“Assassinato no Monte Roraima” de Edgard Zanette é um livro de mistério, fantasia, que traz os principais elementos da cultura do Monte Roraima. Uma leitura rápida, mas, ao mesmo tempo, cheia de suspense, que deixa o leitor imerso não apenas no misticismo que cerca a região em que se passa a história, mas também no psicológico dos personagens.
Desde já, é preciso ficar claro que o termo “assassinato” não se refere ao que parece. Talvez se pesquisarmos melhor o significado da palavra, compreenderemos que vai muito além da primeira impressão. Além disso, as reviravoltas que acontecem no que seria uma simples expedição. Uma trilha a um lugar turístico revela-se muito mais do que isso.
No final, um jogo de xadrez é o acontecimento mais importante, assim como explica toda a narrativa.
Confira a resenha. Alerta de spoiler!
O livro começa com uma descrição dos personagens. Começando pelo guia, o venezuelano Terence. Do mesmo modo, apresenta os demais personagens, assim como de que forma eles chegaram ao Monte Roraima, e sua expectativa para o passeio. Os franceses Louis e Camille, os brasileiros Alberto e Helena, o enxadrista venezuelano Javier e o mestre de xadrez russo Yuri.
Os personagens desde o início mostram-se ansiosos pelo percurso. Mesmo antes da viagem começar, vemos diversos cenários, como a cidade de Boa Vista (capital de Roraima), e a descrição da tríplice fronteira, entre Brasil, Guiana e Venezuela.
A diversidade do grupo é um ponto importante, ressaltado a todo momento. A variedade de culturas torna tudo mais importante. Um exemplo é a comparação entre o jovem enxadrista venezuelano Javier e Yuri, considerado um gênio do xadrez, um dos melhores do mundo.
Tanto as realidades quanto as expectativas de ambos, não apenas em relação ao percurso, mas também ao futuro, assim como seus conflitos pessoais, são colocadas frente a frente.
Do mesmo modo, Louis e Camille refletem sobre seu relacionamento e suas expectativas e frustrações pessoais e profissionais. Os discretos brasileiros Alberto e Helena também buscam um sentido para sua trajetória. Já Terence, o responsável por todos eles, sente muita saudade de casa.
Outro ponto interessante é que, a partir da história dos personagens, o autor faz críticas sociais importantes. Novamente, Javier é um bom exemplo. Ao falar sobre o personagem, fala sobre os problemas que a Venezuela enfrenta, uma vez que o personagem é um dos cidadãos que vivem a situação atual do país.
O Monte Roraima
A narração da caminhada, assim como a descrição detalhada da fauna e flora do Monte Roraima, são a principal riqueza do livro. O autor constrói a narrativa de forma que o leitor realmente possa criar um cenário verossímil na imaginação.
Do mesmo modo, ele narra toda a cultura e o misticismo da região, tornando tudo mais interessante. Assim como uma história de suspense, onde uma lenda ou mistério ronda a trama, o fato das lendas serem reais torna tudo melhor.
O ponto alto da narrativa é um jogo de xadrez. Então podemos compreender porque a história gira em torno dele. Yuri e Javier decidem jogar uma partida de xadrez, e para a surpresa de todos, o jovem venezuelano vence a partida, ao “encurralar” Yuri com uma jogada inesperada.
Yuri não consegue lidar bem com essa situação, que lhe desperta os sentimentos mais conflitantes. Após a derrota, Yuri some na mata, para desespero de todos. Até que, no meio do Monte Roraima, ele tem um encontro sobrenatural e passa por uma experiência espiritual intensa.
Impressões sobre o livro
Assassinato no Monte Roraima traz um final que surpreende o leitor. O assassinato em si não é uma morte física, mas sim a morte do “antigo Yuri”. A narrativa é basicamente sobre os conflitos psicológicos dos personagens que se acentuam naquela trajetória. Certamente influenciada pela força do lugar.
Os personagens são muito interessantes, cada um com uma história particular, no final, compõem o todo, essencial para a narrativa. Uma ressalva que precisa ser feita é que o ponto alto do livro (o desaparecimento de Yuri e o ritual) acontece apenas nos últimos capítulos do livro.
Talvez, se tivesse acontecido nos capítulos anteriores, poderia ter causado mais desdobramentos. No entanto, a narrativa é rápida e muito bem dividida, tornando-o uma leitura bastante agradável.
Portanto, a história é sobre as lendas que circulam o Monte Roraima, todas muito interessantes. O autor consegue fazer um paralelo interessante entre um jogo de xadrez e os conflitos da viagem e da vida na totalidade. Tudo com uma linguagem clara que facilita a compreensão do leitor.
O autor acerta ao valorizar a cultura local, não apenas os aspectos ambientais, mas também o misticismo. Assassinato no Monte Roraima é uma excelente oportunidade de aprender mais sobre a história do Monte Roraima e as lendas do lugar.
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