas, mandei as nossas revistas inteiras em português para eles até terem um contato, para ver como é a revista mesmo na totalidade. E eu traduzi cinco textos de cada uma das revistas que eu mandei, para que eles tivessem como entender o que estava escrito ali.

Isso foi em fevereiro, dizia no site que até março ou abril teria resposta e eu ‘tá, ok’, mandei e fiquei esperando. Março e abril passaram e nada. Eu pensei ‘bom, não rolou. Paciência, acontece’. Gostaria que tivessem mandado uma resposta de que ‘não rolou’, mas, enfim, isso acontece também. Vivi minha vida.

Semana passada, recebi o e-mail, surpreendentemente, que eu tinha sido pré-selecionado. Porque eles têm uma pré-seleção ainda, daí tem que mandar mais documentos, mais algumas questões que eles pedem. E depois, está ai no site os votantes, eu estava ali junto com os outros 388 que entraram nessa leva.”

Como é a sensação de ter seu trabalho reconhecido nessa escala tão importante?

“Olha, a grande premiação para mim foi isso. Porque, claro, quando você se inscreve você coloca os seus textos, eles pedem as tuas redes sociais, biografia, várias coisas. E a gente, a Almanaque 21, é uma revista que está crescendo. A gente tem nove anos já de história, fecha 10 agora em 2026. Vai ser legal porque eu vou estar votando no Globo de Ouro em 26, fechando 10 anos. Fecha meio como um lacinho do presente.

Eu fiquei muito feliz porque as nossas redes sociais não são enormes, a gente não tem milhares de seguidores. Eu sei que hoje em dia isso, claro, para uma parte de quem acompanha as informações de cinema, algumas assessorias ou coisa do tipo, às vezes a rede social é um ‘sim’ ou ‘não’.

E para mim, foi muito importante porque a revista está lá e foi isso que me fez entrar. Os textos, a profundidade da nossa pesquisa, a forma como a gente mostra os filmes, como a gente dá espaço para o cinema e a TV que nos deram esse respaldo para o Globo de Ouro. Então fiquei muito feliz por conta disso de que certamente foi o trabalho da Almanaque 21 que fez com que eu pudesse entrar.”

Uma curiosidade para o pessoal que está nos vendo em casa, você vai votar aqui no Brasil ou vai participar da cerimônia de alguma forma?

“Uma das coisas que eles já colocam no comecinho são as perguntas frequentes quando você vai se inscrever. Uma das primeiras perguntas que eles respondem é ‘você não tem acesso à festa porque são muitos votantes e poucos lugares’. Quanto a isso, eu já não tenho nenhuma fantasia de que vou estar sentado do lado da Nicole Kidman lá no dia da festa, isso não vai rola. É possível, claro, fazer a cobertura do evento. Isso sim, dá para fazer outras coisas por lá, mas tudo por nossa conta.

É tudo investimento que deve ser feito. Os votos são em casa, eu faço os votos do Brasil mesmo. Cada um dos membros do Globo de Ouro vota em casa mesmo, não precisa ir até lá. Mas o legal é que a gente recebe os filmes para poder assistir, então isso é uma vantagem de ser um votante porque tu tem que poder assistir. Esse também é o segredo de tentar votar bem, é ver muita coisa. É poder ver os filmes, as séries.

É uma coisa que eu vou ter que me organizar até. Está muito recente, então ainda não consegui parar para pensar nisso. Mas é a organização que eu vou ter para entrar na minha rotina, porque eu já vejo muita coisa porque eu escrevo. Eu tenho uma revista de estreias, então escrevo sobre as estreias do mês; eu tenho a Almanaque 21 Streaming, que eu escrevo sobre o que sai em streamings. Então, eu vou ter um tempo ainda mais para poder ver tudo isso e eu vou estar consciente no final do ano.”

Você acredita que a presença de mais jornalistas brasileiros como votantes vai impactar na representatividade do prêmio?

“Eu acredito que não só o brasileiro, mas o mundo todo. Claro que o Brasil tem o seu olhar, mas o fato de entrarem 99 países, isso é representatividade. Isso é o olhar diferente, é ter mais gente votando, mais visões de mundo diferentes. Cada um dos nossos olhares são diferentes e, claro, cada país tem o seu olhar diferente. Acho que isso só agrega. O Globo de Ouro se fortalece muito a partir do momento em que ele abre esse leque de possibilidade. Acho que o Globo de Ouro vai só crescer a partir de agora com essas possibilidades de abrir esse olhar para o mundo todo.”

Confia na íntegra a entrevista com Rodrigo de Oliveira no YouTube do Geekpop News

Em suma, a cerimônia do 83º Globo de Ouro será realizada no dia 11 de janeiro de 2026.