Depois de uma temporada gratuita em São Paulo, no Itaú Cultural, no início de maio, “O Avesso da Pele” segue reafirmando o teatro como espaço crucial cultura e transformação. O espetáculo é adaptado do romance de Jeferson Tenório, com direção por Beatriz Barros e atuação do Coletivo Ocutá. O enredo é um mergulho nas memórias de Pedro, um jovem negro que revisita a trajetória do pai, Henrique, um professor da rede pública morto pela violência policial.
Embora o tema seja denso, a encenação o atravessa com poesia, música, dança e ritmo. Não à toa, o funk carioca encontra espaço ao lado da literatura falada. Com estreia em 2023 e passagens por São Paulo e Rio de Janeiro, a montagem chegou à capital paulista pela terceira vez cercada de expectativa. A peça emociona e provoca o pensamento ao combinar potência estética com denúncia social.
O trabalho se destacou pelo cuidado na direção e pela presença cênica do elenco. As atuações dão corpo e voz à ferida aberta do racismo estrutural no Brasil. A proposta concebida não é confortar, mas tensionar os espectadores dando vida à narrativa da obra.

A força da narrativa de Jeferson Tenório
Publicado em 2020, “O Avesso da Pele” recebeu o Prêmio Jabuti de melhor romance literário. A leitura se tornou referência na pauta das marcas do racismo na subjetividade negra. O enredo acompanha Pedro, que lida com o assassinato de seu pai Henrique, enquanto tenta reconstruir sua identidade a partir das lembranças, silêncios e descobertas sobre a vida do progenitor.
Dessa forma, por meio de uma escrita precisa, Tenório discute a formação de um homem negro em um país que insiste em invisibilizá-lo. Embora a narrativa não siga um tempo linear, ela é profundamente íntima. O autor mistura passado e presente, experiências vividas e herdadas, sem abrir mão da crítica social. Assim, o romance se desdobra como denúncia, mas também como homenagem à ancestralidade.
Com isso, a peça não apenas transpõe o texto literário para o palco, mas o ressignifica. Ao incorporar corpo, voz e movimento, ela transforma literatura em presença. Como resultado, o que era silêncio se torna fala e a dor se torna política.
Ficha Técnica
Realização: Coletivo Ocutá
Direção: Beatriz Barros
Assistência de direção: Vitor Britto
Elenco: Alexandre Ammano, Bruno Rocha, Marcos Oli e Vitor Britto
Dramaturgia: Beatriz Barros e Vitor Britto
Direção musical: Felipe Oládélè
Preparação corporal e direção de movimento: Castilho
Preparação vocal: Malú Lomando
Concepção e criação do desenho de luz: Gabriele Souza
Figurino: Naya Violeta
Cenografia: Wanderlei Wagner
Operação de luz: Gabriele Souza e Nayka Alexandre
Operação de som: Hugo Bispo e Samuel Gambini
Direção de produção: Jennifer Souza
Produção: Corpo Rastreado – Jack dos Santos
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