Sem perdão, não pode haver cura real

A série Demolidor: Renascido continua enfrentando os desafios de ter sido concebida sob uma abordagem inicial e, posteriormente, reformulada sem descartar totalmente o material original, Sic Semper Sistema escancara isso. O resultado, uma temporada com características de um “Frankenstein narrativo“, oscilando entre o planejado e o que realmente está sendo exibido. Apesar das dificuldades, a produção não é um fracasso absoluto. Dario Scardapane se esforça para criar uma linha narrativa coesa, mas a inconsistência entre os episódios demonstra a dificuldade dessa unificação.

Um dos aspectos mais interessantes é a abordagem de Matt Murdock como advogado, utilizando suas habilidades com moderação. Essa escolha reforça a viabilidade de uma série focada no lado jurídico do personagem, algo que se destaca positivamente. No entanto, muitos fãs esperam ver o herói uniformizado e em ação, o que pode gerar expectativas conflitantes.

Review | Demolidor: Renascido - Sic Semper Sistema (Sic Semper Systema)
Reprodução: Disney+

O episódio Sic Semper Sistema faz referência à expressão latina sic semper tyrannis, usada em contextos de abuso de poder. A trama inicia lidando com as consequências do assassinato de Hector Ayala, sugerindo uma possível passagem de legado para sua sobrinha Angela del Toro (Camila Rodriguez). Ao mesmo tempo, há uma indicação de que o policial Powell (Hamish Allan-Headley) sendo absolvido devido à percepção aguçada de Murdock, que não detecta alterações em seus batimentos cardíacos.

O desenvolvimento do episódio leva a um encontro entre Demolidor e Justiceiro, com Jon Bernthal reprisando seu papel. No entanto, essa interação não se dá de maneira orgânica, pois Matt Murdock claramente não desconfia de Frank Castle, e a cena parece servir apenas para reintroduzir o personagem na série. A atuação de Bernthal, contudo, continua convincente, reforçando sua postura brutal e implacável.

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O caso pro bono assumido por Murdock, defendendo um morador de rua acusado de furtar pipoca caramelizada, traz um tratamento jurídico e social muito mais interessante do que o julgamento de Hector Ayala no episódio anterior. O roteiro de David Feige e Jesse Wigutow explora de forma eficiente as falhas do sistema judicial. Demonstrando como indivíduos vulneráveis ficam presos em ciclos de injustiça.

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A conexão entre essa abordagem e os problemas burocráticos enfrentados por Wilson Fisk é um dos pontos altos do episódio. O roteiro consegue transmitir uma mensagem clara sobre o funcionamento do sistema, mostrando como até mesmo Fisk, em sua posição de poder, sofre com essas engrenagens. Esse aspecto fortalece a narrativa, provando que Demolidor pode funcionar sem o uniforme vermelho e as sequências de ação tradicionais.

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Apesar dos acertos, o episódio apresenta momentos desnecessários. Exemplo, como a cena em que a sócia de Murdock aparece em um plano geral e contraluz, falando ao telefone e guiando Matt até Leroy. A cena parece ter sido improvisada e prejudica a fluidez da narrativa. Além disso, a ausência de Cherry no episódio mostra como alguns personagens estão sendo, simplesmente, removidos sem explicação, enfraquecendo a construção do universo da série.

A introdução de Adam (Lou Taylor Pucci) finalmente ocorre, trazendo um contraste interessante entre a grandiosidade de um jantar digno do Rei do Crime e a tortura a que Adam está submetido. Esse momento esclarece detalhes importantes, como as feridas nas mãos de Fisk, e insere um elemento psicológico intenso na trama. O relacionamento entre Wilson e Vanessa também ganha camadas mais sombrias, sugerindo que ela tem plena consciência dos acontecimentos envolvendo seu ex-amante.

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A introdução do vilão Muse gera certa apreensão. Nos quadrinhos, o personagem é um inumano. Sua inclusão na série pode desviar o foco dos temas centrais, como corrupção policial e o embate entre as funções públicas e privadas de Wilson Fisk. A esperança é que ele seja inserido de maneira equilibrada, sem se tornar o centro das atenções.

Sic Semper Sistema consegue um equilíbrio melhor entre as duas versões conflitantes de Demolidor: Renascido. Mesmo com dificuldades, o episódio contribui para a progressão da história, preparando o terreno para o retorno do traje vermelho. Agora, resta aguardar os próximos capítulos para ver como essa jornada se desenvolverá.