O novo sucesso da Netflix, Adolescência entra com o pé na porta no mundo dos red pills e os perigos para as crianças e adolescentes. A minissérie mais assistida da plataforma em 71 países, conta com uma trama sobre misoginia e o uso indiscriminado da internet pelos jovens. Criada por Jack Thorne e Stephen Graham, acompanhamos Jamie Miller (Owen Cooper) acusado de assassinar uma colega da escola.

Gravado em plano sequência, a série conta com quatro episódios e acompanhamos as investigações policiais, a situação da família de Jamie, e a terapeuta infantil. Assim, Adolescência conversa com o público mostrando como são afetadas as pessoas envolta de um crime tão brutal.

Nesse sentido, a série aborda a cultura incel, uma comunidade de homens que se autodenominam como incapazes de ter um relacionamento ou uma vida sexual. Assim, eles incentivam crianças e adolescentes do sexo masculino a culpar e ofender outro grupo de pessoas, sendo minorias ou outros grupos marginalizados.

Adolescência e os perigos da internet

Um dos pontos mais discutidos durante a série, é como a internet é um lugar com muitos ambientes e não conhecemos metade do que ocorre nela. O policial Luke Bascombe (Ashley Walters) busca pelo motivo do porque ocorreu o crime, mas somente com uma conversa com seu filho, Adam, que tudo se esclareceu. Desse modo, Adam apresenta para Bascombe o mundo dos incels e como eles atingem os jovens e como as palavras e emojis são utilizadas pelos grupos.

Com isso, o motivo para o crime parece ser muito maior na visão do policial e mostra como a internet é um local perigoso. Entretanto, senti falta de abordarem mais essa perspectiva para quem está assistindo e deixar ainda mais claro essa cultura dos homens. Nesse seguimento, Adolescência parece ter um medo de se abrir mais sobre isso, mas ajuda a termos uma visão e como os pais precisam estar atentos a tudo.

Sendo assim, a série traz esses elementos com medo das retaliações, mas ainda é um ponto certeiro e não prejudica ao que querem apontar.

Série Adolescência - Pais de Jamie
Imagem: Reprodução

Jamie Miller e a terapia

O melhor episódio é o terceiro, a atuação de Owen Cooper e Erin Doherty são entregues com maestria. Owen mostra a versatilidade de parecer um garoto tímido, que quer a atenção do pai, e depois um menino machista e agressivo. Dessa forma, Cooper apresenta como são esses adolescentes, no primeiro momento são pessoas boas e tranquilas, mas se tudo foge do seu controle, eles expõe a verdadeira face.

Além disso, temos Briony Ariston (Erin Doherty), a terapeuta infantil, em muitos momentos ela não diz nada, porém o seu rosto tem expressões o quão assustada ela está com Jamie. A terapeuta observa como ele faz a transição do dócil para o ódio, e evidencia como a cultura incel está impregnada nele. Erin tem uma das melhores atuações da série, desde as falas como os olhares, além de como ela consegue tirar o garoto do sério, ela não precisa falar coisas absurdas, é só a indiferença já é o bastante para ele.

O terceiro episódio expõe todos os desafios com essa realidade, e como a cultura da internet e dos incels atinge os adolescentes. Os perigos estão na nossa frente, mas precisaremos saber como resolver tudo isso antes que seja tarde. Além disso, mostra como o garoto vê as mulheres, e a posição de poder da terapeuta incomoda o quanto ele se sente impotente.

Realidade dos pais e filhos

“Desculpa, filho. Eu devia ter feito mais.”

Eddie Miller, pai de Jamie

Um dos problemas que mais vemos hoje, é o descontrole das crianças no uso da internet e celulares. Em muitos momentos, os jovens só querem saber de ficar nesse mundo das redes sociais e não vivem o mundo offline. Assim, os pais não conseguem controlar o que os filhos assistem ou com quem conversam, na internet tudo parece permitido e não há um controle para combater. E como a masculinidade tóxica é um dos pontos mais altos dentro desse universo, a regularização da redes sociais passa por isso, pois precisamos saber onde está sendo colocado a atenção dos filhos.

Os pais não conseguem mais ter um controle sobre os filhos, e a cultura incel conversa de maneira fácil com os adolescentes. A disseminação da misoginia é uma realidade maior nesses tempos, e os pais precisam ter uma atenção maior com os filhos. A culpa que Eddie Miller (Stephen Graham) sente, não é só porque seu filho está preso, mas de não ter dado a devida atenção nos principais momentos. Os homens precisam prestar atenção nos filhos, pois o machismo é um dos principais pontos para essa cultura dos incels, então combater essas questões é extremamente importante.

Série Adolescência - Jamie
Imagem: Reprodução

Assista Adolescência

A série tem uma discussão importantíssima sobre o assunto da cultura incel e como ela está incentivando jovens a cometer atos criminosos contra outras pessoas, principalmente minorias. Além disso, é uma forma de observarmos como está sendo a relação de pais e os filhos, e como devemos lidar com isso. Juntamente com isso, a sargento da polícia Misha Frank (Faye Marsay) apresenta um relato bem importante sobre isso:

“Sabe o que tá me incomodando nessa história toda? É que o criminoso sempre se torna o protagonista. a Katie não é importante, o Jamie é. Todos vão se lembrar do Jamie, mas ninguém vai se lembrar dela”.

Misha Frank, sargento da polícia

Essa fala da sargento conversa muito sobre a realidade de hoje, nós estamos mais preocupados com o causador do que com a vítima. E precisamos cuidar das pessoas para que não tenhamos mais vítimas, e que também protejamos nossos jovens dessa cultura incel e da misoginia.