Recém chegado aos cinemas, O Mestre da Fumaça estreia como o primeiro longa brasileiro do gênero comédia stoner. No entanto, o filme ainda se difere por misturar os elementos deste gênero com o estilo kung fu.
E claro que o Geek Pop News não iria deixar essa passar: tivemos a oportunidade de entrevistar a dupla de diretores, roteiristas e produtores, Augusto Soares e André Sigwalt. Junto a eles, tivemos conosco o ator Daniel Rocha, responsável em interpretar Gabriel, o protagonista do filme. Em uma conversa bem descontraída, o trio contou sobre o projeto, como foi o processo de criação deste filme independente, seus desafios, ideias por trás das cenas e até mesmo sobre o que está por vir.
Mas, antes de continuarmos, vamos relembrar a sinopse do filme:
Treinados pelo Mestre Abel na arte do kung fu, os irmãos Gabriel e Daniel se veem amaldiçoados pela máfia chinesa com a temida Vingança das 3 Gerações, que já ceifou a vida do avô e do pai de ambos.
Depois que Daniel é hospitalizado após ser atacado por Caine, o líder invicto da Tríade, só há uma forma de sobreviver: Gabriel precisa aprender os segredos do Estilo da Fumaça, uma arte marcial cannábica ancestral, pouco conhecida e controversa, ensinada por somente um mestre no mundo.
Com muita criatividade, o filme independente já está nos cinemas, aumentando diariamente as salas pelo país.
Leia também: Crítica | O Mestre da Fumaça
Sem mais delongas, vamos conferir essa entrevista:
Entrevista com Augusto Soares, André Sigwalt e Daniel Rocha
De modo geral, os convidados falaram bem a vontade sobre diversos assuntos. Alguns referentes a produção e seus desafios, enquanto outros sobre a sociedade e a própria industria cinematográfica. Enfim, aqui, iremos focar em alguns deles e, ao final, você poderá conferir a entrevista toda, ok?
Comédia stoner no Brasil: reação do público e dificuldades
Como já dito, O Mestre da Fumaça chega em clima de inovação do cenário cinematográfico brasileiro. E isso não é por menos: trata-se do primeiro filme brasileiro do gênero stoner. E por ser o primeiro, nunca se sabe como será a reação do público com o novo estilo de comédia.
Felizmente, o longa vem sendo bem aceito pelo seu público. Segundo Augusto Soares: “a gente passou em festivais de cinema pelo mundo, então a gente já viu a reação do público: é uma reação muito boa, as pessoas dão muitas risadas, elas gostam muito das lutas. Então, quanto a reação do público, a gente está um pouco tranquilo”.
No entanto, para alcançar uma boa recepção, houveram grandes desafios ao longo de seu caminho. Pelo menos, é o que André Sigwalt nos contou:
“Nossa, é que a gente já passou por tantos desafios com esse filme. Acho que desde sua origem mesmo, o fato de que, por exemplo, eu e o Augusto trabalhamos com audiovisual há bastante tempo. Mas o roteiro cinematográfico é uma arte em si, é uma coisa à parte. Teve já um processo lá, desde o princípio de fazer essa adaptação de uma ideia para o cinema propriamente dito.”
Ainda, André comentou que agora o filme enfrenta um novo desafio: o de trazer o público de volta aos cinemas. Segundo ele, já havia decaído até mesmo antes da pandemia, com o fortalecimento dos streamings. Aliás, o diretor reconhece a importância das plataformas – “uma maneira legal de difundir os filmes” – no entanto, também acredita que elas não substituem a experiência de ir ao cinema.
Em meio a tentar trazer o público de volta às salas, André finaliza com otimismo, acreditando que o público “(…) devagarzinho, acho que vai crescer como uma onda. Estou otimista”.
Um filme para todos os gostos
O filme conversa constantemente entre dois gêneros: o de comédia e o de luta. Contudo, dois estilos tão diferentes, poderiam ser tão bem recebidos?
Bem, aparentemente sim. Pelo menos é o que o ator Daniel Rocha acredita. Segundo ele, o público brasileiro tem uma afinidade em ir ao cinema, principalmente para ver comédias. Ainda, ele diz que essa mistura de gêneros – comédia e luta – é um fator que aumentaria as chances de atrair mais o público. “São dois gêneros muito distintos que estão conectados no mesmo filme. Então tem para todos os gostos”.
Por fim, Daniel também acrescenta que outro fator enriquecedor do filme é a maneira como ele trabalha com suas referências ao cinema, ao mesmo tempo em que aborda a própria cultura asiática. Com muita animação, ele completa: “o nosso filme é um filme brasileiro-chinês”.
Aproveitando o gancho, Augusto também falou um pouco sobre essa interação e o desafio que veio com uma ideia original. “Quando a gente teve a ideia, a gente viu que a ideia era muito legal, muito forte, e a gente topou todos os desafios”.
Assim, o diretor complementa que o primeiro passo foi conhecer melhor a cultura e os filmes asiáticos para além dos clássicos do Bruce Lee, sendo necessário muita pesquisa e assistindo a mais de 60 filmes do gênero. Somente assim, para então misturar com o lado stoner da ideia: “a parte do filme stoner acrescemos assistindo, né? Mas a parte do filme de kung fu, a gente teve que pesquisar mesmo, para a gente saber o que tinha que fazer, ou como é que tinha que ser o vilão, o andamento da história (…)”.
Do cômico a questões sociais: como equilibrar?
Um ponto que o longa acerta é na sua maneira de abordar questões sociais utilizando um tom mais humorístico. No entanto, com alcançar esse equilíbrio? Como abordar questões que podem ser sensíveis ao mesmo tempo que se usa um tom mais cômico?
Augusto não pensou duas vezes e resumiu tudo em uma palavra: cuidado. Já André vai além e traz uma perspectiva diferente da forma como o “contemplador” (a pessoas que faz uso da cannabis) é tão estereotipadas em outros filmes. Assim, o diretor critica esse preconceito: “a gente fez um gênero stoner onde o nosso contemplador, a pessoa que faz uso da cannabis, ele não é um “zero à esquerda”, ele não é um pária da sociedade, ele não é um cara que não sai do seu sofá”.
Enquanto Daniel defende que as representações aqui não são “de um lesado“, enquanto Augusto acrescenta que “os nossos maconheiros não são bobões”.
Dessa forma, traçou-se nitidamente a diferença quanto a forma que muitos filmes de comédia abordam o usuário da cannabis e o então apresentado em O Mestre da Fumaça. Contudo, não foi a única diferença que surgiu ao longo da conversa. Isso é, a diferença na própria forma de fazer comédia.
De modo geral, os diretores afirmam que o eles buscaram trabalhar mais com situações absurdas, do que ficar preso a piadas pautadas ou a personagens caricatos. André também alimenta essa discussão ao afirmar o quão a cannabis está presente na sociedade em si. Inclusive, segundo ele:
“Ela [a cannabis] é muito presente na nossa sociedade, muito mais do que se diz por ai. A gente sabe disso. Isso não é retratado a altura, assim como outros hábitos da sociedade que são retratados no cinema. A gente trouxe isso pra perto e esse alívio cômico vem justamente da naturalidade da presença disso, não tanto das piadas. E, desse jeito, a gente consegue corroborar com a ideia de não olhar para a cannabis ou para a maconha como uma coisa pejorativa ou negativa. A gente naturaliza ela.“
Ao finalizar, André compartilha da resposta apresentada por Augusto no começo: “Acho que isso foi um cuidado que a gente teve.“
Por fim, o trio compartilha uma mesma ideia: o usuário de cannabis pode ser seu vizinho, o cara que anda no mesmo ônibus que você ou que trabalha ao seu lado. Enfim, são pessoas normais e não aquelas figuras caricatas que muitas produções abordam. Em outras palavras, são “gente como a gente“, por assim dizer.
O Mestre da Fumaça e a legalização do cultivo da cannabis
Um dos personagens que mais se destacam ao longo do filme, é o próprio Mestre Liu, o grande Mestre da Fumaça, interpretado por Tony Lee. No longa, o grande mestre ensina, de diferentes formas, como cada coisa no mundo tem a mesma origem: a natureza. Logo, o próprio Estilo da Fumaça não seria diferente. Ainda, o próprio personagem de Tony Lee aborda em diferentes momentos a importância de cultivar sua própria maconha.
Portanto, surge a duvida: seria o filme a favor da legalização do cultivo de cannabis? Ou essa seria apenas uma das situações absurdas e cômicas do filme?
Ao serem questionados, a dupla André e Augusto deram o veredito. Segundo Augusto, o filme “é antiproibicionistas, nós somos antiproibicionistas, sim“. Para ele, o filme não é panfletário, por trabalhar com a ideia de forma bem natural. Enquanto André declara:
“Mas a favor do auto cultivo, o filme é com certeza. O mestre Liu mesmo fala que não tem cabimento: se você quer fumar, tem que saber plantar. O auto cultivo é uma das formas de combate ao tráfico de drogas em si, no caso da maconha em específico. Além, obviamente, da legalização.”
Por fim, André ainda afirma, com cuidado, que o cultivo em si é importante até mesmo para a narrativa, uma vez que o é através dele, que se marca o desenvolvimento do próprio protagonista. Ou seja, da semente de um personagem inocente que se desenvolve e cresce, transformando-se no herói do filme.
O futuro do Mestre da Fumaça: haverá continuação?
Quando uma produção é independente, ela tem uma maior liberdade criativa. Contudo, também encontra novos desafios. Alguns referentes ao orçamento e outros quanto a distribuição do longa nos cinemas, como ocorre com O Mestre da Fumaça. Mas afinal, o que isso tem a ver com uma possível continuação?
Bem, a resposta se resume a “se o público for, a gente faz um outro filme”, com foi dito por Augusto. Ambos os diretores e o Daniel compartilham do mesmo interesse, deixando bem claro que já possuem ideias para novas produções, incluindo prequel e series animadas.
Entretanto, o trio também compartilha da mesma opinião quando se trata do maior desafio atual: levar o público para assistir O Mestre da Fumaça nos cinemas. Para eles, o futuro do filme está, de fato, nas mãos do público, principalmente por se tratar de um projeto independente. Dessa forma, André abre o jogo e comenta:
“Acho que esse filme fala com um grande público (…). A oportunidade, agora, está nos cinemas. Mas a gente não sabe o que vai acontecer depois, não sabemos quando vai entrar para streaming.
Não sabemos o futuro do filme. Sendo bem direto e reto. o que a gente sabe é que ele está em cartaz agora, as cidades irão aumentar.”
Por fim, como André disse, o longa já está em cartaz de vários cinemas do Brasil, vindo a alcançar novas cidades a cada dia. Agora, para você ficar por dentro das novidades do filme, então confira sua pagina oficial.
Vale lembrar também que você pode conferir a entrevista toda na integra lá no nosso canal do YouTube, ou então conferi-la aqui embaixo: