Cada vez mais, o protagonismo literário ganha novas formas trazendo para os personagens características reais. No livro “O Patrulheiro Literário”, escrito por Vinicius Lima Costa, o autor explora elementos que mesclam o passado e o presente, com um personagem essencial para a trama: Arquimedes é um bibliotecário com autismo e o único que pode salvar o mundo de “Bela Leitura” a escapar de um caos literário causado por um “Sabotador” de histórias famosas, que com certeza vai trazer lembranças e referências para cada leitor que entrar em contato com a obra. 

Sinopse da obra

Todos os escritores permanecem vivos nas próprias obras para além da existência, mas será que eles vão para algum lugar após deixarem o nosso mundo? A cada quatro meses, um navio atraca no porto de Bela Leitura e dele desembarcam as mentes criativas por trás das histórias que permeiam nosso imaginário desde o início dos tempos.

Com exceção de uma rusga entre vizinhos, afinal Sir Arthur Conan Doyle e Maurice Leblanc talvez nunca cheguem a uma trégua, e algumas festas que saem do controle no bairro do Terror, a paz aparentemente impera nesse universo fantástico, até que uma ameaça surge disposta a destruir o lugar e toda a preciosa literatura produzida por seus habitantes.

Quando várias tentativas de combater o mal que se aproxima se mostram infrutíferas, caberá a Arquimedes, um bibliotecário um tanto nerd, muito fã dos Beatles e dono de uma mente singular, salvar a todos nessa aventura com muitos toques de mistério e ficção cientifica.

Capa do livro "O Patrulheiro Literário" / Divulgação Editora Codal
Capa do livro “O Patrulheiro Literário” / Divulgação Editora Codal

Sobre a história

A cidade de Bela Leitura é um lugar que parece ser realmente encantador. O sonho de todo leitor de ficção e amante de histórias que viajam em diversas eras, atravessam anos. A narrativa encontra uma forma inteligente de trazer nostalgia, música, viagem no tempo e toques especiais de diálogos cômicos de uma maneira que conecta o leitor nos primeiros capítulos. 

Em Literária tudo faz referências a autores e histórias famosas, uma espécie de “céu” literário. 

Todas as histórias vivem nos devidos lugares e seguem os rumos escritos anteriormente pelos escritores, com os finais que nós, meros mortais do “Mundo de Lá” (referência feita na obra para mencionar o mundo em que vivemos), conhecemos muito bem. 

Mas, uma “Conspiração em Literária” começa a roubar a paz dos moradores dessa ilha, ou mundo mágico (pelo menos é como soa para nós, os que amam livros), invadindo as casas e depois as histórias dos autores. Um “Sabotador” jura que irá acabar com a narrativa e desfechos conhecidos das histórias famosas e dominar o mundo de Literária, mas ninguém, até então, sabe como e nem o porquê ele deseja fazer isso. 

Depois de pelo menos três ataques do Sabotador, o caos acontece e toda a cidade começa a ter conhecimento do que vem acontecendo, com as notícias que saem nos jornais. Uma curiosidade: temos Jane Austen como repórter da coluna social. 

A ideia que causa a reviravolta nos planos em Literária

Algumas pessoas começam a ter contato e recebem a visita de um mulher bizarra, com olhos vermelhos na escuridão. Esta informação assunta a todos os moradores de Bela Leitura. 

Diante de tantas invasões, medos e ataques, chega-lhes a ideia e solução: capturar alguém do “Mundo de Lá” para Literária, assim seria possível entender o que está acontecendo e desmascarar o Sabotador, o derrotando. 

E é assim que Arquimedes, um bibliotecário com TEA (transtorno do espectro autista) acaba “caindo de paraquedas” para investigar e enfrentar misteriosas ameaças do tal “Sabotador”. Na verdade, a princípio, ele é simplesmente sequestrado para resolver os problemas em Literária e, apesar de estar ali contra a própria vontade, é muito bem tratado e recebido pelos habitantes daquele mundo, pois acreditam que ele será o salvador de toda a ameaça. 

Além disso tudo, imagine só ter a cafeteria de Agatha Christie como parada obrigatória, mas não sem antes passar na banca de jornal do senhor Charles Dickens e visitar a fazenda das Irmãs Brontë e ainda ter a possibilidade de viver um romance leve, que parecia impossível até então? 

Sobre o bibliotecário Arquimedes, O Patrulheiro Literário 

O personagem é excêntrico e dá o toque necessário para a desenvoltura da história, que arranca risos e é muito divertida em diversos aspectos. O personagem carrega em si uma sinceridade peculiar, que traz para a narrativa aquele tom de humor saudável e que por inúmeros momentos enquanto lemos, pensamos: “eu com certeza pensaria isso, só não diria em voz alta”. E é nesse ponto que ganha nosso coração. A construção do personagem é diferente do costume, no sentido de que ele é visado como um herói, mas tem dificuldades em aprender o que é preciso para derrotar o tal Sabotador, além de levar um tempo para dominar as habilidade e descobri-las. 

Assim, diante de desafios e dificuldades que Arquimedes encontra nos treinamentos, uma nova aptidão vai ser descoberta, que vai mudar o destino trágico que as histórias estão prestes a seguir se nada for feito.

A humanidade do personagem

Com a estadia na cidade mais encantadora, o bibliotecário vai ficar hospedado com um autor que é muito fã: Arthur Conan Doyle, o que anima muito Arquimedes, que ama e quer muito conhecer cada detalhe sobre o personagem que tanto admira: Sherlock Holmes. Mas, a decepção chega quando ele percebe que a versão que mais está presente de Sir. Arthur é que é fanático por fadas e criaturas mágicas, umas forte referência às crenças reais do autor. Essa situação gera muitos diálogos engraçados entre eles. 

Mas o grande fato é que é muito fácil se conectar com os sentimentos do protagonista, que deixa claro os medos e inquietações que carrega para cumprir a missão que lhe é destinada. Além disso, a banda Beatles está muito presente durante a obra, porque Arquimedes adora o quarteto, que também é uma referência que gera inúmeras piadas entre os habitantes da cidade de Bela Literária, com citações como “estes cabeludos da sua camiseta”. 

Imagem divulgação "O Patrulheiro Literário" / Editora Codal
Imagem divulgação “O Patrulheiro Literário” / Editora Codal

A trilha sonora em obras literárias

Muito citada durante toda a obra, a banda favorita de Arquimedes traz uma sensação de mistura de épocas, pois o ambiente em que a história se passa, nos induz a imaginação para um cenário dos séculos XVIII e XIX, com as cores e os prazeres da época, como se sentar na cafeteria de Agatha Christie e viajar no mundo de histórias como “O Morro dos Ventos Uivante”; “Aladim”; “Drácula”, entre muitas outras. 

Muitas das missões, literalmente, sendo guiadas por canções que também incluem Elton John e Scorpions, o que deixa tudo ainda mais envolvente. Para mim, quando obras literárias citam ou fazer referências a músicas (em especial as que eu amo) a conexão fica ainda maior, sem contar que muitas vezes, depois da experiência da leitura, sempre que ouço aquela canção em algum lugar, geralmente falo em voz alta ou penso: “essa música me lembra livro tal”. 

Sensações durante a leitura:

Uma leitura muito leve, tranquila e que nos tira de uma ressaca literária com toda certeza. Além disso, nos rendemos à história logo nas primeiras linhas, que nos instigam a ter muita curiosidade sobre o que está acontecendo, qual vai ser a resolução de todo o mistério. A conexão dos personagens, que, ironicamente, são escritores que conhecemos no mundo de cá, e, agora, têm a chance e inverter os papéis para se tornarem personagens. A narrativa tem um sentimento muito forte de “eu adoraria ter escrito isso de tão bom que é”, além de proporcionar boas risadas e sentimentos de “ai, meu Deus!”.

O autor foge do óbvio, mas mantendo as características das histórias revisitadas durante os capítulos de “O Patrulheiro Literário”, um jeito que conecta o leitor do início ao fim e até nos faz querer reler algumas narrativas citadas, ou, se ainda não teve contato, ler a obra. Os personagens reconstruídos que trazem ainda mais emoção a cada nova aventura (e que são muitas).

O leitor tem realmente um sentimento de acolhimento e empatia durante cada novo momento da história de Arquimedes, pois o protagonista tem muita humanidade nas emoções, fazendo o que muitos de nós certamente faríamos também. Acrescento também que, é incrível ler as mesmas histórias conhecidas em perspectivas diferentes, pois isso dá ainda mais sentido e vida, afinal as narrativas pertencem a todos nós de alguma forma.

Concluímos a história querendo muito mais e a nossa sorte é: esse é apenas o primeiro volume do que promete ser uma trilogia de “Conspiração em Literária”.

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