A grande despedida da melhor obra Star Wars já feita

A vitória dos Rebeldes sobre a Estrela da Morte sempre foi um dos feitos mais improváveis do cinema. Afinal, quais eram as chances de um jovem fazendeiro se tornar o maior herói da galáxia enfrentando um império inteiro? Ainda mais improvável, porém, era imaginar que Andor, uma série derivada de um filme derivado, se tornaria uma das produções mais respeitadas e elogiadas do universo Star Wars.

Lançada em 2022, a série Andor estreou com a difícil missão de convencer um público desconfiado e cansado de spin-offs. Contra todas as expectativas, conquistou a crítica e os fãs, tornando-se o projeto mais maduro e bem executado da franquia sob o selo da Disney. Agora, com o lançamento de sua segunda e última temporada, a produção reafirma seu legado como um marco na narrativa da saga espacial.

A nova temporada retoma os eventos um ano após o final da anterior. A trama continua a acompanhar a transformação de Cassian Andor (Diego Luna) em um agente da Aliança Rebelde. Diferente da primeira temporada, que adotava um ritmo mais contínuo, os novos episódios são divididos em blocos com saltos temporais mais amplos, uma escolha ousada, mas eficaz.

Essa mudança na estrutura narrativa, orquestrada por Tony Gilroy e sua equipe de roteiristas, permite que a série explore diferentes tons e perspectivas. Ao invés de seguir uma linha contínua, a temporada apresenta quatro blocos distintos, com histórias e atmosferas próprias. O resultado é uma obra coesa, rica em nuances e com um escopo narrativo ambicioso.

Review | Andor (2ª Temporada)
Imagem: Lucasfilm

Resistência em múltiplas frentes

Nesta nova fase, Cassian Andor já está inserido no lado mais radical da rebelião, atuando sob a orientação do misterioso e calculista Luthen Rael (Stellan Skarsgård). Paralelamente, a senadora Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) segue na frente diplomática, enfrentando dilemas morais e sacrificando sua vida pessoal em nome da causa rebelde.

Apesar de carregar o nome do protagonista, Andor vai além da jornada individual de Cassian. A série se aprofunda nas múltiplas formas de resistência à tirania do Império, destacando personagens que, mesmo em papéis secundários, têm arcos tão relevantes quanto o do protagonista.

Em muitos momentos, Cassian atua mais como observador do que como agente direto da narrativa. Mesmo assim, Diego Luna imprime carisma e humanidade ao personagem, que se torna o fio condutor de uma história marcada por perdas, amadurecimento e sacrifícios inevitáveis.

Review | Andor (2ª Temporada)
Imagem: Lucasfilm

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Tragédia anunciada e peso emocional

É impossível ignorar o destino de Cassian Andor em Rogue One: Uma História Star Wars (2016), onde o personagem encontra um fim heroico. Saber antecipadamente do desfecho poderia diminuir a tensão das cenas, mas o efeito é o oposto, a iminência da tragédia intensifica a carga emocional da jornada. Cada decisão e cada perda são sentidas com ainda mais peso, pois sabemos que o tempo de Andor é limitado.

Essa consciência da morte iminente não impede a construção de um clímax poderoso na segunda temporada. Pelo contrário, impulsiona a série a entregar momentos intensos e impactantes, que culminam em uma conclusão digna para a trajetória iniciada desde o primeiro episódio.

A série também não hesita em mostrar o custo da liberdade. O personagem Luthen Rael, destaque da temporada anterior, retorna como a face mais crua e pragmática da resistência. Ele representa o dilema ético da rebelião: “é possível vencer uma guerra sem se comprometer moralmente?” Skarsgård entrega uma atuação marcante, elevando o personagem a um dos mais complexos do universo Star Wars.

Mon Mothma, por sua vez, é levada ao limite em sua atuação política. Cada decisão que toma a afasta mais da vida que conhecia. A personagem é construída com profundidade, revelando que nem mesmo o caminho diplomático está livre de sacrifícios.

Enquanto isso, o Império se firma como uma força brutal e quase imparável. Em uma subtrama assustadoramente próxima da realidade, o planeta Ghorman se torna alvo de campanhas de desinformação e manipulação midiática por parte das forças imperiais. As referências a conflitos atuais, como os da Ucrânia e Palestina, reforçam a relevância e a atualidade do discurso da série.

Review | Andor (2ª Temporada)
Imagem: Lucasfilm

Um prelúdio com identidade própria

Um dos maiores desafios de Andor era criar tensão e propósito em uma história cujo desfecho já é conhecido. A série, no entanto, supera essa limitação com maestria. Ao invés de depender do clímax de Rogue One ou da explosão da Estrela da Morte em Uma Nova Esperança (1977), ela constrói seu próprio ponto alto, com significado e impacto narrativo autônomo.

A conclusão da série não apenas encerra a trajetória de Cassian com dignidade, mas também recontextualiza eventos futuros de maneira emocionalmente poderosa. Ao final dos episódios, é quase inevitável sentir o desejo de reassistir Rogue One, e esse é, talvez, um dos maiores elogio que um prelúdio pode receber.

Em suas duas temporadas, Andor prova que o universo Star Wars pode ir além da nostalgia e do entretenimento juvenil. A série entrega uma narrativa madura, comprometida com a construção de personagens e com o desenvolvimento de temas políticos e morais relevantes.

Ao transformar um personagem secundário em um símbolo de resistência e humanidade, Andor se estabelece como uma das melhores produções da saga espacial. Mais do que um spin-off, é uma história que enriquece o legado de Star Wars, mostrando que, mesmo em tempos sombrios, a esperança e a luta pela liberdade ainda podem emocionar.