Nova série HBO Max reconstrói o assassinato de Rafael Miguel e de seus pais, destacando as cicatrizes deixadas nas vítimas e bastidores da caçada policial

A série documental O Assassinato do Ator Rafael Miguel estreou na HBO Max. Em três episódios, a produção se propõe a recontar um dos crimes mais impactantes dos últimos anos.

A morte do jovem ator, conhecido por seu papel em Chiquititas, e de seus pais, em 2019, comoveu o país. O caso deu início a uma perseguição policial que duraria mais de três anos.

A produção opta por se distanciar do sensacionalismo e oferece um olhar aprofundado sobre o caso, com foco nas consequências emocionais, familiares e judiciais do crime.

Review - Assassinato do Ator Rafael Miguel.
A série destaca o impacto da tragédia | Foto: Reprodução/Instagram

Isabela Tibcherani rompe o silêncio

Um dos principais méritos da série é o espaço concedido a Isabela Tibcherani Matias, filha de Paulo Cupertino e namorada de Rafael à época.

No primeiro episódio, tanto ela quanto a mãe, Vanessa Tibcherani de Camargo, têm a oportunidade de contar o caso sob suas próprias perspectivas. Ambas ficam visivelmente abaladas ao relembrar não só o momento do assassinato, mas também os anos de convivência com Cupertino.

Sua participação não apenas humaniza os desdobramentos do crime. Ela também joga luz sobre o ciclo de violência doméstica e abuso psicológico vivenciado dentro da própria casa.

Ao longo do relato, são revelados episódios inéditos de agressões e o perfil controlador de Cupertino, agora condenado a 98 anos de prisão.

A série ainda expõe que ele mantinha outra família e agredia constantemente Vanessa, chegando a torturá-la por horas e com facas.

Série aposta em abordagem documental para denunciar violências estruturais

A escolha do momento de lançamento não é coincidência: a série foi cuidadosamente planejada para estrear logo após o julgamento de Cupertino, ocorrido em maio de 2025.

A decisão dos criadores de esperar o desfecho judicial evidencia um compromisso com a completude narrativa e evita especulações abertas.

Assim, a produção consegue entregar uma cronologia coesa, que vai do crime ao julgamento, amarrando cada ponto com depoimentos, arquivos inéditos e reconstituições sensíveis.

Sem recorrer a reencenações dramatizadas, O Assassinato do Ator Rafael Miguel prioriza o relato direto dos envolvidos e das autoridades responsáveis pela investigação.

É um retrato sombrio, mas necessário, de um Brasil onde o feminicídio, o controle masculino e a impunidade ainda geram tragédias anunciadas.

A série dá voz às vítimas sobreviventes. Com isso, convida o público a refletir não apenas sobre o crime em si, mas sobre as estruturas que o permitiram.

Imagem de capa: HBO Max/Divulgação