Lacração é um termo recente usado para se referir, de forma pejorativa, aos movimentos voltados à defesa de direitos humanos, como o feminismo, o antirracismo e os grupos pró-LGBTQQICAAPF2K+. Essa expressão também é comumente usada para criticar a abordagens desses temas em séries, filmes, música e demais obras de entretenimento produzidos entre o final da primeira e o começo da segunda década dos anos 2000.
No entanto, estes assuntos já se faziam presentes na TV aberta muito antes do fortalecimento dessas discussões na internet e da criação do streamings. Um exemplo disso são algumas novelas que propuseram fortes reflexões e quebras de tabus acerca de temas como gênero, sexualidade, raça e diversos outros.
Mulheres Apaixonadas inspirou mudança na legislação
Um exemplo disso é a novela Mulheres Apaixonadas, que estreou na emissora Globo em 2023. Criada por Manoel Carlos, a trama expõe diversas questões, como racismo, elitismo, homofobia, violência contra a mulher e até mesmo o abuso contra os idosos, que ajudou a acelerar a criação do Estatuto do Idoso. Entre os núcleos que mais chamavam atenção estava o da vilã Dóris, uma jovem mimada que humilhava e furtava constantemente seus avós.
Além disso, a novela também mostrava o drama do casal Clara e Rafaela, que enfrentavam diariamente a homofobia da mãe de Clara, que tentava, de todas as formas, mantê-las separadas. Elas também tinham que lidar com as provocações de Paulinha, uma jovem que esnobava o próprio pai, por vergonha de sua baixa renda. Outro tema que também foi marcante na novela foi a violência doméstica, representado através do relacionamento abusivo entre Raquel e Marcos.
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Lacração ou representatividade? Da Cor do Pecado apresenta primeira protagonista negra de novela contemporânea
Em 2004, a novela Da Cor do Pecado trouxe a atriz Taís Araújo como a primeira protagonista negra de uma novela contemporânea e urbana da Globo. Pela criação, João Emanuel recebeu o troféu de Autor Revelação de 2004 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Na trama, o eixo central é o relacionamento interracial entre o botânico rico Paco e a feirante pobre Preta. Os dois se apaixonam, mas enfrentam grandes desafios em nome do amor, principalmente o racismo. Em uma das cenas, Preta chega até mesmo a ser acusada de roubo devido a uma armação do vilão Tony.
Capacitismo, racismo e famílias abusivas em Páginas da Vida
Em Páginas da Vida, de 2006, o foco principal é a Síndrome de Down. Na trama, a protagonista Helena adota a menina Clara, diagnosticada com a síndrome. Durante sua criação, Helena enfrenta diversos desafios devido ao forte preconceito contra a criança. O principal deles é o capacitismo, que consiste em acreditar que uma pessoa com deficiência (PCD) é incapaz de aprender ou realizar alguma tarefa. Devido a isso, Helena teve que lutar para que Clara não fosse excluída das atividades escolares pelos próprios professores, que se recusavam a ensiná-la.
A trama também chama a atenção para a temática do racismo através da personagem Gabriela, que, apesar de possuir a pele negra, assumiu um comportamento racista devido à criação de sua mãe. Em uma das cenas, a menina chega a tentar se recusar a ser vacinada por um médico devido à sua cor de pele e chora quando não tem seu capricho atendido. Por fim, ainda há a violência de Marta, que maltratou sua filha Nanda ao descobrir que a jovem voltou grávida de um intercâmbio. Dessa forma, o enredo mostrou que relacionamentos abusivos também podem acontecer no eixo familiar.
Viver a Vida aborda elitismo e acessibilidade
Em 2009, Viver a Vida, de Manoel Carlos, trouxe uma provocação sobre a falta de acessibilidade no Brasil. A história gira em torno de Luciana, uma jovem rica e mimada que se sentia superior aos demais devido à sua posição social. Acostumada com luxo e conforto, sua vida muda quando um trágico acidente a deixa tetraplégica. Durante toda a trama, a protagonista precisa lidar não apenas com a deficiência física, mas também com os desafios impostos pela falta de acessibilidade no país. Através dessa jornada de superação, Luciana aprende também diversas lições sobre humildade e respeito às diferenças.
América e a imigração ilegal nos EUA
Por fim, a novela América, de Glória Perez, estreou em 2005 e teve como protagonista a jovem Sol, que sonhava em emigrar para os Estados Unidos. A jovem carioca, que teve uma infância miserável, acredita que mudar de país é sua única chance de ter uma vida melhor. Porém, devido à precariedade de suas condições financeiras, ela enxerga a imigração ilegal como a única forma de realizar o seu sonho e se livrar da miséria. Para isso, ela atravessa a fronteira do México e, no caminho, conhece Tião, que foi criado no interior do Brasil e deseja ser campeão de rodeios.
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