Beija-Flor de Concreto”, de Andrey Jandson, é uma obra contemporânea composta por 14 contos, abordando temas como masculinidade tóxica, sexualidade, pertencimento e identidade. Utilizando prosa poética, horror e realismo mágico, o autor constrói assim narrativas envolventes e profundas.

Com 171 páginas, o livro é dividido em três partes. A primeira, “Beija-Flores“, apresenta histórias de crianças passando por transformações significativas, explorando então suas relações familiares e o contexto social que molda seus futuros.

A segunda parte, “Tetralogia das Aves“, traz questionamentos existenciais por meio de aves, como um par de urubus que descobre que os humanos não são o que esperavam, e um pássaro azul forçado a cantar o dia inteiro, todos os dias.

Já a terceira parte, “Rios Inundados“, retrata a vida adulta e os traumas acumulados. Os personagens, marcados por um passado conturbado, buscam cura e libertação de suas escolhas.

Ao longo das páginas, a obra oferece uma análise profunda dos desafios cotidianos, mesclando o real e o fantástico, exigindo tempo e reflexão para ser compreendido em sua totalidade.

“Beija-Flor de Concreto”

O livro inicia com o conto que dá nome à obra, estabelecendo o tom da narrativa. Logo no início, percebe-se a mistura entre o lúdico e o realismo, abordando a gradual perda da inocência na infância. Os contos trazem temas sensíveis, levando o leitor a refletir sobre questões profundas, como a necessidade de proteger nossas crianças dos traumas que carregamos.

A primeira parte não é uma leitura fácil, na realidade, toda a obra exige uma leitura sensível e algumas histórias podem despertar gatilhos. Os contos tocam em feridas emocionais, mostrando que, apesar de a vida ser muitas vezes injusta e dolorosa, ainda há beleza e alegria a serem encontradas.

Na segunda parte, o autor faz uma crítica ao cinismo humano por meio da ingenuidade das aves. O conto dos urubus revela como os humanos muitas vezes apresentam uma imagem que não condiz com a realidade. Esses contos abordam a existência humana e questionam até onde o homem é capaz de ir.

Enquanto as duas primeiras partes se concentram na descoberta, a última parte foca na aceitação. Os contos mostram os caminhos percorridos e como os personagens lidam com temas como família, sexualidade e pertencimento. As três partes se completam, interligando as histórias por meio das violências do cotidiano.

Impressões sobre o livro

“Beija-Flor de Concreto” é uma obra impactante que traz à tona histórias muitas vezes negligenciadas pela sociedade. Andrey Jandson aborda de forma sensível e crua os problemas ao nosso redor, tornando impossível ignorá-los ao longo da narrativa.

A leitura desperta reflexões profundas sobre a própria existência. Entre os contos, “O Pássaro Azul de Céu” foi o que mais me tocou, exigindo tempo para digerir essa história tão bonita e ao mesmo tempo tão triste.

No final, o livro cumpre seu papel ao apresentar narrativas agridoces, que revelam a beleza no que é doloroso e imperfeito. Os contos retratam a complexidade da humanidade e a importância de lidar com as dores da vida, em vez de suprimir sentimentos até que explodam em quem está ao nosso redor. É uma leitura marcante, que certamente vai ressoar com os leitores.