“Tempo Abstrato“, de Amanda Pickler, explora a angústia diante da incerteza do futuro. A trama envolve temas como descoberta da sexualidade, medo do fracasso, relações familiares e política, entrelaçados com a imprevisibilidade do tempo. O enredo revela como nossas escolhas moldam a vida, convidando o leitor a refletir sobre o impacto das decisões ao longo do tempo.
Embora seja uma leitura ágil, com capítulos curtos, o livro exige atenção e reflexão. Dividido em três partes, “Tempo Abstrato” prende o leitor do começo ao fim. As dores da protagonista geram identificação imediata, tornando impossível não querer descobrir o desfecho de cada capítulo.
O elemento central da narrativa é o tempo e a maneira como lidamos com ele. Amanda Pickler leva o leitor a considerar como problemas que antes pareciam enormes se transformam em poeira à medida que o tempo avança.
Tempo Abstrato (Contém Spoiler)
A história começa com Victória acordando com uma forte dor de cabeça. Ao se olhar no espelho, ela percebe que envelheceu dez anos sem entender como isso aconteceu. Ao se situar, descobre que não está mais em 2012, mas em 2022, onde sua vida tomou rumos inesperados. Agora, Victória é uma escritora de sucesso, com estabilidade financeira, mas os desdobramentos dessa nova realidade a surpreendem.
A Victória de 2022 está casada, mas não com quem ela imaginaria. Para complicar, ela não se identifica mais como hétero, não ama sua esposa, perdeu o contato com os pais e não se lembra de como escreveu seus próprios livros ou se tornou quem é.
Ao longo dos capítulos, Victória vai descobrindo seu passado junto com o leitor, tentando montar um quebra-cabeça que parece sem sentido. As duas versões de Victória — a de 2012 e a de 2022 — são diferentes, mas compartilham a mesma sensação de estar perdida. Enquanto a Victória do passado ainda busca um propósito, a do futuro já se encontrou, mas continua confusa sobre suas escolhas.
A jornada de Victória é também uma exploração sobre como suas escolhas moldaram não só sua vida, mas a daqueles ao seu redor. A narrativa faz o leitor se perguntar: será que Victória seria a mesma pessoa se tivesse feito escolhas diferentes? Sua família seria mais feliz se ela tivesse agido de outra forma?
Quando Victória finalmente começa a entender seu papel na história, uma nova dor de cabeça a transporta de volta para 2012. Agora, ela precisa lidar com tudo o que descobriu sem interferir no futuro daqueles que ama. Ao tentar entender o sentido da vida, Victória percebe como cada momento é essencial para a construção do amanhã.
Impressões sobre o livro
O enredo foca no relacionamento de Victoria com a familia e são tantos conflitos que por momentos parecia que ela jamais seria feliz. Em diversos momentos, ela é vista como culpada por algo que deu errado, quando, na verdade, precisava de compreensão e carinho. O retrato da família de Victória reflete a realidade de muitas famílias ao redor do mundo que não aceitam quem seus filhos realmente são. Amanda Pickler aborda esses temas com sensibilidade, aproximando o leitor dos dramas de Victória.
Um ponto que poderia ter sido mais explorado é a forma como a personagem viaja no tempo. O livro não explica o motivo ou o mecanismo por trás disso, mas a narrativa funciona mesmo sem essa explicação. O final é surpreendente e, ao mesmo tempo em que fecha um ciclo, também consegue ser melancólico e esperançoso.
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