Luffy sempre sonhou em ser o rei dos piratas, e isso, nós que sempre acompanhamos os animes sempre soubemos, mas agora, essa chama foi acesa novamente com o Live-action de One Piece lançado pela Netflix. Antes de começar a minha análise da série, é importante lembrar que One Piece é um dos animes mais populares da história, sendo que foi lançado em 1999. Estamos falando de quase 25 anos de um anime que continua sendo lançado e tem milhões de fãs espalhados pelo mundo.

Dito isso, a missão de trazer para a realidade um anime dessa importância é uma tarefa muito complicada, ainda mais se parar para pensar que outras tentativas de fazer live-action com animes não deram tão certo, vide Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Death Note. Talvez por isso esse projeto tenha sido produzido com tanto cuidado e zelo, a ponto do seu criado, Eiichiro Oda participar ativamente da produção e roteiro. Mas será que será suficiente para fazer uma obra que de fato agrade uma legião de fãs exigentes como os de One Piece? Será que a adaptação conseguirá trazer a emoção e diversão do anime para um live-action?

Agora, para quem vai consumir One Piece pela primeira vez vai ter uma experiência completamente diferente, mas não menos empolgante. Isso porque não é necessário nenhum conhecimento prévio para assistir. A série adapta muito bem todo o começo do anime, a introdução de cada personagem, a origem e a história deles e do One Piece (o tesouro). Essa introdução é importante, e se logo no primeiro episódio acerta tanto, mostra o cuidado que a Netflix teve com a obra.

Animação versus Live-Action. Como se saíram os atores?

Sempre que uma obra de anime é adaptada, um dos maiores problemas é achar um elenco que realmente remeta aos personagens originais. É uma tarefa muito complicada, ainda mais quando falamos de obras em que existem poderes especiais ou condições especiais. Mas nesse quesito One Piece acerta precisamente. A escolha de iñaki godoy para dar vida ao Monkey D. Luffy foi sem sombras de dúvidas uma das mais acertadas. O jovem ator mexicano de 20 anos foi escolhido a dedo para o papel, e encarna uma versão de Luffy muito parecida com a do anime, mas com uma personalidade latina muito interessante.

Outro ator que se encaixa perfeitamente foi Mackenyu Arata, que deu vida a Roronoa Zoro, o Caçador de Piratas, não somente personalidade, mas principalmente pela agilidade nas cenas de ação. Mackenyu é um ator muito versátil, principalmente nas artes marciais, e isso foi muito importante para dar fidelidade as cenas de lutas em que participa. Assim como Emily Rudd entrega uma Nami extremamente convincente e traz para a tela uma versão mais contida da personagem, algo necessário para o arco dramático em que a série aprofunda mais.

Além deles, Raz Skylar, que vive Sanji e Jacob Gibson que vive Usopp, também entregam versões muito convincentes de seus personagens. Outro personagem que ficou bem adaptado foi Koby, que ganhou vida através de Morgan Davies, apesar de eu ter achado ele extremamente contido (diferente dos gritos e espasmos de sua versão no anime). Já Buggy é interpretado por Jeff Ward, e como o primeiro vilão que Luffy enfrenta, consegue agradar bastante.

Mas quem realmente se entrega no papel é McKinley Belcher III como Arlong. Gostei bastante de como a história dele foi adaptada, e principalmente como ele foi um vilão que realmente agiu como tal na série.

One Piece Live Action
Foto: Netflix

Adaptação visual também é impressionante!

Para além do roteiro e das atuações, uma grande preocupação dos fãs seria em como a série seria adaptada visualmente, já que no anime existem exageros visuais bem importantes, principalmente em relação aos golpes e aos visuais diferentes dos personagens. Dessa forma, é importante dizer que a série foi até onde deu, e isso é muito mais do que outras conseguiram entregar. Apesar de em alguns momentos o CGI ficar muito evidente (e até meio tosco), na maior parte da série tudo é muito convincente.

Os golpes de Luffy, por exemplo, estão muito bem-feitos, considerando vários fatores. Além disso, gostei muito mais das cenas que são de dia do que as de noite. As cenas noturnas e as internas tendem a serem mais escuras, para claro, não deixar tão evidente os CGI’s. Por outro lado, as locações são muito bonitas, principalmente o barco Going Marry e o Baratie, que estão acima da média das outras locações.

As cenas gravadas no mar também estão bem agradáveis, um pouco diferente das cenas gravadas na mansão de Kaya, que decepciona um pouco. Mas o grande trunfo fica mesmo para Vila Cocoyasi e Aarlong Park.

Porém, em se tratando da trilha sonora, é um problema recorrente em algumas adaptações, e aqui não é diferente. A falta da música original “We Are” é um pecado. Ela até aparece em forma de música de fundo, porém, da mesma forma que aconteceu em Cavaleiros do Zodíaco, foi somente a melodia e bem ao fundo. Ainda assim, as músicas escolhidas para a série são bem interessantes, algumas remetem bastante as trilhas do anime. Só de não usarem músicas POP já foi um avanço enorme.

one piece juramento
Foto: Reprodução

Adaptação consegue agradar quem já é fã? Quem não é, conseguirá entender?

Para quem não se recorda, One Piece começou a ser lançado em 1999, em uma época em que tanto tecnologia quanto sociedade ainda não estavam no ponto em que estamos hoje. A pergunta que não queria calar é, como condensar tantos episódios do anime em somente oito de um live-action? E a resposta é, se apegando aos detalhes mais importantes. E isso com certeza tem a ver com o fato de Eiichiro Oda estar lá para garantir que o suprassumo do anime fosse transplantado para o roteiro da série. Esse talvez tenha sido um dos pontos que podem gerar mais discórdia, será que o arco foi bem adaptado? A meu ver sim, tudo aquilo que era necessário e importante foi passado para a série. A personalidade dos personagens, suas histórias do antes e do presente, suas ambições, seus medos, a amizade, tudo isso você encontra aqui.

Claro, existem detalhes que precisaram ser alterados, afinal de contas, é impossível fazer exatamente igual, e nem sei se seria necessário fazer. Mas a lição de casa aqui parece ter sido bem-feita, e você consegue entender muito bem cada arco adaptado.

Um dos grandes pontos da história e do roteiro são os flashbacks de cada um dos membros do Chapéu de Palha. Para além de serem importantes para o entendimento da história, eles são fundamentais para o drama da série. Conhecer a história de cada personagem, entender suas origens, suas motivações, é um trunfo importante da direção do Marc Jobst.

Vale a pena assistir?

Por fim, é importante dizer que a série deixa uma margem muito boa para uma continuação, e arcos novos é o que não faltam em One Piece para serem adaptados. Existem alguns detalhes que poderiam ter sido melhor explorados, como por exemplo o Buggy. O personagem, apesar de ter bastante tempo de tela, em vários momentos serve somente como alívio cômico (apesar de ser um palhaço, teria espaço para mais do que isso).

Mas em se tratando de adaptação de um anime tão poderoso e importante, e considerando que essa versão que foi lançada teve o aval e a benção de Eiichiro Oda, seria muita presunção minha dizer que o potencial foi desperdiçado. Precisamos sempre nos lembrar de que nenhum criador quer ver sua obra ser desperdiçada ou mal adaptada. Acredito que dentro da premissa que a Netflix se propôs a série cumpre seu papel, e abre espaço para uma segunda temporada onde os erros cometidos podem ser corrigidos.

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