Prime Video aposta em uma abordagem ficcional do verdadeiro “presídio dos famosos”, e provoca o público a revisitar crimes que marcaram o país sob nova ótica.

O true crime virou uma febre nos últimos anos, mas será que Tremembé se encaixa nessa categoria?
Assisti ao primeiro episódio da série a convite da Prime Video e, logo de início, percebi que ela tenta encontrar um espaço próprio entre tantas produções que exploram os mesmos crimes. Ao mesmo tempo, busca se diferenciar de filmes e documentários que já abordaram essas histórias antes.

Um true crime que prefere a claustrofobia à espetacularização.

Produzida pela Paranoid para o Amazon MGM Studios e dirigida por Vera Egito, Tremembé parte dos livros do jornalista Ulisses Campbell para revisitar a vida de figuras como Suzane von Richthofen, Daniel e Christian Cravinhos, Anna Jatobá e Alexandre Nardoni, além de Elize Matsunaga. Todos eles estão ligados a crimes que o Brasil inteiro acompanhou como se fossem novelas, em um espetáculo midiático que ultrapassou qualquer fronteira entre realidade e entretenimento.

A diferença aqui, e talvez o ponto mais instigante da série, é o tom de ficção. Ao contrário de produções que se sustentam no realismo brutal dos casos, Tremembé opta por construir uma atmosfera de distanciamento, um espaço onde a prisão se torna mais importante do que os crimes em si.

Essa escolha, no entanto, tem dois efeitos. De um lado, cria uma tensão constante e um senso de confinamento que prende o espectador. De outro, esvazia parte da curiosidade que move o gênero. Ao fim do primeiro episódio, tive a sensação de estar diante de uma boa série sobre o encarceramento, mas sem o peso emocional que os crimes reais carregam. A trama se passa quase toda dentro do presídio, e os poucos recortes dos assassinatos são apressados, como se a narrativa tivesse pressa de se afastar do que o público já conhece.

Prime Video lança Tremembé, série ficcional inspirada em crimes reais, com Marina Ruy Barbosa em um papel surpreendente e direção de Vera Egito.
A série de ficcção retratará as trajetórias de alguns encarcerados. Foto: Amazon Prime Video | Paranoid | Amazon MGM Studios

A escolha do elenco fez uma diferença positiva para a proposta da série

Como obra de ficção, Tremembé é interessante. Marina Ruy Barbosa entrega uma Suzane assustadoramente convincente, a ponto de causar repulsa em cada olhar e gesto. Letícia Rodrigues, como Sandrão, também impressiona, tornando-se um dos maiores destaques ao lado de Marina.
O elenco ainda conta com Bianca Comparato, Felipe Simas, Kelner Macêdo, Lucas Oradovschi, Carol Garcia e Anselmo Vasconcelos, tiveram boas atuações, embora sem grandes momentos individuais até agora.

A semelhança física que a produção alcançou com os atores é impressionante. Se por um lado Marina entrega uma Suzane mais vilanesca, a semelhança de Lucas Oradovschi como Alexandre Nardoni é surreal. Assim como Carol Garcia como Elize Matsunaga e Anselmo Vasconcelos como Roger Abdelmassih. É um detalhe de maquiagem, figurino, e um trabalho de atuação dos atores impressionante.

O que posso dizer sobre a série até agora?

Vera Egito conduz o episódio com segurança e ritmo. Ela transforma o presídio em personagem, explorando seus espaços e silêncios, alternando momentos de clausura e amplitude com uma câmera inquieta. A atmosfera é densa, e há um domínio estético evidente na construção das cenas.

No entanto, senti certa pressa na introdução dos personagens. Esse atropelo prejudica o aprofundamento das histórias dentro da prisão. Já que a série se propõe a fazer de Tremembé um personagem central, faltou investir um pouco mais nesse universo. Ainda assim, as primeiras impressões são boas e deixam claro o potencial para evoluir nos episódios seguintes.

A grande dúvida que fica é se Tremembé vai se aprofundar nos crimes que tornaram essas pessoas conhecidas, ou se escolherá permanecer dentro dos muros, retratando o que acontece quando o espetáculo acaba e sobra apenas o eco da culpa.

“Tremembé” transforma o real em ficção e expõe o lado mais claustrofóbico da curiosidade humana.

Foto de capa: Amazon Prime Video | Paranoid | Amazon MGM Studios