As histórias de famílias italianas tentando sobreviver nos Estados Unidos no início do século XX sempre foram uma fonte de inspiração para escritores e diretores de cinema. Dessa forma, a escritora Camille Aubray cria uma narrativa que relembra a atmosfera de “O Poderoso Chefão” de Mario Puzo. Em “As Poderosas Madrinhas”, quatro mulheres de uma mesma família precisam cuidar dos negócios da família, uma vez que a Segunda Guerra Mundial leva os homens da família para longe.
Com a família envolvida com criminosos perigosos, essas mulheres são obrigadas a provar para todos sua força, assim como permanecerem unidas apesar dos conflitos. Além do que as une, as protagonistas Filomena, Petrina, Amie e Lucy guardam os seus próprios segredos e precisam lidar com as consequências de suas escolhas, do passado e de agora.
Leia a resenha de “As Poderosas Madrinhas”:
Enredo (alerta de spoiler)
Filomena
“As Poderosas Madrinhas” segue as protagonistas Petrina, Filomena, Amie e Lucy. Elas são jovens muito diferentes, cada uma enfrentando desafios complexos. Filomena é entregue pela família para ser empregada de uma família. A menina não compreende porque não pode mais viver com seus pais e irmãos, apenas durante o seu crescimento, compreende que seu destino mudou para sempre e que agora deverá seguir o seu próprio caminho.
Tudo isso em um mundo assustador, onde ela aprende que deve se proteger sozinha dos perigos do mundo. Sua companheira inseparável é Rosamaria, também empregada da casa, que se tornou sua fiel amiga. No entanto, Rosamaria recebeu a proposta de se casar com Mário, o filho mais novo de uma família italiana que vive em Nova York, e Filomena precisa lidar com a partida da amiga. Porém, uma reviravolta muda o destino das duas amigas. Rosamaria morre inesperadamente e Filomena rouba sua identidade e parte para os EUA, buscando fugir da vida infeliz que leva, sem saber o que a aguarda.
Amie e Lucy
Já Amie se casa com o nada simpático Brunon ainda muito jovem. Sem maiores ambições, a jovem vive uma vida tranquila como dona de casa. No entanto, o comportamento agressivo de Brunon leva Amie a uma atitude extrema, é nesse contexto que ela conhece Johnny, um dos filhos da família, com quem ela se casa. O casamento feliz contrasta com a preocupação com os negócios do marido, com os quais Amie não se envolve, mas sabe que são perigosos.
Lucy é uma enfermeira que leva uma vida simples. Até que uma noite muda seu destino para sempre. Ela é levada por homens perigosos para realizar o parto de uma jovem, e recebe a ordem de se livrar da criança. No entanto, naqueles poucos instantes, ela se apega à criança e decide adotá-la apesar dos riscos. Ela dá ao menino o nome de Christopher.
Convencida de que nunca mais verá aquelas pessoas, Lucy se muda, onde conhece Frankie, o irmão de Johnny, com quem se casa. Frankie, que desconhece a origem do menino que adota como filho, está diretamente envolvido com os negócios da família. Lucy, assim como Amie, assume uma postura de mãe e esposa, observando de longe as atividades dos maridos.
Petrina
Já Petrina é a irmã de Frankie e Johnny. Ao contrário das demais, ela nasceu no meio do qual a família faz parte. Apesar disso, nunca teve tanto poder de decisão quanto os irmãos, ou sua mãe Tessa, a matriarca da família. Tessa sempre fez questão de fazer parte dos negócios do marido Gianni, e além disso, comanda as finanças da família cuidadosamente. Assim, Petrina foge para se casar com seu namorado Richard e construir uma família longe daquela casa, viver uma vida diferente da qual está acostumada.
No centro da história, a rica família italiana que vive na Nova York dos anos 1940. As jovens, ao se casarem, tornam-se madrinhas dos filhos umas das outras e passam a viver em um novo mundo, próspero e elegante. A autora em nenhum momento fala explicitamente qual é a atividade criminosa com a qual a família está envolvida, no entanto, com uma sabedoria ao usar as palavras, leva o leitor a compreender perfeitamente do que se trata.
As Madrinhas
Após o casamento de Mário e Filomena (que todos até então conheciam como Rosamaria), o rapaz é convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial, para desgosto de sua mãe Tessa, que acreditava que o casamento impediria a convocação. A morte do pai deixa ainda mais complicado o comando da família.
Uma briga com dois criminosos violentos que terminam na morte de Tessa desestabiliza a família. Mário parte rumo à Europa para lutar na guerra, Johnny fica doente e, para desespero de Lucy, o pai verdadeiro de seu filho adotivo descobre sua existência, e acaba por sequestrar o menino Christopher. Frankie, seu pai adotivo, viaja em busca do menino, fato que pode terminar em um conflito violento.
Petrina enfrenta um divórcio complicado, após Richard e seus sogros concordarem que a presença dela é um problema para o nome da família. Ela e a filha Pippa voltam para a casa da família, onde ela se une às cunhadas para lidar com os riscos que as conexões perigosas trazem a todos.
Agora, com os patriarcas mortos e os homens ausentes, as quatro madrinhas precisam se unir para cuidar de si mesmas, de seus filhos e dos negócios da família. A partir daí, elas não podem mais fazer vista grossa, ou fingirem que não sabem dos negócios ilegais da família.
Agora elas precisam comandar os negócios, assumindo as dívidas e trabalhando com grandes mafiosos, mantendo a si mesmas e seus filhos seguros. No decorrer do tempo, dificuldades e conflitos surgem entre elas, mas o princípio da lealdade familiar permanece forte.
Impressões sobre o livro
“As Poderosas Madrinhas” é uma história contada através de várias gerações. Por isso, uma análise aprofundada de como cada geração da família lida com seus conflitos seria bastante extensa. O diferencial da obra de Camille Aubray é explorar como as mulheres agiam diante do sistema de poder e criminalidade da época.
Em “O Poderoso Chefão”, por exemplo, as personagens Carmela, Kay e Connie Corleone desempenham um papel secundário. Elas, como esposas e irmã dos “chefes da família”, sempre são vistas como um apoio, cuidando da casa e dos filhos.
A função delas é manter a casa em ordem, para garantir que os homens tenham tranquilidade para “trabalhar”. Mas essas personagens, apesar de importantes, não assumem um papel central dentro do mundo do crime e da violência que rodeia a família. Em “As Poderosas Madrinhas”, é o contrário. As mulheres assumem o protagonismo.
Um fato interessante no livro é que, contado pela perspectiva das personagens, elas tentam sempre se manter distantes dos negócios ilegais da família, evitando até falar diretamente no assunto. Mas é impressionante como a autora consegue construir uma atmosfera de violência e tensão enquanto a narrativa se desenrola.
No entanto, chega um momento em que isso se torna inevitável, e elas são obrigadas a admitir que são parte de uma família envolvida com o crime e que precisam lidar com essa situação para se manterem seguras. Uma trajetória de superação, coragem e sobrevivência.
Além disso, o livro retoma outro fato histórico importante, quando várias mulheres tiveram que assumir os postos de trabalho enquanto os homens estavam na guerra. “As Poderosas Madrinhas” é uma obra de ficção, que nos permite entender a vida doméstica das imigrantes italianas dos anos 1940, com uma linguagem simples e histórias comoventes.
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