Em 2024 completam 90 anos da morte de Júlia Lopes de Almeida, uma das maiores escritoras e cronistas do início do século XX. Ela foi uma das idealizadoras e fundadoras da Academia Brasileira de Letras. No entanto, ela foi impedida de ocupar uma cadeira simplesmente por ser mulher. Para celebrar o mês das mulheres, que ainda enfrentam grandes obstáculos na literatura, trazemos a história inspiradora de uma escritora talentosa que foi desconhecida durante grande parte da vida.
O Início
Júlia Valentim da Silveira Lopes nasceu em 24 de setembro de 1882 no Rio de Janeiro. Ela era filha de portugueses, e recebeu excelente educação desde a infância. Já aos 19 anos começou a escrever para a Gazeta de Campinas (cidade para onde se mudara ainda criança). Esse passo foi muito importante, uma vez que naquela época esse ambiente era dominado por homens.
Pouco tempo depois se mudou para Lisboa e ao lado da irmã Adelina Lopes Vieira (1850-1923) que era cronista e educadora, publicou o livro infantil Contos Infantis (1886). Também em Portugal conheceu o também escritor Filinto de Almeida com quem se casou antes de retornar ao Brasil em 1888. Ainda em Portugal publicou seu primeiro trabalho exclusivamente de sua autoria: Traços e Iluminuras (1887).
Retorno ao Brasil e Academia Brasileira de Letras
Em 1888, a jovem que agora era Júlia Lopes de Almeida, retornou ao Brasil e passou a escrever para vários jornais da época, como Jornal do Comércio e A Semana. Com o apoio do marido (que naquela época, fez toda a diferença), Júlia defendia ideias extremamente polêmicas para a época, como a abolição da escravatura, o direito feminino ao voto, educação de mulheres e o direito ao divórcio.
Ao mesmo tempo em que Júlia se dedicava a carreira de cronista e a publicação dos primeiros livros, um grupo de intelectuais formado por nomes como: Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Visconde de Taunay e Medeiros e Albuquerque, se reunia para formar uma academia de escritores nos moldes da Academia Francesa da Letras. Júlia participou ativamente de todas as reuniões e de toda formação do estatuto da ABL. Porém, Júlia não foi aceita entre os membros, uma vez que o estatuto proibia a presença de mulheres na ABL. Para conseguir uma forma de “homenagear” Júlia por sua contribuição, os intelectuais da ABL decidiram que o marido de Júlia, Filinto ocuparia a cadeira n°3.
Carreira e anos finais
Júlia continuou escrevendo para os jornais, e publicou nas décadas de 1890 e 1900 suas obras mais famosas. Entre os livros de maior sucesso podemos citar: A Família Medeiros (1892), A Viúva Simões (1897), A Falência (1901), Ânsia Eterna (1903) e A Intrusa (1908). Todos esses livros abordam temas polêmicos como adultério, críticas ao patriarcado, violência doméstica e direitos das mulheres. Júlia também era uma crítica frequente da desigualdade social no Rio de Janeiro da época, e o descaso do governo com os mais pobres. Conforme os registros existentes, ela era muito respeitada, apesar de suas opiniões serem consideradas polêmicas na época.
Durante sua vida, viveu ainda em Portugal e na França. Em 1925 foi uma das fundadoras da Liga Para a Emancipação da Mulher ao lado de Bertha Lutz. Condenada ao ostracismo e a falta de reconhecimento por seu trabalho, morreu em 30 de maio de 1934 no Rio de Janeiro.
O Reconhecimento
O avanço do movimento feminista e o crescente número de escritoras, fez com que finalmente a carreira de Júlia Lopes de Almeida passasse a ser objeto de estudo. Hoje ela é considerada uma das pioneiras da literatura brasileira, assim como uma inspiração para outras mulheres. Cada vez mais pesquisadores, afirmam a importância dela na fundação da Academia Brasileira de Letras. As principais obras da escritora estão disponíveis em várias livrarias físicas e virtuais, e desse modo, vem sendo muito buscada por leitores.
Suas obras também se tornaram conteúdo de vestibular de várias universidades do Brasil, uma vez que são grandes exemplos de literatura realista e naturalista. Júlia Lopes de Almeida foi escritora em uma época desfavorável para as mulheres e construiu tantos relatos da sociedade da época, foi desconhecida durante muitos anos. Ela agora recebe o lugar que merece na história.
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Redatora em experiência sob supervisão de Giovanna de Souza