Capa do livro / Reprodução

“Histórias para Aquecer o Coração”, originalmente lançado como “A 3rd Serving of Chicken Soup for the Soul”, é um livro composto por um compilado de 50 histórias, que não possuem ligação direta entre si, escrita por diversos autores.

É um livro em que a leitura flui muito rapidamente, e as histórias realmente chegam a aquecer o coração, porque muitas nos levam a refletir sobre como pequenas ações de carinho, amor, atenção ou gratidão podem mudar o dia de uma pessoa – ou até mesmo a vida dela.

O leitor é levado a crer que os seres humanos ainda têm a capacidade de serem bons uns com os outros, o que passa uma sensação muito boa de esperança e bem estar ao longo da leitura – a tornando agradável do início ao fim.

É um livro bem pequeno, mas que passa lições grandiosas e que acredito ser necessário de se ter na cabeceira, principalmente para os dias em que nos sentimos cabisbaixos ao vermos tantas coisas ruins no mundo – ou até mesmo, em nosso círculo social.

Mesmo o livro tendo sido escrito em 1996, uma das histórias em específico me tocou de uma forma diferente: “Privação dos sentidos” – e é sobre ela que irei refletir.

Privação dos sentidos

Quero sair pra dançar, usar um vestido que rodopie e flutue em volta de mim e rir.

Quero sentir a luz trêmula da seda enquanto ela escorrega pelos meus braços e pelo meu corpo, a alegria de tocar os dedos com sua maciez.

Quero dormir na minha própria cama, regalar-me na frescura dos lençóis limpos e descansar minha cabeça em meu travesseiro macio. E ir dormir quando quiser, com todas as luzes apagadas, e acordar quando estiver pronta.

Quero me esticar em meu sofá debaixo da minha manta de lã azul e ouvir minha música favorita escoar dos alto-falantes para dentro do meu ser, regando a paisagem ressequida da minha alma.

Quero sentar-me na varanda, bebericar café quente da minha caneca de barro, ler o jornal e ouvir o cachorro latir para as folhas que caem ou para esquilos invasores.

Quero atender o telefone e ligar para os meus amigos e família e conversar até termos colocado em dia todas as palavras que guardamos um para o outro, e rir.

Quero ouvir o trem apitar através de Loveland, o cascalho sendo esmagado na porta da garagem e portas de carro batendo quando os amigos vêm nos visitar. E o tilintar e tinir dos talheres contra a louça, o chiado e o gorgolejo da máquina de fazer café.

Quero sentir meus pés descalços na brancura fria do chão da minha cozinha e na maciez azul do tapete do meu quarto.

Quero ver as cores, todas elas, cada cor jamais fiada na existência. E branco, branco de verdade, puro e imaculado. E alqueires de árvores verdes e quilômetros de estradas com fitas amarelas e centenas de metros de luzes de Natal. E a Lua.

Quero sentir o cheiro de bacon fritando, um filé grelhando. Jantar de Ação de Graças e a plantação de tomates de meu pai. E roupa recém-lavada, asfalto novo em um estacionamento. E o oceano.

Porém, mais do que tudo isso, quero ficar de pé na porta do quarto do meu filho e vê-lo dormindo. Ouvi-lo acordar pela manhã e vê-lo voltar para casa à noite. Tocar seu rosto e passar meus dedos por seus cabelos. Pegar uma carona em seu caminhão e comer seus sanduíches de queijo quente.

E vê-lo crescer, rir, brincar, comer, dirigir e viver. Acima de tudo, de tudo, viver. E passar meus braços à sua volta e segurá-lo até ele rir e dizer:

-Já chega, mamãe!

E então ser livre para fazer tudo de novo.

Por: Deborah E. Hill (págs 54-56)

Ao longo da pandemia que ainda estamos enfrentando, fomos privados de realizar muitas das atividades que gostamos, uma grande parte de pessoas perderam entes queridos para o Covid-19 e, além disso, mesmo com o avanço das vacinações que estão ocorrendo no mundo inteiro, ainda não estamos totalmente preparados para voltar ao normal. Não se sabe ainda qual será o ‘’novo normal’’ e nem quando ele chegará. 

Muitas pessoas acabaram ‘’presas’’ em locais com desconhecidos ou longe de suas casas por um bom tempo durante a quarentena. E, mesmo as que ficaram em seus próprios lares se sentiram perdidos visto à situação que se foi enfrentada, tanto que há muito profissionais da saúde que estão debatendo sobre como será possível mensurar o quanto a pandemia tem afetado a saúde mental da população mundial.

Com a privação de liberdade de sair e a perda de entes queridos e o efeito que uma pandemia causa em si próprio, mesmo que as restrições nos Estados estejam sendo diminuídas, muitos estão sem rumo, sem saber como recomeçar a vida após esse grande baque sofrido.

E esse livro, acredito que seja um ótimo primeiro passo para nos guiar em como devemos agir a partir de então. De valorizar quem temos por perto e cada momento que vivemos, não deixando passar nenhuma oportunidade em vão.

Págs. 54 e 55 / Fonte: Reprodução
Pág. 56 / Fonte: Reprodução

Título: Histórias para Aquecer o Coração

Editora: Sextante

Ano: 1996

Autores: Jack Canfield e Mark Victor Hansen

Páginas: 80