Quanto tempo pode durar um pesadelo? Muito mais do que você pensa. O livro “Doze horas de terror” de Marcos Rey é um mistério nacional que inclui tudo aquilo que amantes do gênero admiram: perigo, segredos e um romance proibido. 

Obras nacionais ampliam a visão de mundo e fortalecem a conexão com personagens, hábitos e costumes. O livro “Doze Horas de Terror” apresenta a história de um personagem que, inesperadamente, se envolve em um problema familiar relacionado ao tráfico. A narrativa explora as dificuldades de lidar com novas descobertas e enfrentar a violência do mundo do crime.

Logo, o protagonista se vê mergulhado em questões de vida ou morte, problemas familiares, além de ter que confiar em estranhos e se apaixonar por alguém indisponível.

O início

Júlio é um rapaz que passou toda sua vida no pequeno município de Serra Branca, no estado da Paraíba. Quando decide mudar para São Paulo atrás de melhores oportunidades, vai morar com o irmão mais velho, Miguel, que há anos morava na cidade grande. Habituado à independência e à rotina diferente, ele e seu irmão quase não se encontravam, ainda que morassem no mesmo pequeno e modesto apartamento.

Após um mês dividindo apartamento com o irmão, Júlio está voltando do trabalho e encontra o espaço completamente virado do avesso. Imediatamente, pensa que foi assaltado, visto a falta de segurança do bairro. Porém, ao analisar de forma mais cautelosa, percebeu que nada foi levado. A TV continuava, assim como o equipamento de som. Que ladrões eram aqueles que aparentemente não haviam levado nada? 

Em meio às indagações, ele recebe uma ligação. Uma mulher solicita, desesperadamente, que ele saia imediatamente do apartamento, pois corre perigo. Na primeira instância, é claro, ele não acredita, pensando que é trote. Mas, curioso com quem seria aquela mulher misteriosa, o garoto decide encontrá-la na estação de trem.

As reviravoltas durante o caminho

Foto: Editora Ática

É desta forma que Júlio conhece Ruth, a namorada do irmão, com quem compartilha todos os segredos. A garota preenche alguns vazios dentre as tantas perguntas que surgem na cabeça do garoto a respeito do seu irmão e do que aconteceu no pequeno apartamento deles. 

Logo, ela explica que Miguel está envolvido com tráfico e que decidiu desistir dessa vida.  Por isso, roubou 500 mil reais de um grupo de traficantes, com uma caderneta com detalhes íntimos deste grupo.  

Diante disso, Júlio e Ruth se veem enrascados em uma situação perigosa causada por Miguel, que até então está sumido. Portanto, em “Doze horas de terror” eles terão que desvendar o mistério de seu paradeiro, enquanto fogem de pessoas perigosas.

Assim, eles decidem procurar Miguel e começam uma busca arriscada. Tudo isso enquanto Ruth guardava, em uma sacola de pano, estampada com a imagem do Popeye na frente, 500 mil reais. Dentre as aventuras, os jovens visitam lugares médicos clandestinos, festas e pontos de tráfico atrás de Miguel. Além disso, são seguidos por traficantes que deixam pessoas mortas e feridas durante a trajetória.

A hora do pesadelo

Após muitos desencontros, a dupla consegue encontrar Miguel, baleado por um dos traficantes, Geovani, e o levam para o hospital. Após o deixarem lá, eles correm para tentar esconder o dinheiro. 

Em meio a isso, Ludmila, uma ruiva perigosa, aparece no hospital para capturar o irmão mais velho. Entretanto, contando com uma reviravolta digna de filmes de aventura e mistério, Miguel é salvo e Ludmila e Giovani encontram seu fim, cada um à sua maneira.

Consequentemente, Miguel é preso por colaboração com tráfico. Ruth costumava visitá-lo, mas as frequências das visitas diminuem, até serem inexistentes. Isso não parecia algo que incomodava o irmão mais velho, pois ele demonstra, durante a história, pouco caso com a namorada. O que facilita as coisas para Júlio, que logo se vê mais encantado pela moça.

Impressões sobre o livro

— A cidade muda as pessoas. 

— A mim não vai mudar.

 — Você chegou ontem, garoto.

O livro “Doze Horas de Terror” vai além do mistério ao explorar questões sociais do Brasil, um romance fora do convencional e o aprofundamento de seus personagens. Entre os destaques está a evolução de Júlio. Durante as reviravoltas, ele assume uma postura mais firme e decidida. Ao longo da narrativa, o texto aborda de forma sutil as questões pessoais do protagonista, trazendo respostas para seus dilemas.

A relação familiar entre os irmãos também ganha atenção. Apesar de terem personalidades distintas e objetivos opostos, o vínculo afetivo entre eles permanece, evidenciado tanto pela criação compartilhada quanto pelo envolvimento com Ruth.

O romance entre Júlio e Ruth é construído de forma cuidadosa. Inicialmente, Júlio sente uma atração por Ruth, mas esbarra em suas questões morais e, depois, na postura da própria jovem. Com o tempo, o relacionamento deles evolui para algo mais profundo do que um romance tradicional: uma amizade sólida.

Ao longo da história, ambos vão percebendo que esse vínculo poderia se tornar algo mais profundo e sem complicações. Aqui não acontece um triângulo amoroso típico, pois Miguel não é impactado com o surgimento do casal, já que não tinha tanto apreço pela garota. Nesse caso, é livre torcer para o casal não convencional acabar juntos!

A obra amarra o mistério de forma eficiente e bem estruturada. Todas as pontas se conectam, e o desfecho oferece uma conclusão satisfatória ao leitor. Além disso, as reviravoltas ao longo da narrativa intensificam a tensão e prendem a atenção, criando uma conexão direta com os personagens, que também enfrentam a mesma sensação de incerteza.

Por isso, “Doze Horas de Terror“, de Marcos Rey, é uma leitura indispensável para quem aprecia mistérios e aventuras. Ao mesmo tempo, o livro valoriza a escrita e a cultura nacional, proporcionando uma experiência envolvente.

Sobre o autor

Marcos Rey (1925-1999) foi um escritor, roteirista, jornalista e dramaturgo brasileiro. Pseudônimo de Edmundo Donato, nasceu em São Paulo, no dia 17 de fevereiro de 1925. Em 1941, com 16 anos, escreveu seu primeiro conto, “Ninguém Entende Wiu-Li”, que foi publicado na Folha da Manhã. O livro“Doze horas de terror” foi publicado em 1993.