O livro “Mãe Liberté” da escritora Simone Maryam é uma bela narrativa sobre a luta contra a escravidão. Os personagens centrais são Luzia e Simão. Luzia é uma jovem mestiça, filha do advogado abolicionista Dolce Alcântara. Simão é filho do fazendeiro cruel e implacável Emílio Tolte.
Mais do que posse, Emílio odeia os escravos. Nas falas do personagem é possível ver que ele parece desejar que todos os negros desapareçam. Simão tem grande afeto pelo pai, e apesar de não concordar com ele, não o enfrenta durante boa parte do livro. Isso é questionável, no entanto, quantos filhos idealistas realmente se opuseram contra seus pais em uma sociedade escravista?
A história do pai de Luzia, Dolce Alcântara, se assemelha com a de Luís Gama. Em um primeiro momento, ele não aprova a aproximação entre a filha e Simão, temendo que algo aconteça com a moça. Outra personagem que merece destaque é Clarissa. A escrava do senhor Emílio, que parece bastante conformada com seu destino.
Além disso, demonstra grande respeito pelo senhor. Mas em uma vida sem esperança, se conformar não seria uma forma de lidar com a dor? E toda a submissão ao senhor Emílio, não poderia ser uma estratégia para não sofrer maus tratos? A verdade é que só quem viveu uma situação assim pode dizer o que realmente sente uma pessoa escravizada.
O ponto alto da narrativa é quando explode uma revolução, com Simão e Luzia no comando. Os inimigos: os escravagistas, chega o momento de Simão enfrentar o próprio pai, e Luzia reconhecer suas origens, apesar de ter crescido com todo luxo.
Impressões sobre o livro
O livro tem uma linguagem simples e objetiva. A todo tempo traz palavras, frases e tradições que fortalecem a tradição africana e os costumes do povo escravizado. Um acerto é abordar o contexto em que foi aprovada a lei Eusébio de Queiroz, que proibiu o tráfico negreiro em 1850 . Várias obras abordaram a Lei Áurea e outros momentos importantes, portanto o foco na lei Eusébio é positivo.
A relação entre Simão e Luzia poderia ser mais explorada, assim como o vilão Emílio e Dolce Alcântara, uma vez que nessas relações pessoais, ficam evidentes os traços da época. No entanto, Mãe Liberté acerta em mostrar que apesar de todas as dificuldades, o sentimento de liberdade, nunca esteve morto dentro dos escravizados.
Muito pelo contrário, eles sabiam que tinham direito a ela e lutaram para consegui-la. Apesar de muitos cativos não terem vivido até a libertação em 1888, a resistência é admirável e mostra como a sociedade brasileira deve muito a essas pessoas. Reparar o horror da escravidão ao povo negro é nossa obrigação.
Sobre a autora
Simone Maryam nasceu em Salvador, mas quando ela tinha apenas um ano, se mudou para Santo Amaro da Purificação, também na Bahia. Desde muito pequena, manifestou interesse pela poesia. Aos 9 anos, venceu o concurso de poesia do jornal “A Tarde da Bahia”. Fez faculdade de Educação Física e Marketing, assim como Fisioterapia em Utrecht na Holanda.
Após enfrentar um período difícil emocionalmente, Simone encontrou um caminho na psicologia, onde estabeleceu o sentido do que é Puzzle: “Cada pessoa é uma peça única que se encaixa no quebra-cabeça da vida. Buscamos de maneira inconsciente as peças que se encaixam nos nossos propósitos.” A partir daí, a autora criou a proposta de estilo literário Puzzle.
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