Caso tenha perdido a parte 1, acesse ela aqui.
Meus queridos Homo Sapiens, está na hora de começar a dar o amarro político na cultura pop.
Por que a cultura pop, assim como tudo, pode ser chamada de política?
Primeiro temos que definir o que é política. Embora seja algo de ampla definição, mais do que temos espaço aqui, política é mais do que apertar uns números aleatórios em uma caixa eletrônica e esperar pelo melhor.
Política
É a arte de decisão que guia a sociedade. É o poder de dizer como a sociedade seguirá, em que focar e dizer quem ela é. Fazer manutenção das instituições e garantia dos direitos e deveres de um povo. Pode parecer distante, mas todas as definições e construções da sociedade foram uma decisão política, consciente ou não.
Quando pensamos nas construções pensamos logo nas pautas populares como, racismo, misoginia, previdência social e muitos outros.
Eu já citei que envolve todo o nosso processo de reconhecimento como pessoa e da sociedade, mas acho que não citei o quão profundo.
O conceito de pegar um ônibus é uma construção social, fomos socializados à ver isso como normal, quando o que realmente acontece é:
Uma pessoa entra em um veículo repleto de desconhecidos, com um motorista também desconhecido, ela com apenas a confiança acredita que o veículo irá passar perto de onde deseja ir e a troca monetária para essa viagem é comunitária, pois a viagem é paga por todos os desconhecidos que estão no ônibus.
Olha como essa coisa absolutamente estranha nos parece completamente natural, tanto que nem paramos para refletir sobre.
A socialização de uma criança é a própria construção dessa criança, quando a mãe fala que não pode pegar um brinquedo de outra criança no parque, aquilo é uma construção social, a mãe tá ensinando a respeitar posse de outro, pois na sociedade se uma pessoa tem posse de algo e você pegar, isso não é aceito socialmente.
Pode parecer óbvio, mas pense nos filmes do Tarzan. Tanto a animação quanto os live-actions. Quando ele via objetos novos de outras pessoas, ele apenas pegava e observava o objeto, depois apenas jogava no canto. A própria ideia de posse é uma construção social.
Acho que esses exemplos mostram o quão à mercê da construção social nós vivemos.
Agora que temos a construção social e política melhor definidas, podemos ir para os exemplos.
Primeiro Exemplo Político — HQ
Provavelmente, se você gosta de quadrinhos, você gosta de heróis como Batman ou Tony Stark.
E se eu te contar que eles têm dentro de si os ideais liberais que estão há décadas sendo normalizados? Claro, não é dito explicitamente.
Batman é um herdeiro bilionário que com seu dinheiro poderia acabar com todo crime e miséria de Gotham, mas prefere gastar milhões para ser “herói” da cidade.
1- Batman nos ensina a desconfiar e antagonizar a força do estado que foi feita para proteger o cidadão.
2- Ele se põe como vigilante, mas se recusa a dividir a tecnologia que usa para proteger com o estado, deixando a população precisando dele ao invés de ensiná-los a se defender.
3- Ele age por conta própria. Não teve votação da população. O que ele faz foi uma decisão apenas dele, porém que tem consequências na sociedade inteira.
Todos esses são ideais liberais:
1- O estado mínimo então abre uma desconfiança com o estado.
2- O respeito à propriedade privada acima de tudo, até do bem comum.
3- O último o descaso com a opinião popular, o pensamento é do indivíduo e se ele pode pagar, ótimo.
Inclusive a premissa de um vigilante autônomo é a mesma premissa das milícias.
“Nossa Henry mas ninguém vê isso, só vê lutinha”
As assimilações que fazemos de repetições de coisas simples abrem a mente da população para entender melhor as ideias. Mas existem personagens mais explícitos.
O Capitão América tem imbuído nele todos os ideais americanos. Ele é uma propaganda em movimento do “American way of life”, mas ele também é muitas coisas.
Ele mostra como o americano é sempre o bonzinho e o vestido de vermelho com sotaque ou russo ou de outra região que os EUA antagoniza é sempre mostrado como vilão. Mostrando para as crianças quem é o herói.
Ou talvez Disney, que sempre colocava vilões com aparências queer, uma escolha política ensinando a população que pessoas LGBTQIA + são vis.
E por último desse tópico, a decisão política de perpetuar a mulher como dona de casa fazendo das princesas da Disney mulheres que tinham que ficar bonitas pois qualquer hora apareceria um homem que mudaria a vida delas.
Esse último foi comprovado de que uma geração inteira de meninas americanas cresceu até 7 vezes mais insegura que meninos na mesma época.
Essas decisões não foram feitas por acaso, foram decisões políticas da aceitação e idealização do que um americano deveria ser, e a política endossou e incentivou iniciativas que tinham essa construção em mente.
Como foi o caso das boy bands de cantores negros que foram deliberadamente abafadas para não estragarem a imagem do que eles queriam que fosse a música americana.
Se para conseguir sucesso uma pessoa precisa dar 10 passos e outra precisa da 100, isso é uma escolha política, pois o governo que decide como os privilégios são divididos.
Segundo Exemplo Político — História
Esse não é da cultura pop mas merece seu espaço. Por favor, lembre da estátua queimada em São Paulo há pouco tempo.
Agora pense em Tiradentes. Porque ele é famoso? Porque ele tem um feriado?
“Uai Henry, porque ele foi um inconfidente morto famoso.”
Sim, mas porque ele? Tinham vários inconfidentes, inclusive tão importantes quanto ele, porque o dia não chama dia da inconfidência mineira então?
Simples, pois o que se destaca e se esconde da história também é uma decisão política. Um país recém formado precisa de uma identidade nacional e a criação de heróis nacionais é uma boa maneira de manter a união e evitar revoltas.
Até a história e o que é contado dela é uma decisão política.
Terceiro Exemplo Político — Anime e Animações
Esse exemplo é uma evidência de como a americanização funciona.
A maioria das histórias que consumimos da cultura nerd tem duas origens estrangeiras.
Estados Unidos e Japão.
Mesmo a japonesa foi americanizada. Durante o período Meiji aconteceu a americanização do Japão de durante os últimos 50 anos do século XX os EUA injetaram dinheiro no Japão para manter ele “capitalista” e, assim, parar a força da URSS na Ásia.
Então evidentemente o Japão foi americanizado, tanto que o estilo de animação de animes japoneses segue até hoje as leis de animação da Disney.
Quantos natais com chaminés você já não desejou? Quantos conversíveis?
Estamos há mais ou menos um século sendo americanizados com sonhos da cultura de outros.
Nós temos dificuldades de entender narrativas de mídias de outros países pois Hollywood praticamente só usa a jornada do herói, fazendo nossa recepção a outras narrativas bem limitadas.
Todas essas consequências e realidades são resultados de decisões políticas conscientes.
“Mas Henry, por que eles fazem isso?”
Para se manter no topo eles têm que manter o nível de vida do americano, e para isso eles precisam vender.
Hipóteses
Ok, agora que terminei de expor a cultura pop como um artigo intrinsecamente social e político, voltamos ao último impasse.
Porque Videogame faz questão de não ser levado a sério? O que aconteceu com o gamer para ser muitas vezes usado como massa de manobra de político sem perceber?
Quantos abraços os gamers tem que receber para perceberem que estão sendo usados politicamente?
Se eles pressupõem que jogo é só brincadeira e supérfluo, eles nunca vão conseguir ver o mundo ao redor.
Eu elaborei uma hipótese de 3 partes do porque os gamers chegaram ao estado em que estão.
Eu disse “eu”, pois diferente da maioria do conteúdo que eu fiz, essas hipóteses são completamente de opinião própria. Nenhum estudo foi lido para chegar até elas.
1 — Dificuldade da linguagem
O gamer brasileiro cresceu com os jogos em outro idioma. Diferente do que o nerd possa achar, a quantidade de pessoas que falam inglês no Brasil é bem pequena.
Isso significa que ele não conseguiu ler narrativas, refletir sobre ideias, definir estratégias. Jogo para o gamer brasileiro era puro reflexo e velocidade nos dedos.
Isso limitou o gamer brasileiro a não ver jogo como algo além de físico. Jogo era algo pra passar o tempo, só.
Jogos em português só ficaram comuns no final do ps3 e nessa altura, 3 gerações de gamers já tinham sido criados.
2- Acesso e Valor
Uma vez questionei um amigo porque ele não lia a história dos games.
A resposta além de quebrar meu coração, também me fez refletir que uma geração inteira cresceu com isso no Brasil.
Ele jogava em Lan House, ele não tinha dinheiro para comprar jogos, então pagava alguns reais suados para poder jogar na lan house.
A resposta dele talvez explique uma geração inteira:
“Cada minuto que eu tava lendo a história ou assistindo videozinho, era um minuto a menos que eu tinha para jogar.”
Quando falamos que o gamer não entende o conteúdo que consome, será que paramos para pensar que talvez ele não tenha tido oportunidade de entender?
3- A Política
Essa última teoria é uma das mais prováveis.
Jogo era um prato cheio para a mídia relativizar violência.
Várias vezes jogos foram ameaçados de receber censura pelo seu conteúdo. Alegando que fazia das pessoas mais violentas.
A forma mais simples de se proteger disso era negando jogos como um artigo responsável pela construção. Pois assim, como brincadeira, o jogo se mantinha seguro.
Hoje sabemos com certeza que os jogos não são responsáveis por atos violentos, mas para aquela época, era uma maneira simples do pai tirar a culpa de não prestar atenção nos distúrbios que o filho desenvolveu.
Para que assumir a responsabilidade quando pode culpar o jogo não é mesmo?
Sobre gatilho, uma pessoa com algum distúrbio pode ter gatilho com filme, livro, vendo gente na rua, em suma, tudo. Retirar jogo não vai resolver o problema, pois o problema foi ou socialização da pessoa ou no seu desenvolvimento psicológico. Independente de qual foi, a resposta é terapia.
Infelizmente as consequências que a comunidade sofreu de ser obrigada a se auto infantilizar para sobreviver, perpetuam até hoje.
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Obrigado por esse debate sobre porque a cultura pop é um artigo cultural responsável por nossa construção social e porque ainda temos que debater muita coisa.
Esse manifesto tem o intuito de refutar e explicar porque a maioria das alegações feitas por nerds conservadores estão fora da realidade da cultura nerd.
E por último: por que desde que eu comecei a escrever eu chamo meu leitores de Homo sapiens?
Homo Sapiens todos nós nascemos. É algo inato. Porém eu entendo humano como um adjetivo e não como substantivo. Logo um Homo sapiens pode ser humano ou pode ser um monstro.
Qual é você?
Artigo atualizado dia 30/08/2021 às 19:20
O objetivo da Ariel não era pegar homem, o que ela queria era ir pra superfície, expandir os horizontes dela. Foi uma a primeiras princesa Disney a ter mais agencia, ela não espera ninguém pra vir salvar ou uma fada pra levar ela ao baile, ela vai atras do que ela quer. E também não tem problema você abandonar a família pra ir atras de seu sonho, ainda mais se ela for abusiva e não ti der suporte . O homem no final das contas era só um extra.