O livro “A Viajante da Noite” de Armando Lucas Correa é uma obra fantástica que nos permite viajar pelo tempo. Narrando os dramas pessoais de quatro mulheres, o leitor é imerso em um contexto social e político muitas vezes assustador.
A história começa no final da década de 1920, na Alemanha, onde o nazismo começava a dar seus primeiros sinais. Já no início, o preconceito move a história, ao retratar o início da perseguição aos judeus. Para marcar o protagonismo de cada personagem em sua fase da história, divide-se a narrativa.
Início: Ally
Toda a história que se passa na Alemanha Nazista traz um contorno de dramaticidade. No final de 1920, Ally dá à luz uma menina, a quem ela chama de Lilith. Ela puxa os traços do pai negro. Sem lugar para Lilith na Alemanha, que quer a supremacia racial, e temendo pela vida da pequena.
Ally decide enviá-la para viver em Cuba, com um casal de amigos, que passam a ser seus pais adotivos. A menina embarca em um navio no meio da noite, levando consigo um poema escrito pela mãe: “O Viajante da Noite”. Em Cuba, Lilith encontra uma vida, finalmente, sem preconceitos.
Conforme a menina cresce, ela tem que lidar com vários desafios, entre eles a morte de Ally. Esse é um dos pontos mais fortes do livro, uma vez que acompanhamos Ally desde o começo. Ela é uma das personagens que ficam pelo caminho.
Com o passar dos anos e a distância local, nos despedimos de vários personagens, no decorrer da narrativa. Ally morre então sem se despedir da filha.
A Vida de Lilith
Já adulta, Lilith se casa com seu amigo Martin e tem uma filha, Nadine. No entanto, com o início da Revolução Cubana, o governo persegue a família de Martin. A prisão e morte de Martin destroem a vida tranquila de Lilith. Agora, ela precisa encarar que Cuba não é mais lugar para ela, assim como aconteceu na Alemanha, anos atrás. Ela se recusa a deixar o país em que nasceu e, assim como sua mãe havia feito, envia a filha Nadine para os Estados Unidos, também para viver com um casal que a adota.
Nadine e Luna
A vida de Nadine passa por várias fases. Inicialmente, ela se entende bem com seus pais adotivos. No entanto, Irma (a mãe) é presa na Alemanha, acusada de fazer parte do movimento nazista. Nadine e o pai viajam para a Alemanha, onde é apontada por todos como a “filha da nazista”, uma contradição se observarmos seu histórico familiar biológico. O interessante nesse ponto é que as ações que levaram Lilith a serem expulsas da Alemanha são agora condenadas pelos alemães.
Nadine acaba se distanciando dos pais adotivos, que passam a não fazer mais questão de sua presença, provando que, da parte deles, o afeto não era tão forte assim, uma vez que Nadine nunca os esqueceu.
Já uma jovem, ela começa a trilhar seu caminho sozinha e constrói para si uma família. Sua filha Luna, agora, é sua razão de viver. Nadine presenteia Luna com o poema “O Viajante da Noite” e conforme acompanhamos, a menina decide se tornar escritora. Uma série de reviravoltas leva Nadine e Luna a investigarem o passado de Ally e Lilith, e dessa forma, no final, conseguimos descobrir o que aconteceu com as personagens. A descoberta traz grandes surpresas.
Impressões sobre o livro
“A Viajante da Noite” é um ótimo retrato do que é passado de geração para geração. O fato do poema resistir ao tempo mostra que, quando bem guardadas, relíquias familiares podem trazer grandes descobertas. A passagem do tempo, mostra como as relações familiares e afetivas podem mudar por diferentes motivos, também afetadas por eventos alheios à nossa vontade.
A ótima contextualização da Alemanha Nazista e posteriormente do contexto conturbado de Cuba, diante da ligação das personagens Ally e Lilith, mostra que elas tiveram que lutar contra desafios complexos e, o mais importante, lutaram para salvar suas filhas.
Por fim, quando Nadine e Luna procuram descobrir mais sobre Ally e Lilith (que nós já conhecíamos, mas elas não), mostra como é importante conhecer seu passado e entender por que somos quem somos.
Portanto, “A Viajante da Noite”é uma ótima viagem no tempo, diante de quatro gerações diferentes que, ao viverem cada uma sua história, revelam um drama que certamente foi vivido por várias famílias na realidade. Afinal de contas, quantas pessoas ainda devem querer descobrir o que aconteceu com seus antepassados judeus, cubanos e outros povos que foram vítimas de regimes autoritários?
Descobrir essas histórias pode ajudar a desvendar fatos ainda desconhecidos.
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