Ainda não sei aonde tem alegria aqui…

Após o desastroso episódio anterior, Demolidor: Renascido busca redenção com o novo capítulo “Ilha da Alegria” que, em vez de avançar organicamente, aposta em elipses narrativas e saltos de desenvolvimento. O episódio segue a tendência preocupante de desperdiçar personagens promissores e tramas que poderiam enriquecer a história. Como o breve arco do Tigre Branco e a superficial participação de Muse, reduzido a diálogos expositivos de pouca inspiração.

O único elemento que parece ter evoluído é a Força-Tarefa Anti-Vigilantismo, uma das plataformas eleitorais de Wilson Fisk. No entanto, essa evolução não é fruto de uma construção narrativa gradual, mas sim apresentada de forma súbita. Como se os acontecimentos entre a tentativa de assassinato de Heather Glenn, a única terapeuta da cidade, e sua nova dinâmica com Matt Murdock tivessem ocorrido em um piscar de olhos.

Review | Demolidor: Renascido - Ilha da Alegria (Isle of Joy)
Reprodução: Disney+

A Força-Tarefa acaba sendo imposta ao público como um sucesso absoluto, sem que se mostre qualquer trajetória para isso. Em vez de acompanhar seu impacto ao longo da temporada, o roteiro opta por simplesmente declarar sua eficácia por meio de diálogos que reforçam sua aprovação popular e sua influência sobre os vigilantes mascarados. Mesmo considerando a manipulação midiática exercida por Fisk, a ausência de desenvolvimento narrativo compromete a coerência da história. O que vemos é uma sucessão de ideias coladas de maneira apressada, sem atenção ao roteiro ou à construção de personagens.

A volta de Dario Scardapane ao roteiro e da dupla Justin Benson e Aaron Moorhead à direção, pela primeira vez desde o episódio de estreia, revela a existência de uma segunda tentativa de costurar uma nova narrativa a partir de material já gravado. Essa abordagem soa como um reaproveitamento apressado, motivado por questões orçamentárias. O resultado é o retorno do Mercenário da forma mais anticlimática possível. A transformação repentina de Heather em uma defensora de Fisk, e a popularização inexplicável da Força-Tarefa como se fosse a maior invenção nova-iorquina desde o Bloody Mary.

É como se os episódios 2 a 7 tivessem sido enxertos, peças desconexas adaptadas à força para encaixar em uma nova linha narrativa. Embora seja compreensível o desejo de reutilizar material, é inaceitável que isso aconteça às custas da lógica e do respeito ao público. Antes tivessem mantido o rumo original, por mais arriscado que fosse.

LEIA TAMBÉM: Review | Demolidor Renascido – Arte pela Arte (Art for Art’s)

Apesar disso, o episódio tem seus méritos. O retorno de Wilson Fisk ao tradicional terno branco é um bom momento, especialmente após ele e Vanessa resolverem suas diferenças de forma inusitada. Com a execução de Adam, amante da personagem, em uma cena que mistura ironia e brutalidade. O espírito do casal permanece intacto e culmina em uma revelação esperada, Murdock finalmente percebe que Vanessa está por trás do atentado a Foggy. No entanto, essa conclusão soa atrasada dentro da lógica temporal da trama, já que investigações de Cherry ou a super-audição de Murdock poderiam ter antecipado essa descoberta.

Review | Demolidor: Renascido - Ilha da Alegria (Isle of Joy)
Reprodução: Disney+

Outro destaque positivo é a breve cena da dança, que quebra o tom pesado do episódio. Por outro lado, o atentado contra Fisk ainda carece de uma explicação convincente, se for revelado como um plano do próprio vilão, será necessário um argumento bem amarrado para sustentar essa reviravolta.

Com Murdock baleado no ombro, seria coerente que ele permanecesse fora de combate no próximo episódio, considerando especialmente o realismo da série original da Netflix. Porém, diante da tendência atual de abusar das elipses para facilitar resoluções, não surpreende vê-lo completamente recuperado e pronto para vestir o uniforme no episódio final, apenas para atender às expectativas do público.

Por fim, o que realmente preocupa é o possível destino do Espadachim, personagem vivido por Tony Dalton. Após tantos personagens descartados sem cerimônia nesta temporada, seria lamentável ver outro talento desperdiçado. Dalton merece mais espaço no MCU, e sua permanência seria um respiro bem-vindo em meio a uma narrativa tão irregular.