Adam Silveira transforma “Os Dois Morrem no Final” em uma história sobre a mortalidade, amizade e c’est la vie. Mesmo com o maior spoiler no título, por alguns minutos tive a certeza absoluta que não havia a menor possibilidade deles morrerem no final. Eles morreram. Entretanto, saber como o livro termina não impede a surpresa que é a narrativa, muito pelo contrário.

O que você faria se recebesse uma ligação dizendo que, quando o dia terminar, você estará morto? Em 05 de setembro de 2017, Mateo Torrez e Rufus Emeterio recebem uma ligação da Central da Morte e é aqui que a nossa narrativa começa. Enquanto Mateo passou a vida toda tentando se esconder da morte, Rufus a aproveitou ao máximo. Com histórias de vida diferentes, ambos querem aproveitar o seu último dia na companhia de alguém que terá o mesmo destino no final. Utilizando-se de um aplicativo chamado ‘O Último Amigo’ – mórbido, né -, o caminho dos dois se cruzam.

É impossível não gostar dos dois personagens ao longo do livro pois, além de serem cativantes, a humanidade presente na escrita de Silveira os transforma em pessoas reais. Por isso, é difícil acreditar que eles vivem menos de 24h do lado um do outro. Contudo, em meio às questões sobre a vida e a morte, o livro ainda encontra tempo e fôlego para discutir temas necessários, mesmo que de forma sutil. A presença da representatividade de personagens com origens latinas, as relações homoafetivas e o núcleo familiar fecham a história com chave de ouro. Desde sua premissa até sua conclusão, a mensagem do livro consegue ultrapassar os limites de idade que compõe o gênero.

Adaptação e crítica

Seguindo um padrão observado nos livros que viraram febre no ‘TikTok’, “Os Dois Morrem no Final” está com a sua adaptação confirmada em formato de série, pela HBO. Ainda sem previsão de estreia, é preciso começar a se preparar para acompanhar não apenas os personagens principais, mas também os secundários. Com universo tão próximo de nós e, ainda assim, tão distante, o leitor precisa estar pronto para conversar sobre a mortalidade e como gostaria dos seus próprios momentos finais.

Em resumo, o título te engana mesmo sendo a resposta. O livro não é uma história sobre a morte, mas sobre a vida. Ao colocar o final no começo, Adam Silveira modifica os padrões já conhecidos da literatura, mas nos entrega uma turbulência de sentimentos e reflexões. Sem conseguir classificar a obra em estrelas, indico a leitura a todos que querem se divertir e, ao mesmo tempo, refletir sobre a própria existência. “Os Dois Morrem no Final”, lançado pela intrínseca no Brasil, merece os elogios que recebe.

“Passei anos vivendo com segurança para garantir uma vida mais longa e veja onde isso me levou. Estou na linha de chegada, mas nunca participei da corrida.”