Jackson Costa é ator e diretor teatral baiano, ele já trabalhou em novelas como “Pedra Sobre Pedra”, “Renascer” e “Tocaia Grande”. Além disso, Jackson também já atuou em diversas peças, como “Vixe, Maria” e “Deus e o Diabo na Bahia”, interpretando “Deus”, dirigida por Fernando Guerreiro. 

O ator também já dirigiu a peça “Nem Louco nem tão Pouco”, gravou um CD ao qual interpreta poesias de Castros Alves, Gregório de Matos e outros grandes poetas brasileiros. Jackson Costa também dirige o grupo musical “Virado no Mói de Coentro”. 

Confira nossa entrevista com Jackson Costa

O ator Jackson Costa entrou no teatro aos 16 anos na cidade de Itabuna (Bahia) e aos 22 anos mudou-se para Salvador com o intuito de cursar a faculdade de Teatro na Universidade Federal da Bahia. Mas afinal, nos conte um pouco sobre quem é Jackson Costa? 

Bom, Jackson Costa é um ser humano em construção, como todo ser humano, estamos aqui para construir, Manoel de Barros até fala “A maior riqueza do ser humano é a sua incompletude”. Eu venho de uma tradição cigana, que é nômade e o aprendizado se dá na oralidade, muito mais que nos estudos, então por conta disso, eu sinto que eu tenho isso literalmente no meu sangue, então, quem é Jackson Costa? Eu não sei. É essa pessoa, que vive nesse mundo que doi dado para gente, que encarna em um corpo, em uma matéria, um ser humano que vive em busca de saber quem ele é, isso é quem eu sou. Essa busca é uma coisa que para mim é a maior riqueza que eu tenho, não riqueza material, mas uma riqueza de sempre buscar conhecer a vida, de saber quem eu sou, de conhecer a espiritualidade. Mas óbvio que para isso a gente precisa ganhar dinheiro, para ter o que comer, o que vestir, onde morar, mas eu sinto que talvez por herança mesmo da minha tradição, isso nunca foi uma prioridade. Eu tive uma avó que viveu 104 anos e 10 meses e ela é um grande exemplo disso, quando ela dizia que não tinha nada, eu comecei a perceber que esse nada era de bens materiais e a grande riqueza dela era a própria vida mesmo. Então eu penso assim, eu sou essa pessoa que tem essa busca de me conhecer primeiro, para poder conhecer o ser humano e me tornar uma pessoa melhor. 

Quando perguntamos para Jackson qual foi sua maior inspiração para entrar para o teatro, a resposta foi inesperada mas cheia de alegria.

Palhaço de Circo. Eu assisti os melhores circos do mundo e achava aquele universo lúdico muito mágico, então, hoje eu sou ator por causa do Circo. O Circo Lona Furada era um Circo menos industrial, mesmo com todo o aparato, eles eram pela simplicidade, pelo encanto, pela magia. E se for olhar, tem muito a ver com a minha tradição de cigano, a cabana, minha edificação não é de concreto é de lona, que você pode desarmar e armar ali ou em outro canto, se ta fazendo muito sol bota embaixo de uma árvore, se tiver ruim muda de lugar, a cidade não está acolhendo bem, a gente se manda para outra cidade e eu sou meio assim com a minha profissão. Eu faço uma peça em um lugar, fico uma temporada e depois vou para outra cidade. Assim, eu posso dizer que também sou uma palhaço, porque o palhaço no circo é aquele ser humano que ri de si mesmo, é aquele ser humano que cai e não se machuca, por isso que a gente ri dele, porque se a gente achar que o palhaço se machuca e não ri vira um drama e isso é tragédia. 

Jackson Costa
Fonte: Reprodução/Segundo o Sol

Ademais, o ator tinha os palhaços de circos como fonte de inspiração, mas afirma que nunca trabalhou como palhaço: “Não, trabalhar mesmo não. Eu já fiz aula. Eu aprendi a cuspir fogo com um mestre Pinga Fogo na escola nacional de circo no Rio de Janeiro por conta de uma de uma peça de teatro que eu fiz dentro de uma novela da Rede Globo”

O ator também nos conta que trabalhar no circo era um sonho de infância: “Meu sonho de criança era ir embora com isso. Acho que muita criança quando vê um circo na cidade fica querendo ir embora com eles. Quem sabe na próxima encarnação ou nessa ainda, né?”

Diferença entre atuar no palco e atuar em frente uma câmera

Após atuar em peças como “Vixe, Maria” e “Deus e o Diabo na Bahia”, Jackson Costa entrou para a Globo atuando em grandes sucessos, como “Pedra Sobre Pedra” e “Renascer”, com isso, ele nos dá um exemplo interessante sobre a diferença entre atuar no palco e atuar para uma telenovela.

O teatro é vivo, ele é a mais vida. Por exemplo, se você está em uma feira e vive assim, você não tem lugar para estresse, você não imagina um feirante fazendo análise com psicóloga, que nada, ele não tem tempo, não cabe a ele o estresse, ele tem que trabalhar e matar um leão por dia, né. Isso é muito vivo, ele negocia e a gente negocia com ele, o preço do jiló é 10R$, ‘“faz cinco reais?”, “faz sete”, já no mercado você não negocia, se não tiver dinheiro não leva, então é isso é o teatro. Dessas artes cênicas, o teatro é um dos mais antigos e o mais moderno de todos, ele tá lá na frente, a televisão mesmo, um dia a gente vai se esgotar e não vai ter mais saco para ficar assistindo, como já não tem muito, né? Agora com a internet, a inteligência artificial vai mudar tudo. O ser humano vai inventando mas não consegue superar o teatro, porque o teatro é o próprio homem, é o homem na feira que vende banana e tem que gritar mais alto que o outro lado que também quer vender a banana. Então, é o mais vivo, claro que todos tem seus encantos, mas nenhum deles é tão poderoso quanto o teatro. 

Além de atuar em teatro, novelas e minisséries, Jackson Costa já produziu um CD recitando obras de grandes poetas brasileiros. Portanto, quando questionamos qual o trabalho mais marcou sua vida, ele cita a sua atuação em uma peça teatral dentro da novela “Pedra Sobre Pedra” da Rede Globo.

É o “Alto de Nossa Senhora da Luz”, porque eu faço o teatro na expressão dentro de uma novela e o diretor narra com a câmera com a narrativa cinematográfica. Também porque eu faço o homem criado por Deus, que na caminhada se envaidece e pela vaidade ele acaba virando Lúcifer, então Deus vem, mata o diabo e o homem nasce um novo homem. Isso reflete até na primeira pergunta, sobre a minha busca, essa peça responder muito da minha busca, interpretando esse homem que foi inspirado em uma figura de Portinari, que é um retirante e eu sou um retirante nordestino.Meu pai era sertanejo e minha avó cigana, ou seja, eu sou ligado à terra e o chão, devido a minha e mãe e ao meu pai, então, esse trabalho me dá a possibilidade de trazer a figura humana. É um dos trabalhos mais bonitos.

“Viva o Povo Brasileiro”

Para finalizar, no dia 25 de Agosto estreia a peça “Viva o Povo Brasileiro”, baseado na obra de João Ubaldo Ribeiro, no Teatro Riachuelo, na cidade do Rio de Janeiro e pedimos para Jackson contar um pouquinho sobre esperar dessa super produção musical. 

A peça vai estrear dia 25 de Agosto e ficar até o dia 1º de outubro no Rio de Janeiro, depois deve fazer uma temporada em São Paulo pelo Sesc São Paulo, depois para Salvador através da Sarau Agência, produtora do espetáculo. É um musical com cara de Brasil mesmo, escrita por João Ubaldo Ribeiro e retrata muito bem esse momento que a gente vive no Brasil, trata da formação do povo brasileiro, o porque que somos do jeito que somos, o porque que comportamos como colonizadores as vezes, somos todos nascidos aqui mas as vezes temos esse complexo de vira-lata. Com 30 músicas de Chico César, criadas dentro do contexto do livro, um gênio. A peça tem tudo para ser um espetáculo, com direção de André Paes Leme, um elenco fantástico, atores maravilhosos que me fazem sentir pequeno e é muito bom quando a gente se sente assim perto de alguém e direção musical de João Meireles. Eu sou suspeito, mas tudo mostra que vem um grande espetáculo brasileiro.