Um dos jogos que marcou uma geração de fã de games clássicos foi God of War, que é uma grande paixão para muitos até hoje. Não somente, uma paixão, a franquia trouxe a mitologia grega à tona em uma grande adaptação, que seguiu até God of War Ascension.
Mas afinal, quais as diferenças e narrativas que temos e onde elas se distanciam uma da outra? Vem comigo que eu te conto!
Vamos começar falando de mitologia
Se você se encantou pelo game tanto quanto eu quando joguei pela primeira vez, com certeza deve ter ficado imerso nesse universo.
Porém, quando falamos de mitologia, é importante lembrar que esse conceito tem origem na palavra mythos, que significa contar, narrar ou anunciar algo. Ou seja: a mitologia grega seria a narração de um conjunto de histórias de algo ou de alguém, que foi contada para tentar explicar algo.
E por falar em explicar, era papel da mitologia tentar explicar coisas que não tinham fundamento. Aqui, a mitologia tentaria explicar como as chuvas aconteciam, além de fenômenos naturais como o frio, o calor, as ondas do mar.
Inclusive, coisas como a vida e a passagem para a morte também seriam explicadas pela mitologia, e não é à toa a figura de Hades.
Perceba, inclusive, que para cada uma dessas coisas que eu citei aqui em cima, existe um deus que tinha, ou melhor, dominava, esse elemento.
Por exemplo, o próprio Poseidon, rei dos mares, ou ainda, Hélio, o deus Sol (geralmente relacionado como Apolo nas escrituras gregas); Athena, a sabedoria; Ares, a guerra, e por aí vai.
Características e atributos dos deuses
Um dos detalhes mais encantadores e interessantes da mitologia é que os deuses sempre belos e descritos como superiores.
Todavia, o único deus que foge desse padrão é Hefesto, que é o deus ferreiro/operário.
Além disso, os deuses não experimentam de sentimentos como a tristeza, e aqui você pode estar se perguntando: e Hades, o deus do submundo? Neste caso, Hades seria, na verdade, mais sério, o que não seria um sinônimo de tristeza em si.
O que os deuses experimentam, na verdade, são sentimentos mais humanos e carnais como o próprio desejo, felicidade, ambição e muitos outros, como a própria paixão, que dá a origem aos semideuses, que seriam os filhos dos deuses com os mortais.
E é claro que aqui surge a figura de Kratos, o nosso protagonista em God of War.
História de Kratos na mitologia e em God of War
Em God of War 1, Kratos é, na verdade, um guerreiro, que começa a sua jornada em direção da cidade da Ática para ajudar a defender a cidade do exército persa. Ao longo dessa jornada, ele enfrenta o rei persa e o basilisco, e depois disso, ele testemunha o sol caindo do céu e trazendo a escuridão para o mundo.
Aos poucos, ele segue o pequeno feixe de luz que ainda resta no horizonte, atravessando assim a cidade de Maratona e encontrando a névoa de Morfeu, que cobre a terra. E claro, ele encontra o Templo de Hélio, que é de onde vem a luz restante que ele vislumbrou no horizonte.
Aqui, ele encontra uma estátua de Athena, que lhe conta sobre o desaparecimento de Hélio, pedindo a Kratos para que ele retire o poder de Morfeu sobre a terra.
Porém, Kratos ouve uma melodia, que depois ele reconhece como a música que a sua filha, Calíope, cantava.
E por falar em memórias, em várias cut scenes, Kratos enfrenta a culpa pela morte da sua esposa e da sua filha, que é o que o move em sua vingança contra os deuses.
O que a mitologia nos conta sobre Kratos e Calíope?
Ainda falando de memórias, originalmente, Calíope (ou “a da Bela Voz”) é uma das 9 musas da mitologia grega, filha de Zeus e Mnemosine, que é a titã que personifica a memória. Será que, talvez, o fato de Kratos rememorar “a bela voz” de sua filha cantando seria uma associação com as personas da mitologia grega original?
O mais curioso é que na mitologia grega, Kratos é filho de Pallas, a titã da batalha e da guerra, e Estige, uma entidade do submundo, que também é conhecida como o rio da invulnerabilidade.
A partir disso, muita coisa se explicaria no game e faria bastante sentido para a personalidade e narrativa do nosso guerreiro, não é mesmo?
Ao contrário do que temos nos games, já que Kratos seria, dentro do universo de God of War, filho de Zeus, e irmão de Athena e Ares.
Outra diferença que temos na história de Kratos é que na mitologia grega, os seus irmãos seriam:
- Zelos, que corresponde à representação da rivalidade
- Nike, que seria a representação da vitória
- Bia, que seria a representação da força
Aqui, é possível notar algumas semelhanças na representação dos deuses, já que o Ares do game poderia ser Zelos, e Bia, poderia ser Atena.
God of War e a Guerra de Titãs
Outro ponto que diverge no game é a Guerra de Titãs, já que na mitologia grega, a guerra seria motivada pelo desejo dos titãs de terem o controle do universo.
Ao final da guerra, os deuses vencem, e aqui, Kratos e Bia se tornam as figuras mais importantes do Olimpo, já que o guerreiro se tornou a personificação do poder de Zeus, e Bia, se tornou a força do rei dos Deuses.
No game, a guerra de titãs se estende até o God Of War 2, sendo liderada por Gaia, a titã mãe, que podemos associar à Mãe Terra.
Assim, em God of War 2, Kratos batalha contra os titãs e contra Gaia, derrotando-a e tomando posse de todo o poder da guerra.
Prometheus
Na mitologia, temos uma descrição dele feita por Platão, que ao escrever Protágoras, descreve que Prometheus invadiu o palácio de Zeus, onde residiam Hefesto e Athena, que seriam o deus ferreiro e a deusa da Sabedoria e da estratégia de guerra, respectivamente. Tamanha a astúcia de Prometheus, que ele passa pela guarda do palácio, que seria Kratos e Bia, rouba o fogo dos deuses e leva para os humanos.
Na versão contada por Hesíodo, Prometheus e seu irmão Epimetheus receberam a tarefa de criar os humanos e todos os animais, onde um teria a tarefa de criar, e o outro, de supervisionar.
Epimetheus atribuiu aos animais várias características, como por exemplo, a sagacidade, rapidez, força, asas, carapaças e outros. Quando chegou a vez do homem, ele o criou a partir do barro. (qualquer semelhança bíblica é mera coincidência)
Porém, ao criar os humanos, não haviam mais características especiais para atribuir à eles, e assim, Epimetheus recorreu a seu irmão, sendo esse o motivo do roubo do fogo de Héstia, o que tornaria os humanos superiores a todos os animais.
Entretanto, os deuses clamavam exclusividade pelo fogo, trazendo para esta figura mitológica a seguinte punição: ele é condenado a ficar acorrentado a uma rocha no cume do monte Cáucaso por 30 mil anos.
Não sendo suficiente, ele teria o seu fígado devorado diariamente por uma águia, e ao final de cada dia, ele se regenerava, dando continuidade ao seu sofrimento.
Na mitologia, Zeus havia decidido dar a pior das punições para Prometheus, e Kratos, para torná-la muito pior, solicita de Hefesto que as correntes sejam ainda mais apertadas, fazendo com que ele sofra ao máximo.
O que se passa em God of War 2?
Um dos diálogos que o nosso deus da guerra tem com Prometheus é questionando quem o deixou preso àquela tortura, o que dá origem a um dos puzzles do game, e, claro, à uma grande diferença entre os dois.
A primeira delas é a localização do tormento do titã, já que aqui o encontramos acorrentado a uma das mãos do titã Typhon.
Além disso, a segunda é que Prometheus implora a Kratos pela sua libertação, que o acerta até que ele caia da mão de Typhon. Porém, a sua corrente continua segurando-o sobre o fogo do Olimpo.
Aqui, Prometheus pede para que Kartos o mate, queimando-o nas fogueiras. Como Kratos não consegue atingir as correntes, ele retorna à sua jornada na caverna de Typhon, e após a batalha, conquista o Typhon’s Bane, voltando e libertando-o do martírio.
E aqui, Kratos recebe o Rage of Titans, que ele utiliza para libertar Pegasus e continuar a sua jornada em direção às Irmãs do Destino.
Inclusive, as diferenças não estão apenas na narrativa, mas também no desenvolvimento do game, onde Kratos acaba com o sofrimento de Prometheus.
Ou seja: temos uma diferença e tanto entre a mitologia e o game, não é mesmo?
Referências
LIMA, Fábio Souza. God of War, mitologia e filosofia. Revista Educação Pública. Rio de Janeiro, 2018.
Podcast Noites Gregas. Episódio #1: o que é um deus?
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