Quem nunca sonhou em ver o seu amado joguinho sendo exibido nas telonas do cinema. A emoção de jogar pela primeira vez o prólogo de The Last Of Us, o medo ao chegar pela primeira vez na vila do Resident Evil 4, a angústia de caminhar pelas ruas de Silent Hill. Todos sempre desejaram boas adaptações de filmes de jogos, remodelando boas experiências e as compartilhando com outros fora da bolha gamer. Só que nem sempre acontece como o esperado.
As vezes o poder do capitalismo fala mais alto, a soberba de alguns diretores é imensa, simplesmente o marketing é incoerente, ou ninguém na produção consumiu o produto original durante a elaboração da sua mais nova obra. Que irá estampar todos os ads do Youtube e estações de metrô em Tokyo.
O resultado disso são filmes de jogos completamente fracos e genéricos, que exploram pouquíssimo de toda a magnitude que existia no jogo original. Alguns nem servindo como item de colecionador, caindo no total esquecimento do público, se tornando praticamente delírios coletivos. Mas não tema, nesta pauta irei dar um refresh na sua mente cheia de filmes bons, e o relembrarei da época sombria dos filmes de jogos.
Para que fique claro, esta matéria não esta levando em conta a ascensão dos filmes de jogos que ocorreu em meados de 2019. Filmes e séries como Arcane, Sonic ou o mais recente filme do Mario, são exceções e devem ser levados como exemplos a serem seguidos. Esta matéria é apenas sobre a era trash dos filmes de jogos, que decepcionou não apenas eu, mas toda uma geração de crianças e adolescentes dos anos 2000.
Hitman (2007)
Baseado na popular saga de Stealth de mesmo nome e lançado um ano após o considerado melhor jogo da saga (Hitman Blood Money). O filme tinha a difícil missão de passar a sensação de ser um assassino de aluguel sorrateiro e inexpressivo, e ironicamente na maior parte do filme o famoso Agente 47 não é sorrateiro e expressivo até demais.
O filme é bastante simplista, com nenhum dos personagens tendo muita profundidade. Seu único acerto é nas cenas de ação que são intensas e bem coreografadas, porém mesmo onde acerta, o filme também erra. Quem já jogou qualquer Hitman sabe que o estilo de ação intensa e coreografada não é muito a vibe da franquia. Sua vibe se aproxima mais a algo do tipo de “O profissional“.
Tekken (2010)
Baseado na série de jogos de luta, a adaptação de game de mesmo nome, Tekken, não conseguiu nem mesmo agradar aos fãs loucos por fanservice. Os personagens possuem uma enorme falta de fidelidade facial, e a maioria dos figurinos aparentam terem sidos comprados na Shopee. A sensação ao assistir o filme é a mesma de ver uma sessão de cosplay de evento de anime. Só que eu ainda acho que tem cosplayer que entrega muito mais que esses atores.
O filme é bastante previsível e carece muito de motivações convincentes para os personagens. Assim como no filme citado anteriormente as suas cenas de ação são o ponto mais alto do filme mas ainda assim não são o suficiente para salva-lo.
Postal (2007)
Este é um caso um tanto peculiar. O filme em si é ruim, mas acontece que é exatamente isso que os fãs do jogo Postal queriam. Para quem não conhece Postal, a franquia é famosa pelo seu conteúdo sarcástico, piadas que envelhecem muito mal e a fama de serem os melhores piores jogos já feitos.
O filme abraça completamente o conceito trash, fazendo uma releitura dos dois primeiros jogos. Se situando em uma cidade completamente apática e com nenhum apego pelo próximo. O protagonista entra em uma onda de fúria após completamente tudo no seu dia dar errado. A partir dai você pode esperar as coisas mais absurdas que a mente de um adolescente “edgy” poderia imaginar.
Para qualquer um fora da bolha da comunidade Postal, o filme é um ofensa em formato áudio visual. Mas possui um certo carinho para os fãs do jogo. É importante ressaltar que o nome “Postal” foi escolhido com base em um conceito popular da gringa, onde os entregadores, ou “postal workers”, frequentemente eram submetidos a longas jornadas de trabalho e altos níveis de pressão. Era relativamente comum entregadores serem babacas ou terem crises de raiva enquanto trabalhavam, daí surgindo o termo “going postal” equivalente ao termo ” ficar pistola”.
Far cry (2008)
Lançado antes da criação do Far Cry 3, que foi onde a franquia realmente decolou. O filme recria a historia do primeiro jogo, o que por si só não é muito animador, já que a historia do primeiro Far Cry é o ponto mais fraco dele. A famosa historia do ex-soldado que sem querer acaba descobrindo segredos perigoso, e se vê em meio a uma floresta desconhecida, junto a um sábio cientista e uma dama em apuros, no maior estilo Indiana Jones.
Mesmo com a sua base sendo simples, o diretor em vez de jogar neutro e copiar à risca o jogo, ele fez questão de fazer mudanças inúteis que tiraram ainda mais a graça dos personagens. Fora isso ele segue todos os elementos de filme ruim de jogo, roteiro genérico, personagens sem desenvolvimento, falta de fidelidade e seus pontos mais alto são as cenas de ação. Porém nesse caso apesar de serem os pontos mais altos, não são altas o suficiente para serem consideradas boas cenas de ação.
Rampage: Destruição Total (2018)
Acredito que estamos diante de o único filme que se aproxima de ser “bom” dessa lista. Aos jovens gafanhotos que viram esse filme quando passou no Super Cine, podem estar se perguntando, esse filme é baseado em um jogo? A resposta é sim, mas dificilmente você havia nascido antes do seu lançamento em 1986.
Se você foi um dos poucos que jogou o clássico Rampage quando ele saiu para Nintendinho, provavelmente você é muito velho. Muita gente em Hollywood devia estar endividada para terem que caçar uma licença de um jogo de mais 40 anos, só para fazerem mais um filme do The Rock.
Acho interessante que o fator que mais fez esse filme vender também foi o que mais consumiu sua qualidade. Com certeza absoluta esse filme não venderia nem 10% do que vendeu se não fosse mais um filme do grande Dwayne Jhonson. Mas também é um fato que ele teria muito mais potencial se não fosse mais um filme do The Rock.
Meio que eu não tenho muito oque criticar ou elogiar. É mais um filme do The Rock que tem todo ano, com explosões, carros, e algum tipo de ficção ou fantasia que está assolando Los Angeles, e mesmo assim todo ano eu os assisto.
House of the Dead (2003)
Lembra do filme do Far Cry e Postal citados mais acima, meio que aqui foi o primeiro bater de asas para a existência deles. O diretor Uwe Boll que também os dirigiu teve sua primeira chance de trabalhar em uma adaptação de game neste filme.
O tremendo fracasso de bilheteria não impediu que chamassem o diretor para dirigir não só para mais 2 ou 3 filmes de jogos. Ele dirigiu 8 projetos licenciados e cada um com a recepção pior que o outra. Virando um meme na indústria e sendo considerado um dos piores diretores de todos os tempos.
No geral, House of the Dead é considerado um exemplo clássico do mundo de filmes de jogos malsucedidos. Ele carece de uma trama convincente, personagens interessantes e efeitos especiais de qualidade, elementos essenciais para um filme de terror eficaz.
Um aspecto peculiar do filme é o uso de cenas diretas do jogo de arcade House of the Dead. A inserção dessas cenas no filme são como memórias dos personagens, e não se traduzem bem na experiência cinematográfica, e acabam por parecerem desajeitadas. Para os fãs da série de jogos ou do gênero de terror, este filme é melhor evita-lo, já que há muitas outras opções mais envolventes e bem feitas disponíveis.
Ratchet and Clank (2016)
Essa foi a tentativa fracassada da Sony em fazer uma adaptação de game tipo o filme do Sonic, só que 3 anos antes. Embora tenha sido concebido para atrair fãs antigos do jogo e apresentar os personagens a um público mais amplo. O filme recebeu críticas por não conseguir agradar ninguém.
Ratchet & Clank mantém uma fidelidade notável ao material de origem. Os principais personagens, Ratchet e Clank, têm suas personalidades e características preservadas, algo raro nesse emaranhado de adaptações. Muitos elementos familiares do jogo são incorporados na trama, incluindo armas e vilões icônicos.
Contudo o filme peca muito no roteiro e tom da historia. Embora a história seja adequada para um público mais jovem, a trama é bastante convencional e esquecível. O filme também é inconsistente com o seu publico alvo, tentando fazer algo que agrade tanto os adolescentes e jovens adultos que jogaram os clássicos do PS2, como também os jovens da nova geração.
O filme flerta muito com piadas mais adultas e outras extremamente infantis. Caso não se saiba usar isso de forma inteligente como ocorre nos filmes da Pixar, a chance de muitas cenas só ficarem “cringes” é enorme, isso infelizmente aconteceu. No final o filme serviu a penas para gerar marketing para o novo jogo reboot da saga que lançou no mesmo ano.
Max Payne (2008)
E por fim o filme que me fez ter a ideia desta pauta. Max Payne dirigido por John Moore, é uma adaptação de game da popular Remedy Entertainment. O filme é um thriller de ação com elementos de sobrenatural e mistério. Sua estética gótica é visualmente impressionante e ajuda a transmitir a sensação de desespero que permeia a narrativa.
Mas no geral a trama é bastante confusa, se tornando incompreensível caso não tenha jogado o jogo, a adição de elementos sobrenaturais tira muito da seriedade do filme. Esses elementos existiam no jogo, mas eram apenas pequenos easter eggs para os jogadores, e não necessariamente canônicos.
As sequências de ação, especialmente aquelas que usam o efeito de bullet time, são consideravelmente emocionantes. Porém na ideia de passar a mesma sensação do jogo, o filme utiliza esse efeito constantemente, gradativamente tirando muito do impacto das cenas ação, as tornando cada vez mais monótonas. No final do dia temos um filme com uma estética bem interessante, mas que copiou demais elementos que funcionam em um jogo mas não em um filme.
Menções honrosas
Eu poderia ficar o dia inteiro escrevendo sobre quais filmes de jogos são os piores, mas os trabalhos de faculdade não se fazem sozinhos. Acabei por falar sobre os que considero mais desconhecidos e que tive contato durante a minha vida. Não citei filmes clássicos como os de Resident Evil, por serem figurinhas carimbadas da indústria. Aqui tá uma lista expandida para você que gosta de perder tempo como eu assistindo “trashzeira”.
- Street Fighter: A Lenda de Chun-Li (2009)
- Assassin’s Creed (2016)
- Tomb Raider: A Origem (2018)
- Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (2010)
- Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016)
- Monster Hunter (2020)
- Doom: A porta do Inferno (2005)
- Dead Rising: Endgame (2016)
- Final Fantasy (2001)
- Dynasty Warriors (2021)
Você conhece nossa campanha de apoio? Para apoiar o GeekPop News, basta escolher um dos planos disponíveis no site do apoia-se. Você pode contribuir com valores a partir de R$ 10 por mês e cancelar a qualquer momento. Quanto mais você contribui, mais benefícios você recebe.