Em “Manual prático de educação antirracista”, o escritor e professor Allan Pevirguladez propõe formas de auxiliar na construção de uma relação mais inclusiva. Assim, o autor se comunica com pais, educadores e empresários para promover uma relação mais saudável e igualitária dentro dos ambientes.

O início

Em agosto de 2022, uma canção antirracista desenvolvida por Allan Pevirguladez, com seus alunos da Educação Infantil de uma escola pública do Rio de Janeiro, “viralizou” nas redes sociais. O conteúdo chamou a atenção ao abordar a diversidade de cabelos de forma positiva. 

O livro “Manual prático de educação antirracista” surge, assim, de uma inspiração após ver resultados positivos de uma atividade escolar.  Aqui, o autor declara que, após as voltas às aulas presenciais, cercou-se de autores negros de literatura infantil. Para, assim, difundir mensagens antirracistas a partir das histórias que contava. Tal iniciativa é de suma importância para o país. 

Isso porque, de acordo com informações de uma recente pesquisa que consta na Avaliação da qualidade da Educação Infantil: um retrato pós-BNCC, mostram que quase 90% das turmas de Educação Infantil do país ignoram o uso de temas raciais em suas atividades. O estudo foi realizado pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal em parceria com o Itaú Social. 

A realidade da consciência racial na educação infantil

Foto de Allan Pevirguladez e alunos
Foto: Reprodução / @pevirguladez_

Outro assunto que vai ser discutido na obra de Allan Pevirguladez é a violência vivida nas escolas públicas brasileiras. Aqui, o autor ressalta a frequência de agressões físicas e verbais no âmbito escolar. Ressaltando, assim, que não ocorre somente entre brancos e negros, mas também entre negros e negros. Revelando, portanto, mais uma faceta da estrutura perversa e carente de consciência racial no Brasil.

Outra perspectiva interessante que “Manual prático de educação antirracista” aborda é o contexto histórico da luta antirracista no país. O autor desenvolve a trajetória dos primeiros africanos escravizados que se rebelaram contra os seus senhores e promoveram as primeiras fugas e formações de quilombos.

 Embora possamos ver tais movimentos como admiráveis, Allan destaca uma infeliz realidade que permanece no Brasil: de que a cada 23 minutos um jovem negro é vítima de assassinato neste país. 

A solidão da criança negra no ambiente escolar

Para alguém que acessa frequentemente as redes sociais e não treinou o algorítimo para viver em uma “bolha” sem informações sociais, não é de se espantar a ausência de uma construção da imagem do negro de forma positiva nas escolas. Dessa forma, Allan ressalta como isso pode ser determinante para o rendimento escolar de uma criança negra. 

Além disso, conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, antes de completar quinze anos, uma criança negra tem três vezes mais chances de ser morta do que uma branca.

É neste ponto que o Racismo Recreativo é introduzido no livro. Allan o define como a ideia de que o negro é inferior ao branco em aspectos morais, estéticos, intelectuais e sexuais. Diante disso, a autoestima de uma pessoa preta seria quebrada. 

O meu cabelo

É bem bonito

É black power

E é bem pretinho

Deixe de bobagem, pretinho

Quem foi que disse que você não é lindo?

Impressões sobre o livro

A abordagem do racismo em “Manual prático de educação antirracista” de Allan Pevirguladez é didática e proativa. Logo, o que o autor tenta é explicar as diversas formas de racismo, partindo tanto das mais populares e debatidas como aquelas que ainda necessitam de mais atenção. A partir disso, ele inclui métodos e orientações de como desenvolver e melhorar a didática nas escolas. 

Existe, ainda, uma inclusão de leitores. Isso porque Allan não pretende falar somente com professores e profissionais da educação, mas com os pais, irmãos e amigos de pessoas pretas. Gosto de como ele deixa escurecido (evidente) como a abordagem antirracista não precisa se prender a moldes.  Portanto, cada professor, a partir de sua bagagem, pode e deve trazer repertórios que ajudem na luta no conteúdo escolar. 

Vale destacar, ainda, o ponto de vista do livro de que a educação antirracista é uma ação liderada pelo movimento negro, porém não é uma responsabilidade única deste. Logo, é importante que a branquitude adquira discursos e comportamentos a favor dessa luta na sua rotina. 

Nesse sentido, o que Allan propõe para as pessoas brancas, é a compreensão de que o protagonismo branco precisa ser deixado de lado e que esse grupo também terá de sofrer um pouco se quiser evoluir e aprender com seus erros. Tantos as falhas do passado como as do presente.

Sobre o autor 

Foto: Reprodução / 1ALMAPRETA

Allan Pevirguladez é professor na rede pública há 17 anos. É também consultor antirracista do Instituto Vini Junior, além de cantor. É o criador da MPBIA, um projeto musical que originou no lançamento do álbum Música popular brasileira infantil antirracista, volume Um. Sua prática de ensino antirracista tem influenciado pedagogos, professores, psicólogos, pediatras e teses de mestrado. Possui conta ativa no Instagram