O livro de contos “A Lança de Anhangá” de Ricardo Kaate é uma obra de ficção científica e fantasia, assim como um terror. As histórias que se passam em um Brasil do futuro apresentam elementos da ancestralidade indígena, assim como temáticas importantes atualmente. Nas histórias, o mundo como conhecemos não existe mais.
No entanto, “a vida insiste”, e as entidades espirituais, assim como criaturas do futuro, se unem aos sobreviventes para tentar continuar seu caminho na Amazônia. Apesar de não ser possível falar de todos os contos, a mensagem central é a mesma: devemos preservar a natureza, assim como valorizar as tradições.
Leia a resenha de “A Lança de Anhangá”. Alerta de spoiler!
“O Prelúdio da Escuridão”
No primeiro conto, “O Prelúdio da Escuridão” , acompanhamos a história de Heitor, um policial que investiga os recentes ataques de “Anhangá”, uma criatura misteriosa que ataca pessoas e deixa um rastro de destruição. Heitor já viu Anhangá antes, e nunca esqueceu aquele encontro. No entanto, Heitor descobre um esquema de tráfico de crianças indígenas comandado por membros do governo.
Os superiores atrapalham a investigação, que pode acabar prejudicando sobretudo o “Líder Supremo” que comanda a nação. Após uma tentativa de obter provas contra a organização, Heitor sofre um atentado fatal. Mas ele não morre, porque é salvo e raptado por Anhangá. Agora eles se fundem, e assim como Anhangá, Heitor pode assumir várias formas. Juntos, eles seguem com seus ataques violentos para deter a quadrilha chefiada pelo Líder Supremo. Terminada sua missão, Heitor descansa, cuidando do mundo.
“O Verde, o Cinza e o Negro” e demais contos
Se o crime de tráfico de crianças indígenas é a missão do protagonista de “Prelúdio da Escuridão”, em “O Verde, o Cinza e o Negro”, a luta é contra o desmatamento e a venda de madeira ilegal. Abaeté Tukano está no poder e a pressão da Imprensa e manifestações populares abalam seu governo. Abaeté Tukano chefia a República Confederada dos Povos da Amazônia, outra nação, separada do Brasil. Dessa forma, a devastação da fauna e flora e atividades criminosas comprometem a vida da população.
Esses contos foram citados para ilustrar o sentido da obra. Todas as histórias se passam em um Brasil sem ordem, sem paz, cheio de perigos assustadores. São independentes entre si, mas, ao mesmo tempo, narram uma mesma história de sobreviventes em uma situação assustadora, cada um superando os desafios à sua maneira.
As mortes violentas de alguns personagens é o que caracteriza a obra como um terror, além da fantasia e da ficção científica. Essa é representada nas referências a outras galáxias e inovações tecnológicas. A leitura nos leva a uma reflexão de até onde a tecnologia pode chegar, principalmente agora com o maior desenvolvimento da Inteligência Artificial.
Ancestralidade Indígena e Cultura
Na minha opinião, a principal característica do livro é o grande número de referências aos mitos e lendas da Amazônia. Do mesmo modo, os nomes dos personagens ou demais palavras que remetem à ancestralidade, principalmente aos ensinamentos relativos aos espíritos ancestrais. O autor enriquece a obra ao citar esses elementos, despertando a curiosidade do leitor sobre cada significado. Portanto, o livro mostra como a cultura amazônica é fascinante e como todos nós temos muito a aprender com ela.
Impressões sobre o livro
Anhangá tem dois significados. O primeiro refere-se ao “ente que protege os animais indefesos de caçadores inescrupulosos”. A segunda descreve como “espectro animal que traz coisas horríveis para quem o vê”.
Desse modo, é possível entender por que o autor escolheu Anhangá como o “personagem central” da história. O ente que protege a fauna, mas, ao mesmo tempo, causa um terror na vida de quem o vê. No contexto da história, Anhangá se vinga de quem faz o mal.
Devo confessar que “A Lança de Anhangá” é um dos livros mais impactantes que já li. O autor criou um Brasil e Amazonas praticamente pós-apocalíptico, dominado por um governo totalitário, onde crimes como tráfico de pessoas e venda de madeira ilegal é praticado pelo governo.
Além disso, descreve muito bem o cenário, criando um ambiente verossímil e, ao mesmo tempo, assustador. A obra passa a ideia de que a força da natureza está protegendo a floresta, mesmo com toda a devastação e dificuldades.
Como seria difícil viver em uma realidade assim! Para mim, a maior lição é valorizar a liberdade e as nossas riquezas naturais. Devo confessar que, em cada conto, esperava um final mais feliz, com uma promessa de esperança. No entanto, é um bom convite para pensar na nossa realidade e como nossas decisões podem influenciar no futuro.
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