Vox é o livro que escolhi para iniciar o ano. Este é um livro novo, tendo sido lançado pela editora arqueiro a menos de seis meses no Brasil, ele foi escolhido por dois motivos: 1 ele apareceu na lista de melhores livros do ano de vários autores e amigos e 2 ele apareceu na lista de piores livros do ano na lista de vários blogs e amigos. Como vocês podem imaginar essa divisão de opiniões logo me chamou a atenção.

Para quem ainda não conhece Vox acompanha a história de Jean uma neurolinguista famosa que está prestes a encontrar a cura para uma grave doença que atinge o sistema nervoso central a Afasia de Wernick. Entretanto, poucos dias antes da sua grande descoberta o governo decreta algo que seria inimaginável: As mulheres só poderão falar 100 palavras por dia. Este decreto assustador foi a primeira de muitas medidas tomadas pelo governo ultra-conservador que ocupou todo o país.

Eu sempre gostei muito de ficção, livros que falavam sobre utopias, futuros distantes, as consequências inesperadas de tudo que a humanidade estava fazendo no presente. E foi com este pensamento que iniciei a leitura de Vox esperando ser apresentada a esse ” futuro distante”. Minha surpresa foi enorme ao perceber que a utopia de Vox se passa no presente.

Este é para mim um dos pontos mais altos do romance, conseguir mesclar o tom de utopia com a realidade atual. Para isso Christina Dalcher utiliza com muita proeza situações que para nós são cotidianas como o avanço de governos conservadores em todo o mundo, o machismo estrutural de nossa sociedade e até mesmo a noção da escola como sendo o ponto de doutrinação para as crianças e adolescentes.

Jean a personagem principal sofre por ver seu marido e seus filhos envolto neste novo mundo, que diferentemente do que parece não caiu de paraquedas, foi sendo construído aos poucos sob o silencio de todos ridicularizaram os ultraconservadores e daqueles que nunca acreditaram que algo assim poderia ser possível. Jean sofre por ela mesmo, e principalmente por Sônia sua filha caçula que está com quatro anos e já começa a imaginar que a separação social existente agora é natural e que as mulheres devem mesmo ser caladas e submissas.

vox
Contracapa do livro – Arqueiro

A trajetória de Jean é forte e envolvente, afinal é muito fácil imaginar um mundo como o retratado e aqui entra o segundo ponto forte do livro, ao escrever em primeira pessoa a autora conseguiu utilizar a linguagem como uma extensão dos pensamentos e sentimentos da personagem fazendo com que a narrativa por si só transpareça raiva, tristeza ou esperança conforme os fatos são se desenrolando.