Com tradução de Junko Ota, livro reflete as complexidades do coração e a fragilidade das conexões humanas

A obra “Kokoro”, do autor japonês Natsume Soseki, ganha nova versão no Brasil, que será lançada no dia 18 de novembro. Com tradução de Junko Ota e lançada pela editora Estação Liberdade, a história reflete as complexidades do coração e a fragilidade das conexões humanas.

Originalmente publicado em 1914, dois anos antes da morte do autor, “Kokoro” é o romance mais conhecido de Natsume Soseki. Assim, o livro, estruturado em três partes, se passa ao final da era Meiji e gira em torno da diferença geracional entre os protagonistas. Além disso, a história reflete sobre as tensões de uma sociedade em transformação. 

Entretanto, mais do que retratar uma época, a escrita é um conflito a céu aberto entre o individualismo e o senso de dever social. Dessa forma, nascem profundos questionamentos sobre a dificuldade de se abrir ao outro, o peso da culpa e os dilemas da confiança.

Fragilidade nas conexões 

Na primeira parte, nomeada “O professor e eu”, o narrador da história, um jovem estudante, se aproxima de um homem mais velho a quem começa a chamar de professor. Com isso, por meio de conversas, o jovem começa a perceber sentimentos de solidão e culpa que sempre pairam ao redor do professor. 

Já na segunda parte, “Meus pais e eu”, acompanhamos o jovem em sua terra natal, onde enfrenta dilemas pessoais e familiares. Assim, na terceira e última parte, “O professor e o testamento”, o professor ganha centralidade por meio de uma longa carta. O personagem traz questões à tona de forma dilacerante, como se seu próprio coração pulsasse nas entrelinhas das palavras ali escritas, revelando a história por trás de sua juventude e explicando o seu desprezo pela humanidade. É nesse desfecho que o romance alcança seu ponto mais profundo e o leitor se depara com a perspectiva do mundo como algo assombroso e intrincado.

Desse modo, Natsume Soseki transforma “Kokoro” em um mergulho nos labirintos da consciência, naquilo que não se diz, mas que molda vidas inteiras. A história fala da impossibilidade de escapar da solidão e da necessidade de entendê-la com honestidade.

Sobre o autor

Natsume Soseki permanece até hoje como um dos mais populares e lidos do Japão. Destacou-se em diversos tipos de escrita, como romances, ensaios e obras de teoria literária, certamente inovadores para a sua época. Se, por um lado, absorveu influências do Ocidente, por outro, apregoou a valorização da cultura tradicional nipônica. Estreou na escrita com “Eu sou um gato”, em 1905, e obteve notável recepção de crítica e público. Em 1910, é acometido por uma primeira crise de úlcera e, pouco depois, recusa o título de doutor. Soseki faleceu em 9 de dezembro de 1916, de sequelas de sua enfermidade.

O autor marcou uma era ao se opor à voga naturalista reinante na Era Meiji, pregando um maior individualismo. Em suas principais obras estão “Botchan” (1906), “Sanshiro” (1908), “E depois” (1909) e “O portal” (1910), que também possuem versões no Brasil.

Imagem capa: Adaptação | Editora Estação Liberdade