Do Alabama ao mundo, o personagem simples e cativante conquistou gerações, e que sua história não termina onde o filme parou
Alguns filmes ultrapassam a tela. “Forrest Gump” é um desses raros casos em que a ficção se entrelaça com a realidade de maneira tão fluida que parece quase autobiográfica. Lançado em 1994 e dirigido por Robert Zemeckis, o longa estrelado por Tom Hanks atravessa três décadas de transformações sociais, culturais e políticas dos Estados Unidos, tudo sob o olhar ingênuo e cativante de um homem que, sem perceber, testemunhou (e influenciou) momentos históricos cruciais.
O filme conquistou 6 Oscars em 1995, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor (Robert Zemeckis) e Melhor Ator (Tom Hanks). Além disso, levou estatuetas por Melhor Roteiro Adaptado, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Edição.
Até os dias atuais, Forrest Gump continuam a gerar curiosidade nos espectadores. Cenas memorais, falas icônicas, inovações tecnológicas e histórias intrigantes fazem dele um filme imortal.
Os desafios por trás das câmeras
Dirigido por Robert Zemeckis, o filme enfrentou obstáculos criativos para a época. Muitas produções ainda recorriam a efeitos práticos, e o uso de computação gráfica ainda caminhava a passos lentos. Mas Zemeckis queria um filme memorável e inesquecível, e colocou sua equipe para descobrir, e até criar, uma tecnologia capaz de colocar Forrest em momentos históricos do passado.
Para dar vida às cenas com efeitos especiais, como quando Forrest encontra figuras importantes e históricas, a produção usou tecnologia de ponta à época, misturando imagens de arquivo com manipulação digital.
Uma das maiores inovações do filme foi a integração perfeita de Tom Hanks em arquivos reais de eventos históricos. Para que Forrest parecesse estar conversando com personalidades como John F. Kennedy, Richard Nixon e Elvis Presley, a equipe usou uma combinação de chroma key (tela verde), animação quadro a quadro e manipulação digital.
Cenas antigas foram reprojetadas em estúdio, com atores parecidos com as figuras reais refazendo os movimentos originais. Depois, a imagem de Forrest foi inserida digitalmente, ajustando iluminação e perspectiva para parecer natural. Quando Forrest “fala” com Kennedy, por exemplo, os animadores redesenharam os lábios do presidente para que parecessem responder ao diálogo do roteiro.
Outro exemplo interessan é com o ator Gary Sinise, que interpretou o tenente Dan, teve suas pernas removidas digitalmente em várias cenas. Em algumas tomadas, Sinise usou meias especiais que facilitavam a remoção das pernas no computador.
Os efeitos de Forrest Gump foram tão impressionantes que renderam à equipe um Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Muitas das técnicas usadas se tornaram padrão na indústria, abrindo caminho para filmes como O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), que também explorou o envelhecimento digital.
Curiosidade: diferente do que muitos pensam, o filme não foi filmado no Alabama, mas na Carolina do Sul e em Savannah, Geórgia. Além disso, o filme tem cenas na California e nas Ilhas Fripp.
Run, Forrest, Run!
A icônica cena de Forrest Gump em que ele decide correr sem parar pelos Estados Unidos foi inspirada na história real de Louis Michael Figueroa. Ele, que tinha apenas 16 anos na época, correu de Nova Jersey até São Francisco como parte de uma campanha para a American Cancer Society. Apesar de não terem dados concretos sobre a distância total percorrida ou sobre quanto tempo demorou, a cena inspirou o diretor Zemeckis. No filme, Forrest corre por 3 anos, 2 meses, 14 dias e 16 horas antes de decidir parar.
No entanto, é importante citar que o próprio Figueroa, em algumas entrevistas, expressou que a cena do filme não foi diretamente baseada em sua corrida de 1982. Ele disse em reportagem ao The Arizona Daily Wildcat que reconhece a similaridade, mas que acredita que não teve tanta influência ou inspiração direta para a totalidade da jornada de Forrest.
Vamos deixar uma das fontes confiáveis onde você pode encontrar mais informações sobre Louis Michael Figueroa e sua incrível jornada no Museum of Travel and Tourism.

Elenco perfeito e suas histórias incríveis
O sucesso de Forrest Gump (1994) não se deve apenas ao roteiro brilhante ou aos efeitos especiais inovadores, mas também ao elenco talentoso que trouxe profundidade e humanidade aos personagens. Desde o protagonista até figuras secundárias, cada ator deixou sua marca no filme, contribuindo para seu status de clássico atemporal.
Nenhum outro ator poderia ter interpretado Forrest com tanta sensibilidade e carisma quanto Tom Hanks, que levou para casa o Oscar de Melhor Ator por sua atuação. Hanks capturou perfeitamente a inocência, a determinação e o coração puro do personagem, tornando-o um dos protagonistas mais amados do cinema. Uma curiosidade interessante, Tom Hanks não recebeu salário fixo, em vez disso, ele optou por uma porcentagem dos lucros e ganhou mais de US$ 60 milhões. Além disso, ele ajudou a financiar várias cenas do filme que o estúdio se recusava a pagar. Ele chegou a pagar do próprio bolso algumas das cenas* mais importantes do longa, como a corrida pelo país.
Mas ele não foi a primeira escolha do diretor para o filme. Inicialmente, outros atores como John Travolta, Bill Murray e Chevy Chase foram considerados para o papel. No entanto, por diferentes razões, eles não aceitaram a proposta. Travolta, inclusive, chegou a dizer publicamente que esse foi um dos maiores erros de sua carreira.
Elenco de apoio: personagens que ampliam a alma do filme
Ao lado de Hanks, Robin Wright deu vida a Jenny, o amor da vida de Forrest e uma das personagens mais complexas do filme. Sua personagem é um reflexo claro da época. No livro Gump & Co., escrito por Winston Groom como continuação do romance original, a personagem Jenny já faleceu antes dos acontecimentos principais da nova história. Importante destacar que, enquanto o filme suaviza e romantiza alguns aspectos de Jenny, os livros, tanto o original quanto Gump & Co. — são mais diretos ao retratar suas escolhas de vida e suas consequências.
Já Michael Conner Humphreys, que viveu o jovem Forrest não teve muito sucesso na carreira artística. Após seu papel como o jovem Forrest Gump, ele decidiu deixar a atuação para ter uma infância e educação mais normais no Mississippi. Não teve uma vida de muito encanto, se alistou no Exército dos EUA e serviu por quatro anos, incluindo um período de 18 meses de serviço no Iraque.
Após o serviço militar, estudou relações internacionais e chegou a fazer ponta em um filme independente sobre a Segunda Guerra Mundial chamado Pathfinders: In the Company of Strangers, mas nada muito promissor. Hoje ele é professor no estado do Oregon.

Mas sem sombras de dúvidas, um dos personagens que mais marcaram no filme foi o Bubba, interpretao por Mykelti Williamson. Bubba era o melhor amigo de Forrest no Vietnã, cujo sonho era ter um barco de camarão. No filme a relação entre os dois transcende a guerra, e inspirou Gump a seguir o sonho do amigo como forma de honrá-lo. Um detalhe interessante sobre essa amizade, quando Forres se casa com Jenny é possível ver a família de Bubba no casamento.

Outro exemplo interessante da importância do personagem foi o lançamento de “The Bubba Gump Shrimp Co. Cookbook: Recipes and Reflections from FORREST GUMP” (1994). Este livro, em vez de narrar uma história sobre Bubba Blue, presta uma homenagem culinária à sua paixão pelo camarão e à famosa empresa que surgiu da promessa feita a Forrest. Com diversas receitas de pratos à base de camarão e trechos memoráveis do filme, a publicação oferece uma perspectiva singular sobre a influência duradoura de Bubba na narrativa.
Qual a causa da morte de Jenny, afinal de contas?
Uma das dúvidas mais frequentes para quem só assistiu ao filme é sobre a causa da morte de Jenny. Fica implícito que ela morreu em decorrência de uma doença viral, que muitos dizem ser HIV. Porém, no segundo livro, ele menciona que Jenny morreu de hepatite C, uma doença que ela provavelmente contraiu durante seus anos de envolvimento com drogas e uma vida bastante conturbada na juventude.
Essa causa de morte é citada de forma direta, mas sem grandes detalhes ou dramatizações, mantendo o tom simples e direto característico da narrativa de Forrest. Na época da publicação do livro (1995), a hepatite C era uma doença pouco conhecida pelas pessoas e ainda não tinham muitas informações médicas sobre a doença. Hepatite é uma doença viral grave, especialmente perigosa antes da popularização dos tratamentos modernos. Essa confusão é compreensível, já que o roteiro evita mencionar diretamente a causa da morte, deixando espaço para interpretações.
Fique atento à sua saúde!
Se você acha que pode estar com HIV ou teve alguma exposição de risco, procure o posto de saúde mais próximo e faça o teste gratuito. O diagnóstico precoce é fundamental e o tratamento com antirretrovirais é 100% gratuito pelo SUS. Hoje, pessoas que vivem com HIV podem ter qualidade de vida e viver por muitos anos com saúde.
Gump & Co.: A Continuação que Nunca Virou Filme
Embora Forrest Gump tenha sido um sucesso estrondoso e tendo sido baseado em um livro de 10 anos antes, sua continuação literária, Gump & Co., nunca foi adaptada para o cinema. O livro segue Forrest nos anos 1980, em meio a novas aventuras, incluindo interações com figuras reais como Bill Gates. Apesar das ideias para um segundo filme, os planos foram descartados após os atentados de 11 de setembro, que mudaram o tom das produções de Hollywood. Um dos motivos seria a abordagem mais ácida e satírica do livro, que contrasta com o tom emotivo e otimista que consagrou o longa original.

Forrest Gump continua sendo um dos filmes mais queridos do cinema, não apenas por sua história emocionante, mas por seu impacto cultural duradouro. Afinal, como diria Forrest: “A vida é como uma caixa de chocolates—você nunca sabe o que vai encontrar.” Detalhe, essa frase foi improvisada por Tom Hanks de maneira genial.
O livro em inglês está disponível na Amazon. Ainda não há tradução em português da obra.
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*In Depth With Graham Bensinger em 2020