Em ‘O cântico de Medusa’, a autora Alexandra Vieira de Almeida escreve 25 contos que, ao longo de suas páginas, tece um intrincado labirinto entre a realidade concreta e a subjetividade. Este livro marca a estreia da autora nos contos e o resultado é uma obra que desafia o leitor a explorar as fronteiras tênues entre o real e o imaginário.

O título sugere uma fascinação com a figura mítica da Medusa, que transforma em pedra aqueles que a encaram. Assim, somos convidados a olhar profundamente para dentro de cada história, sabendo que essa imersão pode nos mudar de maneiras sutis e duradouras.

A subjetividade como território de exploração

A narrativa é densa, rica em detalhes, além de poética. Não a toa, visto que Almeida não deixou de lado a sua poesia já trabalhada no livro ‘A Serenidade do Zero’.

A diversidade temática e estilística mantém a leitura dinâmica e envolvente, com cada história oferecendo uma nova perspectiva. Em alguns contos, observa-se a sexualidade sendo explorada de forma sensível e provocativa, através de narrativas envolventes. Sua abordagem é poética, mas também realista, ao abordar também, por exemplo, a solidão.

A sua escrita é elegante e as narrativas criadas são instigantes e reflexivas. Cada conto é uma pequena joia, lapidada cuidadosamente para revelar diferentes facetas da condição humana.

Em termos gerais, ‘O cântico de Medusa’ explora uma vasta gama de emoções e experiências humanas. Almeida aborda diversas questões com uma sensibilidade singular. A linguagem utilizada é uma prosa que flui como a música, reforçando a ideia de que cada conto é, de fato, um cântico. Além disso, Almeida demonstra uma capacidade ímpar de brincar com as palavras – aqui enxergo muito o lado poetisa. Dessa forma, cada frase é cuidadosamente escolhida para maximizar seu impacto emocional e estético.

Entre mitos e realidade

Uma das características mais marcantes de ‘O cântico de Medusa’ é a habilidade de Almeida em integrar elementos do épico grego com questões contemporâneas. As referências aos mitos não apenas enriquecem a narrativa, mas também criam um paralelo entre as lendas antigas e os desafios modernos.

Deixo claro aqui que não se trata de uma cópia ou paródia dos mitos, mas sim uma reverência ao clássico grego. Podemos observar esses detalhes através dos títulos, da escolha das palavras e através das personagens e cenários. No conto que carrega o título, Almeida traz as referências do mito de Medusa nos pequenos detalhes, ressignificando a lenda.

O livro mantém a sua contemporaneidade abraçando o realismo em que vivemos, com um toque da subjetividade ao resgatar um clássico que nunca desaparecerá.

Um cântico de originalidade e profundidade

No final, ‘O cântico de Medusa’ é mais do que apenas um livro de contos, é uma exploração profunda da condição humana, com referências à mitologia. A autora conseguiu criar uma obra que, embora seja seu primeiro livro de contos, já estabelece um padrão elevado para futuros trabalhos.

Para os leitores que apreciam uma literatura que instiga o pensamento, que nos faz refletir sobre a interação humana, ‘O cântico de Medusa’ é indispensável. É um livro que, a cada nova leitura dos contos, revela algo novo e surpreendente. Desafia-nos a olhar além das aparências e questionar o que realmente sabemos sobre nós mesmos.

Sobre a autora

Foto: Tiberius Drumond
Foto: Tiberius Drumond

Alexandra Vieira de Almeida é professora, poeta, contista, resenhista e ensaísta. Doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Possui experiência acadêmica e literária.

Além disso, ela é membra correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, e detentors do título de Acadêmica Honorária da Litteraria Academiae Lima Barreto. Com uma proeminente carreira como poeta, Almeida já publicou oito livros de poemas, sendo o mais recente ‘A mecânica da palavra’, lançado em 2022 pela Editora Penalux. Seus poemas transcendem fronteiras, sendo traduzidos para diversos países.

Ademais, a escritora se aventurou pela prosa em ‘O cântico de Medusa’, seu primeiro livro nesse formato, demonstrando mais uma vez a versatilidade e talento de Almeida. O livro de contos também foi publicado pela Panelux, que produziu um booktrailer.