Em novo romance, a poeta e multiartista Tara M. Stringfellow retrata a cultura afro-americana em tributo às mulheres negras.

Em “Memphis”, três narrativas, separadas por setenta anos, se entrelaçam no tempo. O novo livro da estreante Tara M. Stringfellow, que será publicado com o selo Tordesilhas, apresenta vozes que refletem sobre os legados e a ancestralidade do povo negro. A obra traz um olhar sobre a complexidade das experiências familiares e sociais do povo afro-americano, e aborda temas como a brutalidade, perdão, justiça, sacrifício, fé e amor.

O livro também ganhou uma versão exclusiva pela TAG Curadoria, no ano de 2023. Seu destaque está nas narrativas de quatro personagens principais, sendo elas Joan, Miriam, August e Hazel. Através das perspectivas dessas personagens, a autora constrói sua história em torno do cenário de racismo sistêmico.

“Memphis” e o tributo às mulheres negras

Imagem de capa do livro Memphis, da autora Tara M. Stringfellow. No livro, vemos um desenho de silheta de uma mulher sentada em uma cadeira, atrás dela, uma segunda mulher apoia-se na cadeira. Na frente, vemos duas crianças sentadas sorrindo.
Foto: Divulgação | Tordesilhas

Dessa maneira, a trama se desenrola em um dos acontecimentos mais marcantes da história de Memphis, quando Martin Luther King Jr. foi até a cidade, devido à greve dos trabalhadores do saneamento. Assim, esse é um evento crucial na trama, que serve como catalisador para a reflexão e ação das personagens diante das injustiças e desigualdades raciais que enfrentam.

Portanto, no desenrolar dessa história, a autora transita entre capítulos do presente e passado. Assim, explorando junto das personagens os detalhes revelados sobre sua ancestralidade. A história começa em 1995, quando Miriam foge de um casamento violento com as suas filhas, Joan e Mya. Elas retornam à casa de infância, onde moram agora a irmã e o sobrinho de Miriam.

O desenrolar da história

A partir daí, se inicia um período de oito anos em que eles compartilham a mesma casa. Mas, essa não é a primeira vez que a violência interfere na vida dessa família. É então que descobrimos que, há 50 anos atrás, o avô de Joan havia construído uma casa no bairro negro de Douglas. Assim, ele sofreu a retaliação da cidade, depois de se tornar o priemiro detetivo negro da cidade.

Eu tinha ouvido tia August dizer à mamãe que a maioria dos brancos fugira para o campo no início da década, para os campos de algodão do condado de Shelby e suas escolas só para brancos. Às vezes eu achava que as gangues eram uma bênção de certa forma. Fizeram Memphis se tornar negra. Totalmente. Homens e mulheres negros corriam por essas ruas sem um branco à vista — um alívio.

(Stringfellow, Memphis, p. 113)

E assim, Joan precisa lidar com os segredos familiares enquanto constrói sua nova vida. À medida que ela amadurece, encontra refúgio na arte, pintando retratos das pessoas da cidade. E é uma de suas modelos, a Srta. Dawn, quem ajuda Joan a perceber como sua paixão e imaginação são, na verdade, uma continuação de uma longa tradição. Portanto, é através do pincel, da arte, que Joan descobre o poder que precisa para transformar seu legado e de sua própria família.

Através das tragédias, alegrias e conexões das personagens, aprendemos sobre resiliência, cultura e a força de seu povo, em um inspirador tributo às mulheres negras. Além disso, o livro foi dedicado a Gianna Floyd, filha de George Floyd, assassinado em 2020 por um policial branco em Minneapolis, nos EUA.

Sobre a autora Tara M. Stringfellow

Imagem da autora do livro "Memphis", Tara M. Stringfellow. Na imagem, a autora aparece pousando com uma blusa amarela, batom vermelho e cabelo preso em um penteado, olhando para a câmera.
Foto: Autora Tara M. Stringfellow | Divulgação

Ex-advogada, Tara M. Stringfellow é multiartista e poeta. Graduada em Master of Fine Arts pela Northwestern University em Poesia e Prosa, ela já foi indicada a dois prêmios Pushcart e Best of the Net. Assim, a autora já teve seu trabalho publicado no Minerva Rising, Jet Fuel Review, Women’s Arts Quarterly, entre outros veículos renomados. Em 2008, teve sua primeira coleção de poesia com título “More than Dancing” publicada pela Third World Press.

“Memphis” é seu primeiro romance público e já venceu o Book Pipeline Fiction Contest, sendo um forte candidato a adaptação para filmes e séries de TV. Assim, Tara já viveu em Okinawa, Gana, Chicago, Espanha, Cuba, Itália e Washington DC. Por fim, retornou a sua cidade, Memphis, onde passa as noites em companhia do seu cachorro, Huckleberry, ouvindo música em sua varanda.

Redatora em experiência sob supervisão de Giovanna de Souza