Review | Conan Gray explora vulnerabilidades com synth-pop dos anos 80 em ‘Found Heaven’

‘Found Heaven’, terceiro álbum de estúdio de Conan Gray chegou às plataformas digitais nesta sexta-feira (05). O projeto possui uma pegada de synth-pop com influências dos anos 80 e foi precedido por cinco singles antes de sua estreia oficial. 

O disco conta com 13 faixas e 36 minutos no total. Escute na íntegra a seguir:

Inspirações e vulnerabilidades

Em entrevista, o cantor revelou que a inspiração por trás do álbum surgiu ano passado, durante suas experiências de se apaixonar pela primeira vez, ter seu coração partido e ainda estar em processo de cura. 

“Eu estava me apaixonando pela primeira vez e foi inacreditável. Sou alguém que passou toda a minha vida tentando silenciar minhas emoções e foi a primeira vez que eu estava simplesmente me permitindo sentir tudo. Tudo na minha vida estava se abrindo e florescendo e foi uma felicidade inacreditável. E então, é claro, meu coração foi totalmente destruído e passei os próximos seis meses escrevendo o álbum, o mais deprimido que já estive em toda a minha vida”.

A vulnerabilidade desses sentimentos é explorada de forma mais sensível em faixas como os singles ‘Alley Rose’ e ‘Winner’. Conhecido por ter suas baladas mais sentimentais como ponto forte, Conan consegue destacar mais nitidamente seu trabalho como compositor e habilidades vocais em canções como essas.

Produção synth-pop e influência dos anos 80

No entanto, ‘Found Heaven’ busca retratar essas emoções não somente através de músicas lentas, mas também com faixas animadas e dançantes – com letras nem tão alto-astral assim. Na verdade, esse é o caso da maior parte das faixas da tracklist, que exploram bastante as influências da década de 80, simbolizando a chegada de uma nova era para o artista, que antes trabalhava mais com o pop contemporâneo em seus outros discos. 

Assim, marcada pelo forte uso de sintetizadores, músicas que escalam dramaticamente e instrumentais mais pesados que flertam com o rock eletrônico new wave, a produção é um dos grandes destaques do álbum. Com o icônico produtor Max Martin como um dos principais nomes por trás das faixas ao lado de Greg Kurstin, Shawn Everett, entre outros, a tracklist possui uma sonoplastia coerente, que conversa bem entre si, ornando bem com a proposta do projeto. 

Vale lembrar que, enquanto para muitos essa coerência pode ser um ponto super positivo, para alguns pode soar um tanto quanto repetitivo. Em contrapartida, é justamente isso que faz com que o álbum construa toda uma atmosfera que contribui bastante para a imersão no conceito.

Conan revelou à NME que enxerga seus dois primeiros álbuns como irmãos, enquanto o terceiro é algo totalmente diferente. “Quando eu estava fazendo o álbum, eu ouvia obsessivamente músicas daquela época [anos 80]. Acho também que, por ter sido um momento profundamente emocional, quase me escondi da realidade. Então não ouvi nenhuma música da década de 2020 durante a produção deste álbum”.

Composições e identificação Gen-Z

Porém, talvez o grande diferencial de Conan Gray não seja exatamente a sua sonoridade. Desde os seus dois primeiros álbuns, ‘Kid Crow’ e ‘Superache’, o cantor se estabeleceu como uma das referências em composição da Geração Z, sendo aclamado até mesmo por Elton John. Não por acaso, ele é, inclusive, melhor amigo de Olívia Rodrigo que, apesar de não ter uma sonoridade tão similar, apresenta características parecidas em suas letras e também se tornou uma das maiores fontes de identificação gen-z atualmente. 

Não se trata apenas do clichê de retratar relacionamentos mal-sucedidos em suas músicas. O maior acerto de Conan Gray sempre foi a forma de expressar sentimentos bem específicos com os quais quase todo jovem consegue se identificar através de suas letras. A abordagem de temas que vão desde desilusões amorosas até a ansiedade, medos e traumas por trás de relações familiares certamente tem um peso muito grande em sua identidade musical.

Dessa forma, com vocais mais maduros, composições vulneráveis e produções surpreendentes, ‘Found Heaven‘ se torna possivelmente o melhor trabalho de Conan Gray em sua carreira até o momento.