Durante séculos, a literatura serviu como um meio para as mulheres expressarem seus medos, anseios e angústias, mesmo antes de conquistarem os direitos que hoje nos pertence. Com isso, o gênero do terror gótico feminino surgiu como um instrumento poderoso para que autoras femininas pudessem dar voz às suas inquietações diante de uma sociedade que muitas vezes as marginalizava.

O marco inicial dessa tradição literária pode ser atribuído a Horace Walpole com sua obra “O Castelo de Otranto” (1764), que desafiou os ideais neoclássicos do século XVIII ao introduzir elementos horríveis e demoníacos. A partir daí, a literatura gótica cresceu, oferecendo um espaço para explorar medos sobrenaturais e monstros que ecoavam as ansiedades da época.

O Surgimento do Terror Feminino:

Imagem usada para representar a Charlotte e a Mary
Charlotte Brontë e Mary Shelly | Crédito: Britannica

No entanto, para as mulheres, o caminho para a expressão criativa era cheio de obstáculos. O patriarcado e o androcentrismo moldavam a sociedade, silenciando as vozes femininas e apagando suas contribuições. Mesmo assim, muitas autoras conseguiram criar narrativas que desafiavam as estruturas de poder patriarcais.

Durante o século XIX, o terror gótico continuou a evoluir, com obras marcantes como “Frankenstein” de Mary Shelley e “Jane Eyre” de Charlotte Brontë. Neles, as autoras exploraram temas como a loucura, o sobrenatural e a opressão feminina.  

Frankenstein, um clássico,  instaurou o monstro gótico, um elemento recorrente na ficção de horror. Essa história possui várias interpretações, sendo uma delas a associação com o tema da maternidade e aborto. 

Portanto, permitindo uma leitura acerca do medo que envolve a experiência materna e o nascimento de uma criança não desejada, o livro possui um tema pouco comentado em sua época de lançamento. Assim, são adicionadas camadas mais complexas e reflexivas ao tema do terror gótico.

Reflexões sobre a Literatura Gótica Feminina

O termo “gótico feminino” ganhou destaque com o trabalho pioneiro de Ellen Moers, que reconheceu a importância das autoras como Radcliffe e Shelley na criação de uma tradição de escrita feminina no terror. Essas autoras deram voz às experiências das mulheres, explorando temas como aprisionamento, opressão patriarcal e maternidade.

Ellen Moers e seu livro Literay Women
Ellen Moers e seu livro Literary Women | Crédito: Goodreads

Na literatura gótica feminina, confrontamos as dores e as lutas das mulheres ao longo da história. Essas narrativas não apenas desafiam modelos machistas, mas também oferecem uma visão única do universo feminino. Assim, contribuem para o entendimento da história das mulheres e das lutas sociais pelo fim da opressão patriarcal.

Em última análise, a literatura gótica feminina não só enriquece a literatura, mas também serve como um testemunho poderoso da resiliência e da criatividade das mulheres diante de tudo. É uma jornada que nos convida a refletir não apenas sobre o terror gótico, mas também sobre a condição humana e as complexidades das relações de gênero em nossa sociedade.

Redatora em experiência sob supervisão de Giovanna de Souza