Nesse novo capítulo que traz de volta um grande conhecido dos Whovians de plantão, chegamos ao terceiro capítulo de Doctor Who, intitulado de “Boom”. O episódio se mostrou como algo que mescla muito bem com essa nova pegada da série e algo que as temporadas Era Moffat sempre apresentavam.
A última vez que vimos Steven Moffat envolvido com Doctor Who foi no especial de natal de 2017 (“Twice Upon a Time“), uma das figuras mais carimbadas da franquia, quer você goste dele ou não. Nesta nova era da série, vemos o antigo showrunner escrevendo um ótimo roteiro que consegue ser a perfeita fusão de sua era liderando o show e esta nova.
O roteiro do terceiro episódio expande os mistérios sobre quem é Ruby Sunday, além de fazer algumas reflexões emocionantes. Porém, mesmo com grandes acertos, o episódio cai numa armadilha fatal e entrega um final muito corrido, numa qualidade de texto que estava crescente. Apesar disso, temos um saldo positivo de um episódio que prometia algo totalmente diferente das preview.
O capitalismo, guerra e o preço da vida
Não começamos com o Doutor e Ruby na TARDIS, mas sim com dois soldados em meio a um cenário totalmente caótico. A história se passa em uma devastadora guerra em Kastarion III, onde o Doutor chega em meio à ação, mas acaba impedido de ajudar ao pisar em uma mina terrestre, ficando impossibilitado de se mover.
Este cenário, muito semelhante ao início de “The Magician’s Apprentice“, foi usado por Moffat para explorar um lado sentimental e filosófico do 15º Doutor que não tinha sido mostrado antes. Assim, “Boom” é um capítulo bem diferente dos anteriores desde “A Fera Estelar“, apesar de seguir as convenções de produção da nova fase. Isso é evidente em dois aspectos técnicos: a edição final e as camadas didáticas do roteiro, que são realmente decepcionantes.
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Ncuti Gatwa mais uma vez brilha em sua interpretação, demonstrando todo o seu vigor sem se movimentar na maior parte do tempo. O roteiro é refinado, e o conceito do Doutor impedido de se mover força a diretora Julie Anne Robinson, que também dirigiu “Bebês do Espaço“, a experimentar com ângulos e planos variados. A direção é bem explorada, mas a edição não aproveita plenamente o material filmado, especialmente após a contagem regressiva da explosão da mina. A partir desse ponto, há uma estranha cadência dos eventos e uma mudança de ritmo que prejudica o desenvolvimento das ideias do texto.
Isso já estava evidente desde o momento em que o Doutor, falando para Ruby, mas visando o espectador. Explicando de forma simplista o que estava em jogo. O texto também oferece uma reflexão geopolítica e econômica sobre a indústria da guerra, imperialismo e a morte, mostrando uma visão próxima a religiões espiritualistas ou politeístas sobre a passagem de um indivíduo para outro plano de existência. É difícil não se emocionar.
No fim, tudo o que temos é fé
A fotografia deste episódio é um dos seus pontos técnicos mais incríveis. Contudo, acompanhada pela trilha sonora de Murray Gold e por um desenho de som impecável, que até faz um toque de chamada telefônica soar elegante. Em “Boom“, Moffat faz uma reflexão sobre a existência humana em tempos de guerra, semelhante ao espírito de “The Doctor Dances“, mas de forma acessível para um público jovem, sem subestimar sua inteligência. Apesar do modelo didático e das escolhas de edição no final do episódio, a verdadeira potência dessa história permanece intacta.
O episódio aborda temas como o legado físico e eletrônico de uma pessoa e a mistura entre fé e guerra, refletindo questões presentes na sociedade contemporânea. Esta abordagem amplia a tônica da Nova Era Doctor Who, especialmente na Era Chibnall, privilegiando temas amplos e relacionáveis. Mesmo com algumas simplificações na trama, a proposta foi atendida de forma quase exemplar. Por fim, é ótimo ter Steven Moffat de volta em Doctor Who, esperamos que retorne mais vezes a essa nova era da série.