A poetisa mineira Adélia Prado é a vencedora do Prêmio Camões 2024. A premiação é a mais importante da língua portuguesa. Os jurados, todos professores e pesquisadores de países lusófonos, concluíram que a obra de Adélia é original e sua poesia continua se destacando após décadas de trabalho. O objetivo do Prêmio Camões é consagrar um autor de língua portuguesa que contribuiu para a literatura pelo conjunto de sua obra.
Essa vitória acontece dias depois da poetisa ganhar o Prêmio Machado de Assis. O principal prêmio da literatura brasileira também reconheceu a importância da obra de Adélia Prado para a produção nacional. Dessa forma, conheça um pouco da trajetória de Adélia Prado e como temas importantes como a religiosidade, as emoções e o cotidiano marcaram seus versos.
Biografia
Adélia Prado nasceu em 13 de dezembro de 1935, na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. Filha de João do Prado, um ferroviário, e da dona de casa Ana Clotilde Correa. De acordo com informações de biógrafos, Adélia começou a escrever seus primeiros versos em 1950, após a morte da mãe. Desde cedo, Adélia se dedicou aos estudos, tendo primeiro ingressado no Grupo Escolar Padre Matias Lobato em Divinópolis. Posteriormente cursou o Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração e em seguida a Escola Normal Mário Cassassanta, onde se formou professora em 1953.
Carreira como Escritora
Em 1976, foi publicado o seu primeiro livro intitulado “Bagagem”. A obra reúne uma série de textos que remetem a origem da autora, sua rotina como uma mulher comum, assim como sua relação com a religiosidade e como ela percebe a linguagem. O livro foi um grande êxito e tornou a poetisa conhecida. A partir daquele momento ela recebeu apoio de personalidades ilustres da literatura. Os críticos afirmam que na poesia, Adélia aborda temas complexos e questões importantes, a partir de sua visão pessoal. Dessa forma, seus versos são singulares. O poema “Fragmento” é um dos que compõem o livro:
Fragmento
Bem-aventurado o que pressentiu quando a manhã começou: não vai ser diferente da noite.
Prolongados permanecerão o corpo sem pouso, o pensamento dividido
entre deitar-se primeiro à esquerda ou à direita e mesmo assim anunciou o paciente ao meio-dia:
algumas horas e já anoitece, o mormaço abranda, um vento bom entra nessa janela.
“O Coração Disparado” de 1978, venceu o Prêmio Jabuti, e a partir daquele momento, consagrou Adélia como a grande poetisa daquele momento. No ano seguinte, ela decidiu encerrar a carreira de professora e dedicar-se apenas aos seus poemas. A partir desse momento, passou a publicar uma série de coletânea com seus poemas e passou a se dedicar também a prosa. E assim se mantém até hoje. “Quando eu Era Pequena” de 2006, é um de seus trabalhos marcantes voltados para a prosa literária.
Outro ponto marcante da carreira de Adélia Prado, foi sua atuação como diretora do grupo de teatro amador “Cara e Coragem”. Entre os espetáculos dirigidos por Adélia, pode-se destacar “O Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna e “A Invasão” de Dias Gomes. Dessa forma, a poetisa conciliava sua produção literária com a atividade teatral. Também trabalhou durante muitos anos na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis. Nos últimos anos, Adélia realizou várias leituras de suas poesias em teatro, tanto de Minas Gerais, quanto em outros lugares do Brasil.
Legado
A poesia de Adélia Prado conquista os leitores, porque muitos se identificam com os personagens e situações criadas por ela. A observação do mundo que nos cerca, pelo olhar de uma mulher comum, assim como nós. Dessa forma, ela fala sobre religião, sonhos e as suas principais emoções de uma maneira simples e moderada. No entanto, ela abre possibilidade de refletir sobre o papel das mulheres na sociedade e na literatura.
Exausto
“Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente. Muito mais que raízes.”
“Fui dormir umas vezes tão feliz, que, se
soubesse minha força, levitava.
Em outras, tanta foi a tristeza que fiz versos.”
Leia também: Tempestade de Som e Fúria: Livro traz nostalgia através da poesia
Para mais textos e notícias do universo geek sigam o GeekPop News no Instagram e Facebook.